A jornalista Roberta Garcia lançou na última quarta-feira, 21, o programa Papo de Preta Progressista (3P), lives semanais dedicadas a dar visibilidade a projetos de mulheres negras que concorrem às prefeituras e vagas de vereança nas eleições municipais de 2024. O programa é transmitido ao vivo no Instagram da comunicadora às terças e quartas-feiras, sempre às 20h, e conta com a participação de mulheres negras que estão concorrendo às eleições em diferentes cidades do Brasil.
O 3P surge como uma resposta à necessidade de maior representação de mulheres negras na política. Segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), as mulheres negras representam 80.645 do total de 456.310 candidaturas registradas no país. Ao Mundo Negro, Garcia afirmou que a presença de mulheres negras em cargos políticos tem o potencial de transformar a política brasileira. “A presença de mulheres negras em cargos políticos vai mudar a forma como a política é feita no Brasil, porque a política hoje é feita no Brasil por homens brancos. Sem pluralidade, sem corpos diferentes, sem vivências diferentes, a gente vai continuar sendo lideradas por homens que têm a mesma visão de mundo”, afirma a jornalista.
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Outro dado divulgado recentemente pelo TSE é de que, pela segunda vez, o número de candidatos negros superou o de brancos, somando 52,7%. Mas diante das controversas autodeclarações raciais de pessoas que nunca se reconheceram publicamente como negras e que usam como recurso para obter benefícios eleitorais, Roberta Garcia pontua: “Quando essas pessoas se autodeclaram negras, elas estão negando todos os benefícios que elas tiveram como pessoas brancas, isso é fundamental. Quando interessa ser uma pessoa negra, no sentido de você poder surfar dos benefícios conquistados, você se autodeclara negro. Então, você se autodeclara negro para ter os benefícios conquistados para os negros. E você, como pessoa branca, tem todos os benefícios naturais de ser uma pessoa branca. É um absurdo”, destacou.
“O que antes a gente considerava uma política razoável, no sentido de a gente ter uma proporcionalidade em relação a gênero e raça, hoje essas cotas depois da PEC ficam reduzidas a 30%”, comentou Garcia ao lembrar a aprovação da PEC da Anistia, em agosto, que perdoou multas de partidos políticos que não cumpriram as cotas de gênero e raça nas eleições anteriores.
Ao lembrar como a PEC da Anistia prejudica a presença de pessoas negras e de mulheres na política brasileira, a jornalista lembra o quanto a representatividade, especialmente a de mulheres negras, nesses espaços é necessária: “A base da pirâmide é formada por mulheres negras, então nada mais natural que essas mulheres tenham sua representação e elas tenham de fato políticas que as representem, mulheres na política que as representem, para que os seus anseios sejam levados e de fato as decisões tomadas com base em experiência, em reais necessidades por quem vive, vivenciou ou vivencia essa situação que é ser a base de uma pirâmide, de não ter políticas direcionadas a esse público especificamente. A ausência de políticas para as mulheres negras se justifica pela falta de representatividade dessas mulheres negras na política, nos parlamentos. Então é fundamental e necessária a presença de mulheres negras na política”, reforça.
A jornalista também destaca a importância do engajamento de jovens e novos eleitores no processo eleitoral, apontando que essas gerações trazem uma visão mais flexível e inovadora para a política. “Acho fundamental a presença dos jovens, dos novos eleitores na política, porque eles trazem uma visão de mundo um pouco menos dura e muito mais solta em relação às amarras que nos foram colocadas de acordo com a nossa vivência, os limites que são impostos na vivência de cada um. acredito muito nesse sangue novo porque ele também está ligado à nova forma de se comunicar. De se fazer e deixar para trás modelos antigos, estruturas rígidas que são muito difíceis de serem quebradas por gerações mais antigas”, finaliza.
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