Um dos resultados da miscigenação no Brasil é que todo mundo aqui conhece ou faz parte de uma família onde os membros são fisicamente diferentes. Vários tons, texturas de cabelo e traços faciais coexistem em um grupo de pessoas do mesmo sangue. Isso gera várias confusões.
Matheus Omena , 17 anos, está se preparando para o vestibular e quer ser médico. Ele tem cabelos loiros, olhos azuis e pele branca. Essas características se misturam com traços típicos de pessoas negras. Sua mãe, Marleide é bem mais escura que ele. Eles moram em Maceió (AL).
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Quando Matheus era bebê ela viveu uma situação que se tornou tão traumática que até hoje sua mãe se lembra e lamenta.
Marleide estava em um supermercado com o filho no colo. O pequeno então começou a ficar inquieto e chorar. O desconforto do bebê chamou a atenção das pessoas ao redor e uma mulher branca se aproximou deles e disse a mãe de Matheus: “Por que você não entrega o bebê para mãe dele?”.
Além de ter que administrar o emocional do seu filho agitado e lidar com os olhares de julgamento, Marleide que na época trabalhava como camareira, respondeu de imediato a desconhecida. “Mas eu sou a mãe dele!”. A resposta surpreendeu todo mundo que achava que Marleide seria a babá do próprio filho.
Matheus conta essa história com detalhes porque ela marcou tanto a vida de Marleide, que até hoje eles conversam sobre esse dia. “Essa cena ficou marcada na minha mãe, inclusive ela conta essa história pra mim até hoje! Com essa pequena e curta experiência observamos que em pleno século 21 vemos pessoas com o pensamento limitado diante de diversos assuntos. Geralmente a sociedade associa uma mulher com fenótipo negro segurando uma criança branca como uma empregada ou desconhecida”, explica Matheus.
Deh Bastos publicitária e produtora de conteúdo especializado em criação de crianças pretas, explica que esse cenário, onde mães mais escuras com filhos mais claros, são lidas como empregadas, infelizmente não é raro.
“É muito importante a gente fazer um esforço de não reproduzir as práticas sociais que fazem parte do racismo estrutural. A falta de incentivo para construção da nossa identidade preta como brasileiros, muitas vezes nos deixa em um limbo de não pertencimento. Isso acontece de forma recorrente e nós devemos nos responsabilizar em não reproduzir esses comportamentos e julgamentos que alimentam essas feridas profundas que o racismo deixa em nossas vidas”, detalha.
Será que uma mãe loira com um filho negro seria confundida com uma babá?
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