A escola de educação Infantil EMEI Monteiro Lobato, localizada no bairro de Higienópolis, no Cento de São Paulo, está organizando um ato em defesa das crianças, famílias e funcionários, em frente a instituição para o dia 22 de junho em repúdio aos ataques racistas e ameaças pichadas nos postes ao redor da escola. A mobilização incluirá uma caminhada, a limpeza das pichações e a leitura do manifesto.
No último dia 10, postes ao redor da EMEI Monteiro Lobato foram pichados com mensagens de ódio, com frases como “viva voz é coisa de macaco” e “música, se eu escolho você morre”. A diretora da instituição registrou um boletim de ocorrência. Maria Cláudia Fernandes revelou à Folha de S. Paulo que, após o incidente, uma viatura da GCM (Guarda Civil Metropolitana) foi designada para garantir a segurança da escola durante o período de aulas. No entanto, a origem do ataque ainda permanece obscura: “Não temos clareza sobre quem está por trás dessas agressões”, disse Fernandes.
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Na tarde desta quarta-feira, 21, o Mundo Negro teve acesso ao manifesto emitido pela escola, em que a equipe reitera seu posicionamento “frente aos constantes ataques ao projeto político pedagógico da unidade escolar”. O manifesto também destaca a importância do currículo antirracista adotado pela instituição com base na Lei 10.639/2003, que institui o ensino da cultura africana e afro-brasileira nas escolas. O texto diz que a EMEI “afirma seu compromisso com as diretrizes do Currículo da Cidade – Educação Infantil (2019) e sua responsabilidade com uma Educação Pública de qualidade, ancorada em três conceitos orientadores da Educação Infantil: Educação Integral, Equidade e Educação Inclusiva, atuando de forma intransigente por uma Educação Antirracista”.
A escola afirma no manifesto que encaminhou B.O para a Diretoria Regional do Ipiranga, acionando o Comitê de Proteção Escolar, além disso, a equipe também convocou uma reunião extraordinária do Conselho Escolar que decidiu pelo Ato Público, em que será realizada a limpeza dos postes, a leitura do manifesto e uma caminhada pela paz ao redor do EMEI.
O conselho da escola ainda emitiu uma nota de repúdio à resposta da Secretaria Municipal de Educação, que respondeu em entrevista à Folha que ainda não havia provas concretas de que as pichações foram direcionadas especificamente à escola, mesmo com mensagens como “Escola sem educação, escola sem respeito, escola sem noção” e “pedagogia da violência”.
“Entendemos que a declaração de que “não há provas de que as pichações foram direcionadas à escola” só pode ter partido de alguém desconectado do ambiente escolar e da geografia do local”, afirma a nota do conselho. “Há quase 72 anos nossa escola atende moradores do bairro e trabalhadores da região e ficamos extremamente decepcionados com a postura da SME. Entendemos a falta de apoio como uma grave ameaça ao ensino público como um todo, mas também ao ensino público dentro de um bairro nobre, que, na opinião deste Conselho, deveria ser mantido e incentivado pela Secretaria, como garantia de educação de qualidade para todas as crianças, independente de sua classe social, raça, credo ou orientação”, reforçava outro trecho.
A diretora Maria Cláudia Fernandes destacou que a unidade escolar tem sido alvo de ataques virtuais desde 2018, quando começaram as intimidações após a divulgação de um vídeo que questionava a abordagem de temas como equidade de gênero em sala de aula. O vídeo em questão foi produzido e compartilhado nas redes sociais pelo pai de um dos alunos.
No ano passado, Fernandes denunciou as ameaças à Comissão de Educação, Cultura e Esportes da Câmara Municipal, relatando ter recebido “ameaças por telefone, denúncia e visita da polícia civil à unidade e denúncia na Ouvidoria Nacional dos Direitos Humanos”. Os atos racistas recentes ampliam a preocupação em relação à segurança e ao ambiente escolar para toda a comunidade envolvida.
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