Por décadas, os padrões de beleza difundidos pela mídia e pela indústria da moda privilegiaram traços eurocêntricos, deixando muitas pessoas negras à margem, sem se sentirem representadas ou valorizadas. Essa marginalização estética teve impactos significativos na autoestima e no bem-estar emocional de alguns indivíduos, contribuindo para uma percepção distorcida de si mesmos e para a internalização de ideais inatingíveis de beleza.
Nesse cenário de mudança e reconhecimento, com mais de uma década de experiência dedicada ao cuidado da pele preta, a biomédica esteta Jéssica Magalhães, especialista em Gestão pela Qualidade e Gerenciamento de Risco em Saúde, é uma voz ativa na promoção da diversidade e na valorização dos traços negróides.
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Ao longo de sua carreira, a biomédica tem defendido uma abordagem inclusiva e sensível aos cuidados estéticos, reconhecendo e respeitando as especificidades do povo preto. Em suas palavras, “valorizar os nossos traços negros é resgatar a força que vem de saber quem somos, de celebrar nossa origem e dos povos grandiosos que deram origem à miscigenação brasileira”, pontua.
Jéssica destaca a importância de compreender as características únicas da pele negra e os cuidados necessários para evitar danos durante os procedimentos estéticos. Ela enfatiza também a necessidade de respeitar a identidade e individualidade de cada pessoa, reconhecendo a dor histórica de ter seus traços apontados como feios ou errados.
“Poderia citar primeiramente o respeito à ancestralidade, mas a dor mais latente é a de ter todos os seus traços apontados como feios, errados. A atuação com pessoas negras é ainda mais profunda porque nossa identidade foi roubada há séculos e ainda sofremos com a ausência de reconhecimento como pessoas capazes, inteligentes e belas. A estética então transcende o toque na pele e chega à alma, reparando cicatrizes muito antigas e que são intimamente relacionadas com a maneira como nos vemos no mundo, como indivíduo. Nunca será apenas sobre realizar procedimentos”, explica Jéssica.
A especialista acredita que os procedimentos estéticos podem ser uma ferramenta poderosa para promover a autoestima e a confiança das pessoas negras, desde que realizados de forma personalizada e respeitosa.
No entanto, reconhece os desafios enfrentados ao trabalhar com corpos negros em procedimentos estéticos. A falta de estudos específicos sobre cuidados com essa pele especificamente e a persistência de estereótipos são obstáculos que exigem uma abordagem cuidadosa e comprometida. “A prática clínica, prática de atendimento, acaba trazendo o conhecimento que falta nos artigos”.
Jéssica destaca a importância da conscientização e educação dos profissionais sobre a diversidade de corpos e a importância de valorizar a beleza natural das pessoas negras. Para a doutora, é fundamental que os especialistas compreendam que a estética não deve impor padrões, mas sim celebrar a diversidade e promover a aceitação de todas as formas de beleza. “É entender a estrutura de cada um e realizar conforme é necessário em cada situação. Assim é que temos procedimentos personalizados: feitos de uma forma única para a necessidade real de cada um. Se a atuação for desta forma, vai respeitar as características negras ao invés de transformar a todos em um rosto de mesmo formato”.
Em um mundo que muitas vezes tenta padronizar a beleza, profissionais como Jéssica Magalhães destacam-se como defensores da diversidade e da inclusão. Sua abordagem sensível e comprometida ressalta a importância de reconhecer e valorizar a estética negra em sua autenticidade, promovendo uma maior representatividade e empoderamento para indivíduos negros em todos os aspectos da vida. “Não basta ser um injetor, um reprodutor de protocolo pronto. É preciso estudar, compreender e assim ter a conduta que é correta: estética para aumentar autoestima e não para aprisionar em moldes”, conclui.
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