O Novembro Negro de 2023 foi um com os menonres investimentos em projetos da comunidade negra dos últimos anos. O mundo pós – George Floyd que parecia uma nova era onde não se precisaria explicar o óbvio sobre comunidade negra e dinheiro, voltou ao velho normal.
Projetos tradicionais não aconteceram por falta de investimentos, como um evento no tradicional espaço Aparelha Luzia que fica em São Paulo, cidade mais rica do país.
Eventos da programação do Salvador Capital Afro, sofreram com a falta de apoio de marcas que têm produtos para pessoas negras e se dizem inclusivas.
Será que é um reflexo de um ano difícil? A resposta está quando olhamos para campanhas feitas nos meses das mulheres e comunidade LGBTQI+. Há algumas teorias sobre o que anda acontecendo entre comunidade negra e as marcas.
“Infelizmente, a ‘Primavera Preta’ passou, e as marcas estão segurando cada vez mais a verba para ações afrocentradas. Este ano, vários projetos foram para as ruas sem patrocínio, inclusive aqueles realizados fora do eixo Rio-São Paulo, enfrentando dificuldades ampliadas pelo racismo e xenofobia. No entanto, os discursos de diversidade de empresas e agências ainda são usados em revistas de publicidade e palcos”, alfineta Julio Beltrão, Diretor artístico na Music2/Mynd.
“O Novembro Negro não foi como esperávamos comercialmente. Acredito que fatores como distrações da atualidade podem ter contribuído para a diminuição de jobs para os nossos criadores negros. Essa observação para mim destaca a importância de uma reavaliação e revitalização por parte de marcas e instituições, envolvendo ativamente pessoas negras para garantir e defender a importância da data”, acredita Allex Hios, Executivo de contas pleno da Brunch.
Ricardo Silvestre, CEO da Black Influence, agência com foco em creators negros, também dissertou sobre o tema em uma postagem nas redes sociais. “As tentativas são inúmeras, mas falta intencionalidade em de fato fazer parte da transformação da indústria”, disse o empresário que ainda lembrou que a comunidade negra brasileira movimenta anualmente quase 2 trilhões de reais.
Para Simone Bispo, publicitária e diretora de comunicação do coletivo “Publicitários Negros”, a crise econômica não explica esse apagão publicitário dentro do Novembro Negro. “Existe uma questão de crise econômica, porém o racismo faz com que nós, pessoas negras, tanto enquanto influenciadores, criadores de conteúdo e profissionais, sejamos os que mais eles preferem cortar. Faz só um postzinho e tá tudo certo. Quando existem demissões em massa, quem são as primeiras pessoas a serem cortadas? As pessoas negras. Então eu acredito que a ligação das duas coisas, mas ela deixa o racismo muito evidente”.
“Sim, as marcas realmente reduziram o Novembro Negro. Existe uma redução da pressão social sobre a questão racial a partir da eleição do novo governo. Com essa diminuição dessa pressão social, as marcas se sentiram menos pressionadas a continuar investindo e os antigos comportamentos voltaram a acontecer. Então, você tem um ano com projetos relevantes que não tiveram apoio ou tiveram apoio bem menor. Sim, tem a questão de crise, etc., mas mesmo assim, é visível que é uma escolha porque outros projetos ‘não-negros’, ainda tiveram grandes investimentos”, analisa Felippe Guerra , CEO da Brasis Mídia.
Será que as marcas estão tendo mais medo de se associar às pautas negras? Para Patrícia Carneiro, publicitária, planner e estrategista de marcas e pesquisadora de narrativas emergentes, esse seria um dos diagnósticos de um Novembro Negro tão ruim. “Eu acho que a minha visão é que o tema novembro negro está gerando medo, medo nos posicionamentos. Tem um sentimento das pessoas brancas no Brasil de que a causa negra está tomando uma proporção muito grande e que as pessoas podem se sentir muito empoderadas e que daí não vai ser legal”. E ela finaliza: “E vou te dizer o porquê do medo, porque a geração Z é diferente da nossa geração que demonstrava menos as insatisfações. Então hoje eu vejo que as marcas sentem que novembro negro é um tema polêmico, é um tema sensível, então para que eu vou investir para fazer ação de marca e ser cancelado ou ter o meu discurso e a prática confrontados na realidade. Então vou me retrair e não vou tocar nesse tema”.
Imagine se a comunidade que movimenta trilhões de reais por ano, fizesse a opção de comprar apenas de marcas quem investem em projetos negros? Quem sobreviveria no mercado?