Fim da novela das 18h traz reflexão sobre papéis destinados a atores negros na televisão e a importância de representações positivas
Professora, jornalista, técnico de futebol, confeiteira, empregada doméstica, delegado, dona de casa. Em quantos papéis nós cabemos? Na última sexta-feira (19), chegou ao fim a novela “Além da Ilusão”, transmitida pela TV Globo no horário das 18h, e como observado pelo empresário Hellder Dias, o folhetim trouxe “um número significativo de atores negros na novela campeã de audiência na faixa das 18 horas na televisão”.
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Em seu texto, Dias lembra que ainda temos muito a alcançar porque as oportunidades ainda são poucas e quando elas aparecem podem não trazer tanta visibilidade, mas é preciso reconhecer os movimentos que estão acontecendo. “Mesmo tendo consciência da falta de visibilidade, oportunidade e presença de atores negros com personagens em papéis importantes de destaques e da falta de privilégio imposto pelo racismo estrutural, que reflete a situação da população negra na nossa sociedade, é importante este momento, pois observo um crescimento significativo nos folhetins da atualidade, como no casting apresentado pela escritora #AlessandraPoggi em Além da ilusão”.
Mas sabemos que isso é resultado do esforço de artistas negros e ativistas que há tempos lutam para ver atores negros interpretando papeis que fujam dos estereótipos de personagens escravizados e subalternizados. Em entrevista para o documentário “As Divas Negras do Cinema Brasileiro”, de 1989, produzido por Ras Adauto e Vik Birkbeck, Lélia Gonzalez reforçava a importância da luta do movimento negro para avanços na igualdade de oportunidades, incluindo a produção de cinema e televisão. Dando ênfase para o racismo nos meios de comunicação, que impedem que negros possam falar por si ou que narrativas positivas sejam criadas para nós.
Em “Além da Ilusão” o protagonismo é branco, mas conseguimos observar as pequenas mudanças nas narrativas negras. Claro, o tema do racismo esteve presente em algum momento da trama e a trajetória de alguns personagens ainda geram incômodo, esse é um processo, mas pudemos nos inspirar na professora Letícia (Larissa Nunes), no escritor Bento (Matheus Dias), na cantora Emília, personagem de Gaby Amarantos que também emprestou a voz para trilha da novela, em Mariah da Penha, que interpretou Manuela dos Santos, personagem que iniciou a história como empregada doméstica e terminou a novela como empresária.
Hellder Dias tem razão, “O atraso e o retrocesso ainda persistem na telenovela do Brasil contemporâneo”, muita coisa precisa mudar. Estamos em movimento.
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