“Me afastou das ruas”: MC Carol relata como o funk mudou sua vida e os desafios de ser uma artista da favela

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“Me afastou das ruas”: MC Carol relata como o funk mudou sua vida e os desafios de ser uma artista da favela
Foto: Divulgação

O Rock in Rio Humanorama chega a sua segunda edição online e primeira presencial. O evento acontece simultaneamente no Brasil e em Portugal, entre os dias 28 e 31 de julho e possui dentre as 150 vozes, empresários, artistas, ativistas, executivos, acadêmicos, parceiros e jovens inspiradores. Já estão confirmados nomes como do rapper Criolo e da atriz do Porta dos Fundos Noêmia Oliveira.

Em uma das rodas será abordado o tema: “Periferia é lugar de potência” com a funkeira Mc Carol, Zé Ricardo, diretor artístico do Palco Sunset e Espaço Favela do Rock in Rio, e o DJ e produtor Fábio Tabach, criador da Funk Orquestra. A exibição para os espectadores será no dia 29 de julho. A conversa percorre o tema falando sobre como as notícias que saem por aí são sempre de carência e violência e como as regiões periféricas do Brasil são muito mais do que isso: resiliência, resistência, criatividade, cultura e potência.

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A funkeira iniciou o assunto falando sobre como o funk mudou a sua vida. “Eu poderia estar presa, eu poderia estar morta, eu poderia ter caído nas drogas. Então, não foi só dinheiro. Não foi só o que ele me deu. Ele me afastou das ruas porque eu não tinha mais tempo de ficar andando para cima e para baixo fazendo nada. É responsabilidade. Eu estava na estrada, eu estava trabalhando, eu estava totalmente ocupada”.

E completa: “bizarro quando eu vejo na internet a galera atacando, falando que eu canto isso, que eu canto aquilo, que minha vida deve ser isso, XYZ, muitos homens. Falando amorosamente, os caras entram na minha vida, acham que eu vivo uma loucura, e não. Não, minha vida é super tranquila, eu vivo pro meu trabalho e é isso”.

Foto: Rodrigo Costa

Com a fama, Mc Carol destaca a importância do bom uso nas redes sociais. “A gente que tem um pouquinho mais de voz, um pouquinho mais de espaço, um pouquinho mais de conhecimento, de amizade, tem que dar voz pra essa galera (da favela)”.

Cria do Morro do Preventório, em Niterói (RJ), a funkeira relembra momentos significativos que comprovam a importância de ter mais investimentos nas favelas.

“Eu fazia parte de um grupo na minha comunidade. Isso novinha, né? A gente tudo duro lá, querendo pintar na Copa do Mundo. Toda Copa do Mundo a gente queria pintar a comunidade, só que não tinha dinheiro para tinta. Então a gente passava em todas as barraquinhas, incomodava todos os bares, todos os pontos que a gente sabia que tinha alguma coisa de venda. E aí a gente trocava (…) A gente ia para frente e coloria toda comunidade. A gente fazia acontecer, botava a bandeirinha e tudo. Isso com moedas, está ligado? Com investimento que a gente faz acontecer. A gente pega a moeda aqui, a moeda ali e vai andando”, relata.

Mc Carol relata as dificuldades no início da carreira por falta de investimento. “A gente ia andando, a gente pegava carona, passava por baixo de um ônibus, por cima. Chorava com outro pobre e ele já dava moral para a gente tentar trabalho nos bailes. Na hora de ir embora depois do baile sem dinheiro, eu estava dura, sem dinheiro nem para uma água, mas a gente ia lá e cantava para divulgar nosso som. E é aí, imagina, se você tivesse um investimento. Desmotiva você não ter investimento, não ter nada”.

Foto: Reprodução / Instagram

“Na favela, 95% da comunidade é uma grande família, todo mundo ajudando todo mundo. É o vizinho que está sem água também, mas te dá um balde d’água. Eu passei por isso, eu vivia sem água, aí eu chegava lá na minha vizinha, a vizinha não tinha nem caixa, ela tinha baldes na porta dela que ela usava diariamente (…) E aí eu ia lá na pressa e ela me fortalecia. Então todo mundo é uma grande família. Só que existe uma porcentagemzinha que está disposta a qualquer coisa. Está ali sem água, sem comida… Tem gente que não tem geladeira em casa. E aí a pessoa é ódio”, relata a funkeira as experiências de morar na favela.

“Um menino de quinze anos olha assim e fala: ‘Caramba, eu estou sem nada. E aí tem garotos da minha idade com moto’. Olhando na internet a galera que tem tudo e tem gente que não aceita. Tem gente que está disposto a morrer para mudar de vida de qualquer forma”, finaliza.

Rock in Rio Humanorama

São Paulo entrou na rota dos organizadores do Rock in Rio. O Rock in Rio Humanorama – um festival de conversas sobre temas urgentes da nossa sociedade que entra em sua segunda edição. O festival de conversas acontece entre os dias 28 e 31 de julho em formato presencial no Learning Village – Centro de Cultura e Inovação, em São Paulo e online para todo o Brasil e Portugal. Ao longo de quatro dias, o Rock in Rio Humanorama explora em formato de conversas diferentes questões que estão urgentes no presente para um futuro melhor e como isso gera questões socioculturais que nos afetam diretamente, tanto como indivíduos quanto como sociedade.

Gravação do Rock in Rio Humanorama. (Foto: Divulgação)

Nestas conversas estão empresários, artistas, ativistas, executivos, académicos, parceiros e jovens inspiradores como o jornalista Manoel Soares como mediador do painel inédito “O que você está ensinado para os seus pais, que vai ser útil para eles navegarem neste novo mundo”.

Como a proposta do Rock in Rio Humanorama é ser um espaço inclusivo e acessível para que pessoas de diferentes realidades, áreas de atuação e visões de mundo participem da conversa, a experiência online – tal como foi na primeira edição do projeto – contará com tradução em libras (para o Brasil) e tradução em língua gestual (para Portugal) além de ter o conteúdo transcrito em legendas, sendo a participação totalmente gratuita, bastando que os interessados se inscrevam no site da plataforma do evento.

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