Apresentar ao jovem negro e negra de periferia que outro caminho é possível diferente daqueles apontados por estatísticas e indicadores sociais, é o principal objetivo da campanha “Contrarie as Estatísticas”, lançada nesta semana pelo Instituto Mídia Étnica/Correio Nagô. A iniciativa da organização, criada há seis anos e formada por jovens comunicadores, surgiu após a divulgação dos últimos indicadores sociais que apontam o alto de risco de vulnerabilidades e desigualdades aos quais a juventude negra brasileira está exposta, a exemplo, do aumento da taxa de homicídios, analfabetismo, gravidez na adolescência, pobreza, entre outros.
A proposta do IME, como o Instituto é carinhosamente chamado pelos seus integrantes, é trazer referências de jovens negros e negras que vieram de comunidade carentes e que conseguiram driblar estes índices e ocupam lugar de destaque e de decisão na sociedade. Segundo dados do relatório “Situação da Adolescência Brasileira 2011 – O direito de ser adolescente: Oportunidade para reduzir vulnerabilidades e superar desigualdades”, do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), atualmente vivem no Brasil 21 milhões de meninos e meninas entre 12 e 18 anos, destes 56,6% são negros. Na Bahia, são aproximadamente dois milhões de adolescentes, deste 78,3% são de garotos e garotas negras. De acordo com dados da agência da ONU, projeções demográficas mostram que o país não voltará a ter uma participação percentual tão significativa dos adolescentes no total da população.
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Visando garantir oportunidades e a concretização dos devidos direitos desse segmento da população, que é o direito à vida e o direito de serem plenamente adolescentes e jovens, o Instituto Mídia Étnica convoca a sociedade brasileira a contrariar as estatísticas e os indicadores sociais que violam esses direitos, a partir de referências positivas desta juventude. “O jovem negro e negra brasileira precisam de exemplos que lhe sejam contemporâneos, ou seja, eles precisam saber que podem ser advogados, médicos, jornalistas, publicitários, que eles podem ter ensino superior e principalmente que eles podem estar vivos para realizar isso. É por isso que na campanha trazemos como referência, jovens que conseguiram contrariar essas estatísticas, dados estes que na maioria das vezes se transformam em números e mais números ao invés de ações concretas que mudem essa realidade”, explicou a coordenadora executiva do Instituo Mídia Étnica, Ilka Danusa.
Veja abaixo mais dados sobre as vulnerabilidades que atingem a juventude negra brasileira:
Homícidios
Em quatro anos, a taxa de homicídios entre adolescentes de 12 a 18 anos na Bahia teve um crescimento de quase 400% – em 2004, a taxa medida por 100 mil habitantes da mesma idade era de 8,6, em 2009 a taxa chegou a 31,1. O adolescente negro desta faixa etária tem 3,7 vezes mais risco de ser assassinado em comparação com adolescentes brancos, segundo dados do Índice de Homicídios na Adolescência (IHA) de 2009.
Situação de Rua
São 24 mil meninos e meninas em situação de rua no Brasil, segundo dados de um estudo do Consleho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda), em parceria com a Secretaria de Direitos Humanos (2011). Entre eles, 70% são meninos. Dos 24 mil adolescentes que estão expostos a todo tipo de violação de seus direitos, quase metade deles (45,1%) tem entre 12 e 15 anos e 72,8% são negros (pretos e pardos).
Extrema Pobreza (até ¼ de salário mínimo)
A média nacional de adolescentes vivendo em situação de extrema pobreza, em 2009, era de 17,6%. Entre meninos e meninas negras esse índice chega a 22%. Os adolescentes negros que vivem nas regiões Norte e Nordeste são ainda mais vulneráveis. No Nordeste, enquanto 26% dos meninos e meninas brancos eram extremamente pobres, entre os negros, esse índice é de 31,5%.
Educação
Apesar dos avanços na educação, o percentual de adolescentes entre 16 e 17 anos negros que tinham o ensino fundamental era de 56% em 2009, em comparação aos adolescentes brancos que tem o percentual de 75,6%. No que se refere ao ensino médio, enquanto 60,3% dos adolescentes de 15 a 17 anos brancos frequentavam as escolas em 2009, entre os adolescentes negros, o índice era de 43,4%. Os adolescentes de 15 a 17 anos brancos atingem 7,8 anos de estudo, em média, e os negros 6,8.
Gravidez
A taxa de incidência de gravidez na adolescência é maior entre as adolescentes negras, o percentual é 6,1% entre as meninas negras de 15 e 17 anos, em comparação com o índice entre as adolescentes brancas, de 3,9%
Mercado de Trabalho
Dados da pesquisa de emprego e desemprego da Região Metropolitana de Salvador , intitulada “A Desigualdade entre Negros e Não-Negros no Mercado de Trabalho”, do Dieese 2009, apontam que a presença negra na População Economicamente Ativa (PEA – 2008) alcança 85,4%. Contudo, a ocupação desta parcela se dá, com frequência, em setores e posições em que os rendimentos são menores (negros: R$ 4,75 e os não-negros: R$ 9,63; as jornadas mais extensas (42 horas semanais para negros e 41 horas para os não negros) e participação em postos de direção (28,4% para não negros e 9,1% para negros).
Informações : 71- 9959-2350 \ 71 8782-7739 – Luciane Reis ( Coordenadora da Instituição e da Campanha)
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