Na mais recente obra da escritora haitiana-americana Ibi Zoboi, “Nigeria Jones”, publicada no Brasil pela editora HarperCollins, temas como feminismo, dinâmicas familiares complexas e a importância da ancestralidade são explorados com profundidade.
O livro acompanha a jornada de Nigeria Jones, uma jovem criada em um grupo separatista e antissistema, cujo mundo desmorona quando sua mãe, a matriarca do grupo, decide ir embora. Em uma entrevista exclusiva para o Mundo Negro, Ibi Zoboi revela como suas experiências pessoais influenciaram na criação de sua obra e destaca a relevância das temáticas abordadas.
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“Como muitos jovens universitários, eu procurava por espaços que me ensinassem minha verdadeira história, já que não a aprendi na escola. Esses espaços se concentravam no desenvolvimento pessoal, saúde, cultura e história. Eles não eram perfeitos, mas foi aí que entendi que posso ter a liberdade de viver a vida que desejo.”, contou Zoboi.
Mundo Negro: Houve algum evento ou experiência pessoal que influenciou a criação desta história?
Ibi Zoboi: Sim, eu tenho uma experiência pessoal com espaços radicais negros. Como muitos jovens universitários, eu procurava por espaços que me ensinassem minha verdadeira história, já que não a aprendi na escola. Esses espaços se concentravam no desenvolvimento pessoal, saúde, cultura e história. Eles não eram perfeitos, mas foi aí que entendi que posso ter a liberdade de viver a vida que desejo.
MN: “Nigeria Jones” aborda temas profundos como feminismo, dinâmicas familiares e ancestralidade. Qual é a principal mensagem que você deseja transmitir aos seus leitores, especialmente aos jovens leitores negros?
Zoboi: Quero que todos os leitores entendam que é necessário remixar os valores com os quais você foi criado se eles são prejudiciais para você, mesmo que tenham sido úteis para os outros. O pai de Nigeria acredita que tem todas as respostas para ajudar os negros a serem livres, mas Nigeria não se sente livre. Ela teve que desaprender algumas coisas que seu pai lhe ensinou para descobrir o que é verdadeiro para ela. Só você sabe o que é melhor para você, mesmo que tenha uma família amorosa tentando guiá-lo na direção certa.
MN: Como você vê a importância de explorar e se conectar com a ancestralidade na busca pela libertação e identidade pessoal?
Zoboi: Conectar-se com a ancestralidade é tão importante quanto conectar-se com a história. A história não é nada sem as pessoas que a fazem. Essas pessoas também foram nossos avós e bisavós. Honrá-los é honrar a história.
Folha: A protagonista Nigeria Jones passa por uma jornada intensa de autodescoberta e transformação. Como você desenvolveu essa personagem e sua evolução ao longo da história?
MN: A história de Nigeria também é minha própria história de evolução. Eu cresci em um lar de imigrantes rigoroso. Tive que forjar meu próprio caminho para me tornar a pessoa que sou hoje. Minha mãe queria que eu vivesse o sonho americano. Mas na história de Nigeria, seu pai quer que ela evite o sonho americano. Ambas crescemos em comunidades que nos protegeram do mundo exterior. Ambas estávamos indo contra os desejos de nossos pais. Tive que recorrer às minhas próprias experiências e às experiências dos jovens que conheço para contar a história dela. Todos nós passamos por essa jornada.
MN: O livro retrata um aspecto pouco discutido da cultura afro-americana. Como você acredita que essa representação pode impactar os leitores, tanto nos EUA quanto no Brasil?
Zoboi: Existem comunidades negras em todo o mundo que abraçam sua história e cultura. Quero visitar a Bahia, onde existem tradições que conectam o povo do Brasil ao povo da Nigéria, por exemplo. Temos comunidades semelhantes nos EUA. Nem tudo foi perdido durante a escravidão. Nem tudo foi tirado de nós. Algumas pessoas estão trabalhando duro para preservar a cultura e, às vezes, elas erram. Mas vale a pena documentar para que os leitores saibam que os negros são multifacetados.
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