“Revolta
há revoada de pássaros
sussurro, sussurro:
‘é amanhã, é amanhã.
Mahin falou, é amanha’
Com trechos do poema da escritora Miriam Alves, construo a imagem que traduz o espetáculo teatral “Luiza Mahin… Eu ainda continuo aqui”. O texto denso da peça foi escrito por Márcia Santos.
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Quando assistimos o trabalho do grupo Quintal das Artes – Cultura e Entretenimento (RJ) percebemos o esforço em resgatar a imagem mítica e libertadora de Luiza Mahin sob uma perspectiva de ser mãe, com atrizes que desempenham com muito brilho: Cyda Moreno, Marcia Santos, Tais Alves, Márcia do Valle e o jovem Jonathan Fontella.
O espetáculo tem música e efeitos sonoros conduzidos por Regina Café que são dignos de destaque pela beleza e delicadeza.
Luiza Mahin é lembrada na cultura negra brasileira como exemplo de resistência e determinação, sendo homenageada em músicas, poemas e na literatura de cordel. Em 2002, sua história foi retratada pelo Bloco Afro Ilê Aiyê. Foi inscrita no Panteão da Pátria dos Heróis Nacionais.
Na carta escrita por seu filho Luiz Gama a Lúcio Mendonça (1880) ele diz que Luiza Mahin recusou o batismo cristão. Pagã, uma quitandeira de espírito livre e rebelde, envolvida na Revolta dos Malês de 1835 e da Sabinada de 1837 na Bahia.
A atriz Cyda Moreno, que representa Luiza Mahin, é o elo entre as dores e vitórias da ancestralidade e o duro e tenebroso mundo contemporâneo. Luiza teve o seu filho, Luiz Gama, vendido como escravo, aos 10 anos de idade, pelo próprio pai, por uma dívida de jogo. Uma dor de perder um filho, o mesmo luto de mães que têm o seu filho assassinado. Há um grito de impotência e incapacidade sobre-humana de ser mãe e não conseguir pressentir a desgraça que pode se abater sobre a juventude negra.
A dramaturgia realizada por estas mulheres negras traz um forte discurso contra o papel do Estado, das forças policiais e a insensibilidade dos políticos que ignoram sistematicamente as estatísticas de dor e sofrimento dessas mães negras que vêm desde Luiza Mahin até os nossos dias.
O espetáculo traz as vozes das mães enlutadas, revoltadas, com muita vontade de continuar vivendo, alertando e chamando atenção sobre a necessidade de as ouvirmos. São milhares que todos os dias choram e encontraram na peça um canal de expressão.
Há espetáculos que precisam ser vistos por conta dos atores, da força do texto, pelos efeitos sonoros. Ele precisa ser visto e revisto por muita gente. A peça está sendo representada no teatro do Sesc de Santo André, na Grande ABC em São Paulo. Um espaço nobre e belo que pode acolher muitas mães e jovens.
Serviço
Luiza Mahin… Eu Ainda Continuo Aqui
De 3 a 24/11, sextas, das 20h às 21h
De 4 a 25/11, sábados, das 19h às 20h
Teatro Sesc Santo André
Não recomendado para menores de 14 anos – Autoclassificação
Ingresso – R$40,00 / R$20,00 / R$12,00 (Clique aqui!)
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