Numa dessas noites quentes de São Paulo, assisti a uma peça de teatro: Samba da Paulicéia e sua gente. Um belo espetáculo dessa brava gente da dramaturgia paulista.
O espetáculo percorre a trajetória musical de grandes sambistas do século XX, como Geraldo Filme, Talismã, Paulo Vanzolini e Adoniran Barbosa. E temos a grata, grande e maravilhosa surpresa da homenagem a um ícone da cultura paulista: Aldo Bueno.
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É raro termos uma homenagem a artistas negros em vida, mas quando Aldo entra no palco, ele traz a história de vida dedicada à arte no século XX. É difícil não se impactar ao ver aquele homem gigante, de setenta e três anos, que nos alegrou, entristeceu, emocionou e nos despertou para as causas de liberdade e democracia com seu trabalho no cinema, na música, teatro e televisão.
Aldo começou a fazer teatro a partir de 1972, em espetáculos marcantes nos palcos nacionais como: “Bonitinha, Mas Ordinária”; “Arena Conta Zumbi” e “Ópera do Malandro” de Chico Buarque de Holanda. Obras que fazem parte do cenário nacional como inesquecíveis. Aldo esteve lá.
Compositor e intérprete da Escola de Samba Vai Vai, participou de muitos filmes, entre eles “Doramundo”; “Os Amantes da Chuva”; “O Homem que Virou Suco”; “Eles Não Usam Black-Tie”; “A Próxima Vítima”, com o qual ganhou prêmio de melhor ator no Festival de Cinema de Gramado.
A Companhia Coisas Nossas de Teatro acertou em cheio com o resgate da figura de Aldo Bueno, que participa e ilumina o espetáculo com seu canto e sua representação.
Em uma localidade imaginária chamada de Vila Primavera, convivem homens e mulheres que vivem e moram à margem da sociedade e serão despejados em nome da modernização urbana da fria cidade de São Paulo.
Na figura de uma mulher negra, Madrinha, muito bem interpretada pela atriz Carlota Joaquina, os moradores recorrem para saber o que fazer diante da dura situação. Como matriarca daquela comunidade ela serve de inspiração, resiliência e memória. Com músicos como Ildo Rogério Alves, representante das rodas de choro da cidade que engrandece sobremaneira a atuação dos artistas.
Um dos sambistas que recebem destaque na peça de teatro é Geraldo Filme com o seu famoso samba: Silêncio no Bexiga.
“Silêncio o sambista está dormindo
Ele foi, mas foi sorrindo
A notícia chegou quando anoiteceu
Escolas eu peço o silêncio de um minuto
O Bexiga está de luto
O apito de Pato n’água emudeceu
Partiu
Não tem placa de bronze
Não fica na história
Sambista de rua morre sem glória
Depois de tanta alegria que ele nos deu
Assim
Um fato repete de novo
Sambista de rua, artista do povo
E é mais um que foi sem dizer adeus”
Um samba que sintetiza a história de muitos sambistas anônimos, que ficaram na memória das escolas de samba de São Paulo.
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