Não há como negar a importância do acarajé quando o assunto é ancestralidade e cultura afro-baiana, que está presente em todo Brasil. Mas também por essa ligação com uma cultura preta o acarajé vem sofrendo um “embranquecimento”, é isso que a colunista Cauane Maia levanta no Portal Catarinas. “Não existe acarajé vegano.”
Para Cauane, o conhecido como “acarajé vegano” é apenas mais uma forma de tentar afastar o alimento conhecido por fazer parte da cultura baiana e de cultos da orixá, da religião de matriz africana. “Há é um movimento vegano mainstream, majoritariamente branco, incapaz de refletir sobre os impactos racistas de se alterar o receituário de um alimento votivo à orixá. E, mais ainda, alterar o acarajé, bolinho que não possui nenhum ingrediente de origem animal, cujo preparo tradicional é reconhecido e certificado como patrimônio cultural e imaterial do Brasil, pelo IPHAN”, escreve Cauane.
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O acarajé, feito de bolinho de feijão fradinho, cebola e sal, fritos no azeite de dendê, em 2012 foi reconhecido como patrimônio imaterial pelo Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN, assim como as Baianas de Acarajé e sua relação com o candomblé – sendo criado com este intuito e logo depois se tornando uma comida típica baiana.
A comida, que inicialmente era feita apenas em cultos do candomblé e por baianas, hoje em dia está presente em praticamente todos os estados do país. O que diferencia o acarajé de ser um prato com ou sem origem animal é seu recheio, que normalmente é vatapá e camarão.
Mas, assim como outros instrumentos e costumes da cultura negra, o acarajé começou a ser ressignificado por igrejas. “Com isso, surgiram os “bolinho do senhor” ou “bolinho de jesus”, que nada mais são que uma tentativa de romper com tradição que conecta as baianas de acarajé (e o próprio acarajé) aos terreiros, ou seja, o apagamento da essência desse alimento”, defende Cauane.
Cauane também comenta que essa prática não é exclusiva das igrejas. Com a alta de alimentos mais saudáveis e sem origem animal, começaram a surgir novas modificações do tradicional acarajé, que, para a autora, também é um ato racista contra a cultura afro-baiana. “Se há restrições alimentares, que elas sejam plenamente respeitadas e determinados alimentos evitados. Agora, apropriar-se de alimentos votivos à orixá para satisfação pessoal é o puro suco do privilégio da branquitude”, finaliza.
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