Sim. Gringos que visitam nosso país ainda se espantam como em nossa televisão, atores, jornalistas, apresentadores são em maioria brancos, enquanto os dados demográficos e as imagens do Brasil no exterior, mostram que somos uma nação de pessoas negras em maioria, incluindo-se aí os miscigenados, filhos de casais inter-raciais.
Em 2014 escrevi um artigo sobre a ausência de negros como colunistas nos principais jornais de São Paulo. E não era em cima de achismo não, meu texto foi baseado em uma pesquisa realizada pelo Gemaa (Grupo de Estudos Multidisciplinares de Ações Afirmativas) da UERJ que mostrava que apenas 10% dos colunistas, dos três maiores jornais do país, O Globo, Folha de S. Paulo e Estadão eram negros. Pouca coisa mudou de lá para cá. A Folha não tinha nenhum colunista negro, agora tem o Preta, Preto, Pretinhos dedicado à comunidade negra, escrito pelo jornalista Denise Mota. Porém, nada para ser muito comemorado, até porque as notícias da coluna, muito interessantes por sinal, não ganham nenhum destaque na homepage do portal.
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A televisão é o veículo escolhido por 61% dos brasileiros como principal fonte de informação, mas as notícias são entregues por apresentadores brancos em quase totalidade, pelo menos em São Paulo. Quem traz esses dados frescos, colhidos entre 2016 e 2017, é o Coletivo Vaidapé, que aborda questões de direitos humanos e violência institucional.
Como alguns veículos como Rede Globo, que disse não separar seus funcionários por raça (!), não entregaram dados para o estudo, os responsáveis então resolveram organizar a pesquisa para obter esses números de outra forma. Eles então analisaram sete emissoras da rede aberta: Cultura, SBT, Rede Globo, Rede Record, RedeTV, Gazeta e Bandeirantes. Os números são piores do que eu imaginava. Brancos são 97% dos apresentadores de programas na TV aberta.
“Checamos 204 programas das sete emissoras citadas que foram transmitidos entre o segundo semestre de 2016 e o primeiro de 2017. O resultado foi um levantamento de 272 apresentadores que compõem as grades de programação. Ainda que a maioria dos programas sejam exibidos em rede nacional, para os casos que variam de região para região foi adotado como padrão a programação de São Paulo. Mesmo assim, a pesquisa dá um bom panorama da televisão brasileira”, explicam os responsáveis pela pesquisa no site do Vaidapé.
Record e SBT não tem um único apresentador negro. A emissora que apresenta maior diversidade é a RedeTV!, com quase 9% de apresentadores negros.
Outro dado interessante da pesquisa é que negros quando conseguem ser apresentadores, encabeçam projetos ligados ao entretenimento, cabendo mais uma vez aos rostos negros, a função de divertir, como se não tivéssemos credibilidade para falar sobre política e economia, por exemplo.
“Ah Silvia, mas tem muito repórter negro!”. Talvez, mas dentro da hierarquia de um programa de TV, ele está atrás de algumas funções e a maior parte dos apresentadores hoje em dia, são também editores, ou seja, pautam, decidem o que o repórter tem que falar.
As pautas, abordagem de temas, edição dos textos e reportagem seriam diferentes se o apresentador fosse negro? Se ele também for editor, com certeza. Quantas reportagens que mostram rostos negros, mas que não estejam ligadas à pobreza, racismo e criminalidade você vê nos noticiários? Quantos economistas negros você viu na TV falando sobre reformas, ou nutricionistas, professores, pais, estudantes falando de assuntos do cotidiano?
Apesar de ainda estar longe ser a principal fonte de notícia do brasileiro médio, a Internet, sobretudo o Youtube, é o espaço onde negros apresentam seu próprio programas. Filmam, editam, encontram personagens negros com outras narrativas como fonte para suas produções e estão mais próximos do que a TV aberta deveria ser.
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