Por Anderson Shon, Poeta e Educador
Na última quarta-feira, o técnico Cuca pediu demissão do Corinthians por não aguentar a pressão que sofreu de torcedoras e torcedores acerca de sua condenação por estupro na década de 70, enquanto era jogador do Grêmio. O Brasil tem colecionado casos de jogadores que cometem violência contra mulher e, pelo visto, começa a ficar insustentável a passada de pano que os dirigentes dão na hora de contar com esses profissionais. Robinho foi barrado no Santos, Pedrinho, do São Paulo, foi afastado do clube e Cuca não segurou o rojão, todos eles estão impedidos de trabalhar no futebol por conta do justiçamento público diante de suas atitudes machistas e nefastas. Essas consequências são ótimas aulas contra o machismo, mas e o racismo, a gente também está combatendo-o no mundo da bola?
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A série A do futebol brasileiro comporta 20 clubes. De todos eles, você consegue dizer quantos técnicos são negros? Acertou quem respondeu nenhum. E, curiosamente, o único técnico negro que havia era Fernando Lázaro, do Corinthians, demitido por maus resultados e substituído por Cuca. Justamente pelo Cuca. Um outro clube que mudou de técnico foi o Coritiba, dispensando o português Antônio Oliveira e substituindo-o por Antônio Carlos Zago. Caso você não saiba, ou não se lembre, Zago protagonizou um caso de racismo em 2006. Além de desferir uma cotovelada em Jeovânio, jogador do Grêmio, ele apontou para o próprio braço alegando que o problema de seu companheiro de profissão era a cor. Lembra do William Waack? Algo nesse tipo. Antônio Carlos Zago foi punido por 120 dias pela cotovela e quatro jogos pela ofensa racista. QUATRO JOGOS? Quatro jogos no Brasil seria o equivalente a 15 dias. Eu adoraria ver a pressão que fizeram contra o Corinthians contra o Coritiba também.
As poucas pessoas que se manifestaram contra a contratação do técnico ouviram Zago dizer “fiz, paguei, faz parte do passado”. Acho que podemos concordar que afastar alguém por QUATRO JOGOS por ofensas raciais é uma punição completamente desproporcional à atitude. Ao ser perguntado pelo UOL (2012) se xingamentos como “macaco” são parte do futebol ele respondeu: “Tem e muito. Não é pouco. Mas aí às vezes o jogador é influenciado pelo diretor, ou por alguma pessoa que está de fora querendo aparecer.” Sobre essa resposta, ele também acha que já pagou? E que arrogância branca é essa que define qual é o peso da própria atitude e define o próprio julgamento? Entendo que as leis eram menos severas, mas, assim como no caso de Cuca, tem dores que ficam para sempre em suas vítimas, é necessário que os agressores comecem a experimentar um pouco dessa longevidade dolorida.
Em 2009, a torcida do Vasco se revoltou contra a ideia de ter Antonio Carlos Zago como treinador. O mesmo já estava acertado verbalmente com o clube, mas os vascaínos não aceitaram ter um racista no comando do primeiro time brasileiro a abrir as portas para jogadores negros. Diferente disso, o Coritiba, localizado na região do Brasil onde há mais células nazistas, concordou em tê-lo no comando técnico do time.
Um passo foi dado, não vamos mais aceitar machismo e misoginia dentro do futebol, agora é voltar nossas atenções para os outros tipos de preconceito e violência que estão no cotidiano. O futebol deve ser um espaço democrático de entretenimento e não um clube do bolinha onde machos brancos acham que ditam regras e quem não concordar esteja fora. Por menos Cucas, Zagos, Robinhos… no futebol. Sigamos.
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