Como auxiliar os jovens ou grupos minoritários em um país desigual?
A lacuna entre o ensino digital e os nossos jovens ou grupos minoritários mostra que no Brasil, o acesso às ferramentas tecnológicas, como computadores, internet e outras plataformas, é um grande desafio. Distanciando a digitalização e seu domínio da maioria dos estudantes, principalmente nas periferias urbanas e rurais.
Conforme dados da pesquisa TIC Domicílios (2019), quase 30% dos lares brasileiros não possuem acesso à internet, e apenas 39% têm computador. Nas classes sociais D e E, que são justamente as que já sofrem com outros tipos de exclusão social, o percentual de domicílios sem acesso à web é de nada menos do que 50%. No que diz respeito ao uso, 59% dizem não utilizar a internet para estudar e trabalhar. Apenas 31% das pessoas que usam computadores afirmam ter manipulado uma planilha de cálculo, por exemplo.
Para além do ensino de tecnologia, é importante atentar para as desigualdades que cercam os grupos minorizados. Hoje, quando falamos e olhamos para o mercado de maneira geral, o subconsciente projeta um setor intelectualizado, embranquecido e machista, não enxergamos pessoas negras neste lugar exatamente pela falta de diversidade e representatividade. Isso faz com que, por exemplo, os algoritmos permaneçam sendo criados para classificar pessoas negras de forma negativa. As expressões são muitas, como “Cabelo ruim”, “Pessoa feia”, entre outros termos pejorativos.
Na contramão de tudo isso, podemos citar iniciativas que estão mudando a realidade das periferias, como a Mais1Code, projeto que proporciona educação tecnológica de qualidade e acesso às trilhas formativas para o desenvolvimento social e econômico periférico, de forma gratuita e totalmente online.
A ideia surgiu quando os amigos Tauan Matos, especialista em desenvolvimento de franquias de alto padrão, e Diogo Bezerra, membro do programa Jovens Líderes das Américas e fundador da escola de inglês 4Way, foram questionados por um adolescente da comunidade do Jardim Brasil, Zona Norte de São Paulo, onde poderia encontrar um projeto que ensinasse programação de forma gratuita e na mesma linguagem que a dele. Os sócios chegaram a investigar o mercado, mas não encontraram nenhuma iniciativa que tivesse conexão com a realidade daquele garoto, não demorou muito para o início do projeto, que já auxiliou mais de 140 alunos.
Este é apenas um exemplo de como a tecnologia, alinhada com objetivo e propósito, pode apoiar a transformação social das periferias. Com a parceria de empresas investidoras, sociedade civil e setor público, a tecnologia pode ser uma solução para a igualdade social.
*Kelly Baptista é especialista em gestão de políticas públicas e coordenadora geral da Fundação 1Bi, apoiada pela Movile, membro da Rede de Líderes Fundação Lemann e Conselheira Fiscal do Instituto Djeanne Firmino