Por Betina Costa do Claquete 16
“Esse é o mais louco e selvagem Oscar para se apresentar”, disse Chris Rock no inicio de sua apresentação. De fato a 88º edição do Oscar foi cercada de muita controvérsia em relação a falta de diversidade e representatividade. Devido a falta de indicados negros pelo segundo ano consecutivo, várias celebridades como: Jada Pinkett Smith, Will Smith, Spike Lee e Lupita Nyong’o, decidiram boicotar a premiação.
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A Apresentação de Chris Rock foi cheia de altos e baixos. Ele zombou do boicote ao Oscar:
“Eu tenho certeza que não existiam indicados negros em 1962 ou 1963, e os negros não protestavam, sabem por quê? Porque nós tinhamos coisas mais importantes para protestar naquela época. Estávamos muito ocupados sendo estuprados e linchados.”. Eu entendi que a intenção provavelmente foi chamar atenção a selvageria com que negros eram tratados há não muito tempo atráz, porém era realmente necessário diminuir e dizer que o protesto contra a falta de indicados negros é algo sem importância?
Algo semelhante se repete em relação ao #AskHerMore, campanha que incentiva chamar a atenção para reportagens sexistas e sugere formas de mudar o foco para as conquistas femininas (ao invés de simplesmente perguntar sobre a roupa, por exemplo). Nesse caso, ele faz pouco do movimento e sugere que só não perguntam para homens sobre sua roupa, pois eles estão usando sempre a mesma coisa, além de ter mencionado que “Nem tudo é racismo e nem tudo é sexismo”. Aqui, não houve nenhuma boa intenção.
Outro momento infeliz, foi quando ele chamou ao palco os auditores de prêmios da noite: “Como sempre os resultados dos prémios da Academia de hoje à noite foram tabulados pela Price Waterhouse Cooper”, disse Rock. “Eles nos enviaram seus representantes mais dedicados e esforçados . Eu quero que vocês recebam Ming Zu , Bai Ling, e David Moscowitz”. E nesse momento três crianças asiáticas entraram. Não pega bem, algumas horas depois de falar contra racismo, propagar um estereótipo que todos asiáticos são bons em matemática, especialmente quando não tem quase nenhum asiático concorrendo.
Por outro lado, ele também conseguiu chamar a atenção para pontos importantes, quando disse: “Se vocês querem indicados negros todos os anos no Oscar, tenham categorias como: Melhor amigo negro”. Isso foi uma ironia bem sutil, pois quase sempre nos filmes é esse o papel dos negros. Melhor amigo do protagonista branco. É esse tipo de papel disponível para negros em Hollywood, não é de se admirar que as categorias melhor ator/atriz coadjuvante tenham mais indicações e vitórias de negros do que as de melhor ator/atriz.
No seu segmento inicial, ele também mencionou a falta de oportunidade para negros: “Senhor Presidente, você vê todos esses compositores, produtores, atores… Eles não contratam negros”. Não é só culpa da academia a falta de indicados, é culpa também dos diretores, produtores, etc, que não chamam atores e atrizes negros para seus filmes. “Nós queremos oportunidades. Queremos que atores negros tenham as mesmas oportunidades que atores brancos. Não apenas uma vez, Leo consegue um ótimo papel todo ano. Todos vocês recebem ótimos papeis o tempo todo. E os atores Negros? E Jamie Foxx? Jamie Foxx é um dos melhores atores do mundo”. Completou Chris Rock.
Poderia ter sido melhor? Poderia. Certamente poderia ter sido mais engraçado em vários momentos, poderia não ter zombado de certas campanhas. Mas também poderia ter sido pior. Considerei o desempenho do Chris Rock mediano, com pontos positivos e negativos (talvez mais negativos do que positivos)
Dando continuidade a cerimonia, algo que chamou atenção (completamente não relacionado a Chris Rock), foi a forma como a maioria dos vencedores foram expulsos do palco ao som de “A Cavalgada das Valquírias” quando o seu discurso estava começando a ficar “um pouco longo”. Pra começar, é uma péssima ideia escolher a composição de um possível anti-semita, admirado por Hitler para tocar em qualquer momento do seu evento, quando se está sendo acusado de racismo.
Sem falar que é muito deselegante cortar alguém no meio de um discurso. A Diretora Sharmeen Obaid-Chinoy, que ganhou o premio de Melhor Documentário em Curta-Metragem por A Girl in the River: The Price of Forgiveness, que estava falando sobre como sua obra pode impactar crimes de honra no Paquistão, mal conseguiu terminar seu discurso. Nem Alejandro Iñárritu, que ganhou o prêmio por melhor Direção foi poupado. A diferença foi que ele ignorou a música e continuou seu discurso até que desistissem e deixassem ele terminar.
Quanto aos vencedores, Mad Max levou para casa seis merecidíssimos Oscars (o que foi maravilhoso), porém acho que George Miller merecia ter levado o prêmio por melhor direção, pois seu trabalho em Mad Max foi impecável, gerando sem dúvida nenhuma um dos melhores filmes de 2015. Nada contra Iñarritu, pelo contrário, o trabalho dele em “O Regresso” foi muito competente.
Houve também algumas surpresas, como a vitória de Mark Rylance na categoria melhor ator coadjuvante. Ambos criticos e cinéfilos estavam apostando em Sylvester Stallone (confesso que também adoraria ver o Stallone ganhar um Oscar), mas não foi nenhum crime. Rylance estava impecável em Ponte dos Espiões. Contudo, creio que as vitórias que pegaram todo mundo de surpresa, foram Spotlight como Melhor Filme e “Writing’s On The Wall” em Melhor Canção Original.
A vítória de “Writing’s On The Wall” foi um crime. Apesar de Sam Smith ser um fofo e ter dedicado o prêmio a comunidade LGBT, a música é HORROROSA! Não sei como foi indicada, muito menos como ganhou! E pensar que ela venceu de “Til It Happens To You” depois da maravilhosa e emocionante apresentação da Lady Gaga, só piora as coisas. Não gosto nem de lembrar disso.
Já Spotlight como melhor filme foi muito inesperado. A última vez que um filme ganhou nessa categoria, tendo ganho apenas mais um Oscar foi em 1952. Eu particularmente não gostei de Spotlight, por mim não teria ganho nem Melhor Roteiro Original (votaria em Ex-Machina um milhão de vezes). Eu estava torcendo para Mad Max, embora soubesse que as chances dele ganhar fossem as mesmas do Matt Damon, ou seja, zero. Eu estava psicológicamente preparada para ver O Regresso ganhar, a vitória de Spotlight realmente foi uma surpresa, porém a felicidade do Mark Ruffalo me deixou menos inconsolável.
E por último, mas não menos importante, tivemos o Oscar para DiCaprio. Confesso que quando Sylvester Stallone eu fiquei com muito medo pelo Leo, era só o que faltava. Mas no fim, tirando melhor canção original (sim, eu fiquei muito transtornada com isso) e talvez Melhor Direção, foi uma premiação justa com os indicados. Lamento apenas, o fim dos memes do Leo.
Fonte: http://www.slashfilm.com/2016-oscars-asian/
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