Texto: Kelly Baptista
É comum ouvirmos que a liderança é um caminho solitário, ainda mais se tratando de uma liderança que passa por interseccionalidade de raça e gênero. Sendo bem sincera, e sendo a única mulher negra na maioria dos espaços que ocupei, considero esta fala verdadeira.
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Mentalmente criamos uma persona, vivendo uma situação perfeita de liderança, com um time diverso, empoderado e que cresce com uma pessoa líder super heroína, capaz de equilibrar todos os pratos. Mas isso é real?
No dia a dia, a solidão para nós, mulheres negras, se apresenta de forma sutil, porque não encontramos pares na alta liderança que compartilhem das mesmas vivências. Obviamente as experiências que absorvemos dos pares nos ajudam a evoluir, mas na maioria das vezes precisamos fazer um filtro e trazer para a nossa essência e realidade.
Partindo do ponto de que muitas líderes são mães, isso automaticamente se potencializa, cresci profissionalmente em uma geração que pregava que a maternidade acaba com a carreira de uma executiva, mas hoje entendo que a maternidade me fez uma líder melhor.
Lá no fundo muitas vezes existe uma dúvida das escolhas que fizemos, a conquista da liderança para uma pessoa preta vem a partir de muito trabalho, muita insegurança e com a responsabilidade de inspirar e trazer os nossos que ainda estão à margem da sociedade.
Nas empresas brasileiras, menos de 30% dos cargos de liderança são ocupados por pessoas negras. O percentual é baixo e ainda sofreu queda. Em 2018, a população preta ou parda ocupava 29,9% dos cargos gerenciais. Em 2019, esse índice caiu para 29,5%, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Enquanto as mulheres brancas correspondiam a 66,9% dos cargos gerenciais, a parcela de negras nessas posições é de 31%. A diferença entre homens brancos (69,3%) e negros (28,6%) em postos de liderança é maior. Nas grandes corporações, a proporção é ainda mais desigual.
Os negros representam 55,9% da população brasileira, mas ocupam apenas 4,7% dos cargos de liderança nas 500 maiores empresas do país, segundo pesquisa do Instituto Ethos. As mulheres negras representam 9,3% dos quadros destas companhias e estão presentes apenas em 0,4% dos altos cargos.
De forma estruturada, tenho buscado desenvolver interna e externamente ações intencionais para ajudar a impulsionar carreiras de meninas e mulheres pretas e grupos minorizados, trazendo situações práticas, mostrando a realidade, e a necessidade de transformação do machismo e racismo estrutural, vida pessoal e profissional caminhando juntas e outros temas que nos atravessam diretamente.
É importante fortalecer e acolher todas as pessoas que saem de situação vulnerável, olhar se as oportunidades são justas, além de criar uma rede de apoio.
Promover a transformação social e na cultura das empresas, é uma tarefa diária e muitas vezes exaustiva, mas é nosso papel como pessoas pretas líderes influenciar, contagiar e cuidar, dos que virão, porque quando um vence todos nós vencemos.
*Kelly Baptista Gestora Pública, diretora executiva da Fundação 1Bi, mentora, membro da Rede de Líderes Fundação Lemann e Conselheira Fiscal do Instituto Djeanne Firmino.
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