Embora tenha ficado estável em relação a 2018, sem grandes perdas, o Brasil tem dados preocupantes: está bem abaixo da média da OCDE.
O Brasil reduziu a desigualdade educacional em matemática nos últimos quatro anos. A distância de desempenho entre ricos e pobres se deve, no entanto, a uma piora no desempenho dos estudantes mais ricos.
Esses são os primeiros resultados de uma avaliação internacional que permite comparar o impacto da pandemia, e do fechamento de escolas, no aprendizado dos alunos em diferentes locais do mundo.
Na superfície, pouco mudou: os dados parecem mostrar uma irritante estabilidade. Dentre os 81 países participantes do Pisa, avaliação internacional de educação cujos dados da edição de 2022 foram divulgados hoje (05/12), o Brasil segue entre aqueles de pior desempenho. 73% dos estudantes brasileiros de 15 anos de idade que fizeram o teste não seriam capazes de converter preços em moedas diferentes a partir de uma taxa cambial, segundo a OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), que atualmente aplica a prova em seus 38 países membros e outros 43, entre eles o Brasil. Resultados tão tristes quanto conhecidos. Caímos alguns pontos em relação a 2018 (5 pontos em Matemática, mais ou menos equivalentes a 3 meses de aprendizado), mas a diferença não é estatisticamente significativa – em termos de tendência, seguimos estagnados há praticamente dez anos, e não só em Matemática, mas em Leitura e Ciências também, que são os demais campos do conhecimento avaliados pelo PISA( Programa Internacional de Avaliação de Estudantes).
Como mencionei em uma entrevista recente, “essa avaliação mostra que o Brasil tinha resultados tão ruins antes da pandemia, que quase não teve impacto na nota dos estudantes mais vulneráveis nesta nova edição, isto aponta que nosso sistema educacional está precarizado há tempo e apesar do completo descaso com a educação pelos governantes, é perceptível reações em algumas esferas estaduais e dos municipais, com trabalhos desenvolvidos por organizações e consórcios educacionais”.
Ainda sobre os dados, podemos ter uma leve sensação de que as coisas aos poucos estão menos piores do que imaginamos, já que outros países tiveram quedas mais acentuadas e recomendações mais rígidas, não podemos flexibilizar o ensino de matemática, ou deixar de investir na formação de bons professores, já que a carreira não é atrativa pelas más condições de trabalho e salários baixos.
“Embora seja evidente que alguns países e economias têm desempenho muito bom na educação, o quadro geral é mais preocupante. Em mais de duas décadas de testes globais do Pisa, a pontuação média não mudou drasticamente entre avaliações consecutivas. Mas este ciclo viu uma queda sem precedentes no desempenho”, diz o relatório.
Apesar dos dados serem recentes e não conseguirmos ter esse recorte, sabemos que: ausência ou distância de uma escola; falta de vaga; e baixa oferta de ensino de qualidade, afetam diretamente as famílias mais pobres, compostas por estudantes negros e indígenas que são, historicamente, mais vulnerabilizadas no Brasil e essa desigualdade no acesso à educação infantil privilegia alguns grupos em detrimento de outros,é papel do poder público garantir atendimento pleno e de qualidade a todas os estudantes.
Para Bianca Dantas, professora e responsável pelos conteúdos da plataforma e do chatbot AprendiZAP, “Negligenciar o acesso à educação de qualidade impede que os estudantes cheguem mais preparados para o Ensino Superior ou mercado de trabalho, é preciso observar todos os pontos que a avaliação nos deixou e interferir no seu processo imediatamente. Quanto antes inserimos novas formas de aprendizagem às crianças no ambiente escolar, maiores são as chances delas permanecerem e termos números mais significativos nos próximos anos”, afirma a professora.