“Vamos falar sobre tecnologia e segurança sem techniquês, de um jeito que todos possam entender!”, esse é o lema do Gustavo Henrique Marques Pinto, 29, especialista em Governança e Conscientização em Segurança da Informação, com mais de onze anos de carreira.
Em entrevista ao Site Mundo Negro, Gustavo, reconhecido como LinkedIn Top Voice & Creator, sempre reforça a importância de facilitar a linguagem tecnológica para atrair todos os públicos. “A gente precisa simplificar as coisas para que as pessoas não criem bloqueios que as impeçam de acessar essas áreas e esses conteúdos”, destaca.
Com o objetivo de “furar a bolha”, o jovem de São Bernardo do Campo, da grande ABC de São Paulo, é fundador e apresentador do Tec Sec Podcast, onde ele também aborda a questão racial na área tecnológica e reforça que as pessoas não precisam ser expert em exatas, por exemplo, para construir uma carreira nesta área. “Baseado nas suas características, sempre haverá um pilar dentro das áreas de tecnologia e segurança pronto para te receber”, reforça.
Leia a entrevista completa abaixo:
1 – Como foi o seu processo para entrar no mercado de T.I? Você sempre se familiarizou com essa área?
A tecnologia entrou na minha vida na adolescência, eu não tinha ideia de que iria atuar nesse mercado porque era algo meio inacessível na época. Tudo que eu sabia sobre tecnologia naquele tempo era como acessar o Orkut e o MSN. Quando criança, eu era muito ligado à arte, ao audiovisual e gostava muito de desenhar e de imitar os dubladores de personagens de animes e filmes que eu acompanhava, na minha cabeça, era com isso que trabalharia no futuro…
Com o passar do tempo, como a maioria dos meninos, me dediquei aos esportes e foi aí que a vontade de ser jogador de futebol surgiu, tornando diária a minha dedicação para realização desse sonho. Não deu certo (risos). E não dando certo, foi aí que a tecnologia surgiu na minha vida.
Ainda na adolescência, meus pais, meus maiores apoiadores, me matricularam num curso de Informática básica e logo depois num curso de Montagem e Manutenção de Computadores e isso foi como se uma porta abrisse na minha mente, cheia de novas possibilidades, de novas oportunidades. Confesso que entrei nesses cursos bastante desmotivado por não ter conseguido seguir no futebol mas os laços da vida se interligam de uma forma que é só no futuro que a gente entende o por quê de algumas coisas terem acontecido.
Fui um dos melhores alunos desses cursos, estudei bastante para entender como a Internet funcionava, terminei o ensino médio e, aos 17, iniciei minha graduação em Sistemas da Informação graças a um programa social, parecido com FIES da minha cidade. Esse programa impactou diretamente na minha vida e me fez ser o primeiro neto dos meus avôs que conseguiu se formar em uma faculdade, seguindo meu pai que foi o primeiro filho graduado. Com isso, as oportunidades em tecnologia, principalmente em áreas de suporte técnico naquele início surgiram e foi ai que conheci e vi o tamanho desse mercado no Brasil e no mundo.
O plano B se tornou uma das coisas que mais faço com amor nessa vida.
2 – No LinkedIn, você sempre tenta simplificar o mercado tecnológico para outras pessoas entenderem que não precisam ser expert em matemática, por exemplo, para seguir a carreira na área. Você pode citar exemplos de profissões que funcionam, para quem não é tão de “exatas”?
A gente precisa simplificar as coisas para que as pessoas não criem bloqueios que as impeçam de acessar essas áreas e esses conteúdos. Esse é o meu principal propósito como profissional da área e comunicador. Sempre falo no TecSec Podcast e nos treinamentos que conduzo: “Vamos falar sobre tecnologia e segurança sem techniquês, de um jeito que todos possam entender!”
Quando falamos de Tecnologia e Segurança da Informação, grande parte dos geradores de conteúdos falam de uma maneira técnica que acaba limitando os públicos mais leigos a entenderem o tema e se protegerem na Internet, nas redes sociais e adotarem um comportamento seguro nesse universo tecnológico.
O que quero deixar claro é que existe espaço para todo e qualquer tipo de perfil e profissional nas áreas da tecnologia e da segurança da informação. Não há a necessidade de ser expert em exatas ou até mesmo um gênio das linguagens de programação para seguir carreira nessas áreas. Há espaço para todos.
O principal ponto é a necessidade das pessoas terem uma reflexão prévia sobre o que gostam de fazer e sobre quais características, hardskills (competências técnicas) e softskills (competências comportamentais) elas acreditam que mandam bem. Por exemplo, se a pessoa é comunicativa, pode atuar dando palestras e treinamentos sobre proteção digital, dentro e fora de uma empresa. Se a pessoa é introspectiva e prefere se comunicar mais com as máquinas, pode atuar em áreas de desenvolvimento, como programador e se a pessoa gosta de entender como as coisas funcionam e é curiosa, pode ser Hacker. Baseado nas suas características, sempre haverá um pilar dentro das áreas de tecnologia e segurança pronto para te receber.
3 – No podcast, não foge muito da proposta do que você já aborda com as publicações no LinkedIn, né? Mas a questão da raça é bem atrelada aos seus conteúdos. Pra você, como é ser um homem negro nesta área?
Não é fácil. Ser um homem negro em todas as áreas existentes no mercado de trabalho, principalmente se tratando de tecnologia e segurança significa que você precisa se provar competente quase todos os dias. O esforço é surreal e a ideia de ter que estudar ou se preparar 10 vezes mais para chegar no lugar onde desejamos é bastante cansativo.
Eu acredito muito em uma música do Emicida que diz que “viver é partir, voltar e repartir” e por isso, com o acesso e alcance que tenho tido no LinkedIn, coloco muito foco na disseminação da diversidade e inclusão como complemento dos conteúdos de tecnologia que compartilho. Há poucos negros nessas áreas e menos ainda quando olhamos para posições mais estratégicas, de liderança e diretoria.
Então, convido vocês a ouvirem e assistirem o TecSec Podcast, lá vocês aprenderão sobre tecnologia e segurança de uma maneira descomplicada e também terá acesso a como estamos em relação a questões raciais e de diversidade dentro desses campos. Furamos a bolha!
Eu também acredito que posso apoiar e ser uma espécie de referência para que tenhamos mais negros criadores de conteúdos que falam e desenvolvem trabalhos e ações que envolvam a tecnologia e a segurança da informação. Assim como os mais velhos que lutaram tanto para que eu tivesse a oportunidade de seguir esse caminho tecnológico, repartirei com a nova geração e o maior público possível esses conteúdos sérios, de forma leve e descomplicada.
4 – Quais dicas você daria para outras pessoas negras que pensam em iniciar a carreira na área de T.I?
O mercado de trabalho nas áreas da tecnologia e segurança da informação está bastante aquecido e com falta de profissionais. É só olhar, até mesmo no LinkedIN, a quantidade de vagas abertas para essas áreas.
O estudo é essencial. As pessoas que querem iniciar carreira na área da tecnologia e segurança da informação precisam estudar sobre o tema em que desejam trabalhar e para isso há vários caminhos para chegar lá como, iniciar uma graduação, um curso técnico ou até mesmo ter uma certificação técnica que comprove as suas habilidades. Com essa revolução tecnológica que vivemos, há uma infinidade de conteúdos gratuitos na Internet que poderão auxiliar no desenvolvimento desses novos profissionais. De novo, o TecSec Podcast é um deles.
É importante voltar a enfatizar a questão do planejamento e reflexão prévios sobre sua carreira e para onde você quer ir, justamente para que você consiga direcionar melhor seus esforços e estudar o que realmente quer estudar, afinal, é muito ruim estudar algo que não gostamos de fazer.
Ter um perfil no linkedIN também é fundamental porque as grandes empresas estão lá e as vagas são postadas nessa plataforma diariamente. Estamos na era da tecnologia e os processos seletivos são feitos quase sempre digitalmente, desde triagem curricular a entrevistas. Contatar profissionais que já estão na área para entender como as coisas funcionam também é algo muito positivo que pode te ajudar desde a criação de uma relação (networking) com a comunidade a, até mesmo, oportunidades de trabalho. Pensa só, aprender com os mais experientes pode fazer com que sua jornada seja mais assertiva, evitando tantos erros.
Agora, parafraseando o gato de “Alice no país das maravilhas”, se você não sabe quais caminhos deve seguir, qualquer um deles importa. Ou seja, se você não sabe o que fazer, uma graduação pode te ajudar porque é nela que você terá acesso a muitas disciplinas e se encontrar na tecnologia e segurança da informação.
Comece sem estar pronto e com o que você tem hoje. Com essa mentalidade você terá sucesso nas áreas da tecnologia. Vamos juntos!