Quem aí já notou o maior número de pessoas negras nas campanhas publicitárias? Essa evolução representativa está diretamente ligada ao aumento no número de pessoas negras dentro das agências publicitárias brasileiras. Porém ainda estamos muito longe de ver de forma significativa o retrato do que o Brasil realmente é: um país de maioria negra.
Nesse cenário, a comunidade negra ganhou uma forte aliada. A Agência Gana nasceu em 2019, em formato de Coletivo, com o propósito de reunir grandes expertises pretas da publicidade para mostrar como a diversidade pode ampliar a qualidade dos produtos finais. Agora, ela assume sua posição no mercado como uma agência de publicidade com um diferencial sem precedentes na história que é um time 100% preto em todas as camadas do negócio.
Apesar do pouco tempo de mercado, a agência já acumula grandes projetos no portfólio, como o rebranding da Ponte Jornalismo e a campanha de lançamento do canal Trace Brazuca, da Trace Brasil, que usou, pela primeira vez, a música Negro Drama, do Racionais MC’s, em uma campanha publicitária.
Felipe Silva CEO da Gana, contou para gente mais sobre a Gana. Além da agência, ele é redator e fundador da Escola Rua — primeira escola de criatividade focada em capacitar estudantes publicitários de baixa renda.
Mundo Negro – Como aconteceu essa migração do coletivo para uma empresa. Como fazer esse misto de pessoas experientes com as com diversas carências, como nossos talentos periféricos?
Felipe Silva – Começamos a ganhar cada vez mais projetos e clientes, e com isso precisávamos de uma estrutura que suprisse essa demanda. Foi um movimento natural e também uma vontade nossa de criarmos uma alternativa sólida dentro de um mercado majoritariamente branco. Temos uma composição bem rica de talentos fazendo parte da Gana hoje. Temos um time sênior formado por profissionais que passaram pelas maiores agências do país e que dão um peso grande à nossa entrega publicitária. E temos também jovens talentos que muitas vezes foram preteridos pelas agências, porque a gente sabe que o mercado não absorve a quantidade de profissionais pretos que existe no Brasil hoje. Temos um manifesto que fala que a criatividade preta e periférica cria hits todos os dias, só não fazia isso para marcas porque nunca teve espaço nas agências. É nosso papel mostrar que esses talentos estão aí. Na Gana temos a possibilidade de criar essa troca de experiências e vivências, com pessoas de diferentes partes do Brasil, um ensina o outro.
Você sente ainda uma resistência das marcas em relações aos projetos ligados à negritude? Quando você apresenta a Gana com uma equipe 100% preta, as pessoas não assustam?
Há um movimento cada vez maior entre marcas e agências de abraçar a diversidade. Estamos saindo na mídia e a repercussão tem sido incrível. Mas ainda é difícil encontrar no mercado projetos que sejam construídos majoritariamente por pessoas negras, é um problema estrutural. O resultado disso são campanhas que não nos representam de verdade ou que não geram impacto real nas comunidades. Ou seja, que não representam a realidade brasileira. Quando nos apresentamos como uma equipe 100% preta e mostramos nossas caras, acho que ainda assusta porque não é o que se espera de uma agência de publicidade. Mas estamos aqui pra mudar isso, né?
Durante o tempo de isolamento e sobretudo por conta do caso George Floyd as empresas finalmente se tocaram que nós existimos. Quais os planos da Gana para se aproveitar dessa porta que se abriu e que fomos convidados a entrar?
Queremos mostrar a potencia da criatividade preta em todos os momentos. Mostrar para as marcas que o povo preto produz hits todos os dias as redor do mundo. Não é só agora que devemos ser olhados, não fomos convidados a entrar, nós arrombamos a porta com a nossa potência e não vamos mais sair. Vamos mostrar com nosso talento a que viemos. E construir caminho para ajudar mais empresas negras a ocupar o espaço nesse lugar.
A diversidade é uma seara linda e vantajosa. Se você pudesse selecionar uma única vantagem sobre diversidade na publicidade, qual seria?
O Brasil é um país com 56% da população declaradamente negra. Quando você tem uma agência totalmente preta, no mínimo, você já tem pessoas que entendem a maior parte da população. Além disso, mais uma vez ressalto a potência da criatividade preta em todas as esferas. Nós criamos o funk, o hip hop, o rock. Tudo o que é sucesso no mercado criativo passou por mãos negras. A publicidade pode ganhar a mesma coisa com mais diversidade.
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