Texto: Ricardo Corrêa
Nós o conheceremos então pelo que ele era e é – um príncipe, nosso próprio príncipe negro e brilhante, que não hesitou em morrer, porque nos amou tanto.
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Malcolm x foi um notável revolucionário nascido no século vinte, especificamente, no dia 19 de maio de 1925, em Nebraska, EUA. As suas ideias continuam sendo necessárias para a luta do povo negro, mesmo após mais de cinquenta anos de seu assassinato. Passou por uma infância que não foi diferente do que acontece com maioria da população negra, ou seja, caracterizada por tragédias, sofrimentos e obstáculos decorrentes do racismo e capitalismo. Os pais de Malcolm X, Earl Little e Louise Little, eram seguidores do ativista jamaicano e importante nome do pan-africanismo Marcus Garvey. Isso o influenciou no incondicional amor pelo povo negro e a maneira com que construiu a luta contra a supremacia branca dos Estados Unidos. Ele até comentava que as reuniões conduzidas pelo pai na Universal Negro Improvement Association – UNIA (Associação Universal pelo Progresso dos Negros, em tradução livre) terminavam com as seguintes palavras “De pé, raça poderosa, você pode conseguir o que quiser.” Imagine uma criança ouvindo frequentemente essas palavras, o impacto só poderia ser positivo na autoestima.
Earl Little foi supostamente assassinado pelos supremacistas brancos quando Malcolm ainda era muito jovem. Depois dessa tragédia, Louise Little apresentou transtornos mentais e acabou sendo internada num hospital psiquiátrico, permanecendo nesse local por vinte e seis anos. Diante dessas ausências, Malcolm X afundou-se no submundo do Harlem. Teve contato com drogas, praticou furtos, jogatinas, etc., daí não tardou para ser encarcerado. Amargou por seis anos a prisão, acusado de posse ilegal de arma, furto e arrombamento. Após sair da cadeia, abandonou o crime e ingressou na Nação do Islã (NOI), em 1952. Por suas qualidades como disciplina e dedicação aos estudos, carisma e oratória invejável, o líder da NOI – Elijah Muhammad – o designou para a abertura de novas mesquitas.
Os poderosos e intensos discursos misturando religião e nacionalismo negro cativavam o público, consequentemente, o número de membros da NOI aumentava vertiginosamente. Em 1964, deixou a organização por conta dos conflitos com Elijah Muhammad, que não aceitava o seu envolvimento nas discussões políticas envolvendo os direitos civis da população afro-americana. Nessa época, Malcolm X era considerado o homem mais perigoso dos EUA, odiado pelos supremacistas e autoridades estadunidenses. Por outro lado, arrebanhava consciências pelo mundo, influenciando movimentos negros e organizações que lutavam em prol dos direitos humanos. Casou com a professora Betty Shabazz com quem teve seis filhas.
Mas a vida foi arrancada brutalmente no dia 21 de fevereiro de 1965, enquanto discursava no Audubon Ballroom, em Manhattan, Nova York. Malcolm X pressentia a iminência do seu assassinato, conforme o seu desabafo: “Em qualquer cidade, aonde quer que eu vá, homens negros estão observando cada movimento que eu faço, esperando pela chance de me matar. Quem escolhe não acreditar no que estou dizendo não conhece os muçulmanos da Nação do Islã. Sei também que posso morrer de uma hora para outra nas mãos de brancos racistas. Ou pode ser um negro que tenha passado por lavagem cerebral, e que acha que, ao me eliminar, estaria ajudando o homem branco”.
Apontar a grandeza de Malcolm X não significa ignorarmos a importância de outros revolucionários que também se destacaram na luta em prol do povo preto, e na construção de uma sociedade sem a barbárie do capitalismo e do racismo, cito alguns nomes: Steve Biko e Nelson Mandela (África do Sul), Amílcar Cabral (Guiné-Bissau), Thomas Sankara (Burkina Faso), Kwame Nkrumah (Gana), Martin Luther King Jr. (Estados Unidos) entre muitos outros. No entanto, Malcolm X é incomparável. Único. Ele simboliza o negro radicalizado e destemido, posturas que deveríamos assumir diante da opressão racista que massacra milhões de negros diariamente. O nosso príncipe resgatou o orgulho de ser negro neste mundo que se empenha na destruição da nossa autoestima, pois sabia que um povo não orgulhoso das suas raízes é vulnerável e mais fácil de ser massacrado, violentado e explorado. Malcolm X colocou como centro das suas ideias a autodeterminação e a autodefesa da população negra, e mais tarde, a internacionalização da luta dos povos oprimidos.
Toda vez que revisito a sua biografia, sempre me pergunto se os movimentos negros estão dando continuidade no processo de luta sob os termos defendidos por Malcolm X. A minha impressão é de que há um distanciamento dos seus ensinamentos. O culto ao individualismo ganhou terreno no meio dos negros, há uma demasiada valorização em atitudes simbólicas que não impactam positivamente a sobrevivência coletiva. Está mais do que na hora de assumirmos as reflexões defendidas por Malcolm X. A liberdade do povo negro deve ser buscada “por qualquer meio necessário”.
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