Tunico da Vila juntou-se ao rapper mineiro Djonga e a rapper capixaba Mary Jane para falar sobre negacionismo e cantarem juntos sobre suas indignações sobre o racismo explícito e o genocídio na pandemia.
“Fogo nos Racistas” é um samba acompanhado de rap que retrata o clamor dos protestos nas ruas pelo Brasil contra o negacionismo diante das quinhentas e setenta mil mortes na pandemia.
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“Quando eu comecei a fazer a música, a intenção era colocar vários sentimentos que hoje o povo preto tem. Eu divido o afeto, a ancestralidade e a espiritualidade”, disse Tunico em entrevista ao site Mundo Negro. Para ela a música tem um papel de ensinar e educar e o samba, não fica fora desse propósito.
“De política o samba já fala por si só, porque você é um ativista sendo sambista. Um verdadeiro sambista também é ativista com toda a certeza. Seja em prol do movimento negro, do movimento da mulher, em prol a tudo aquilo que engloba as bandeiras do movimento LGBTQI+ e todo mundo, porque o samba abraça a diversidade graças ao candomblé”, reflete Tunico.
A música foi gravada no Rio de Janeiro, com arranjos de Jota Moraes, Boris e beats do DJ Ajax, já o videoclipe foi filmado em Queimados, na Serra, no Espírito Santo, um dos raros sítios históricos de memória negra preservados no país e chama-se “Fogo no Racista”; o videoclipe será lançados pela Sony Music, dia 10 de setembro, meia-noite, em todos os aplicativos de música e no canal do Youtube do artista.
Na letra da parte do samba, Tunico da Vila cantou: “o negacionismo é malignidade, a fome tá comendo, chega de sofrimento, se liga aí descolonize o pensamento” e “pretas e pretos na universidade isso é fogo no racista”, a expressão é utilizada pelo movimento antirracismo e faz referência ao racismo estrutural presente no Brasil.
“A origem dessa música foi inspirada por uma reza do candomblé na nação de Angola chamada ‘reza do corpo humano’ e no samba que digo ‘eu sapateio na macumba, sou do velho, sou de cura, Kaiangó Matamba, sou de Angola”, detalha o artista filho de Martinho da Vila.
“O samba sempre esteve em consonância com o que acontece nas ruas, com o povo, estou me posicionando gravando, cantando, pra ficar registrado aí que não compactuo com os ataques a democracia, o genocídio na pandemia, o racismo estrutural e a falta de comida, o sambista precisa estar do lado do povo, o silêncio musical de muitos artistas do samba me incomoda, tirando meu pai e a Teresa Cristina, pra mim não dá, não foi assim que aprendi, quem é do samba não pode deixar de gritar junto com o povo. Quando teve golpe, na ditadura, os sambistas retrataram cantando o que o povo estava passando com os militares.
“Eu chamei o Djonga que é de terreiro como eu e está indignado, e a Mary Jane que é uma mulher preta consciente do seu papel, se tiver que juntar com outros irmãos musicais de outros segmentos, não vejo problema, só não pode ser negacionista, aí pra mim não dá, vim de uma casa politizada. O samba é negro, de terreiro e veio do gueto, são de lá os que estão mais sofrendo”, disse o sambista sobre o novo single.
Edição e entrevista de Silvia Nascimento.
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