Por: Estevão Lourenço*
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Beyoncé abala as estruturas da indústria da música a cada lançamento e isso é um fato. Depois de ser nomeada ”Rainha cultural do nosso tempo” com o lançamento da versão deluxe do disco “Lion King: The Gift” e do filme “Black is King” é inegável a contribuição cultural e o movimento estrutural na Indústria que Beyoncé provoca.
Mas há quem duvide das contribuições de Beyoncé, que é apelidada por consumidores da indústria pop de “Ativista de Telão”, apelido criado para deslegitimar trabalhos que abordam negritude e feminismo feitos pela cantora. O apelido tomou força nesta década, quando em 2011, em seu álbum 4 a cantora esbravejava que quem dominava o mundo eram as garotas no single “Run the World”. Em 2013 a surpresa do álbum visual e homônimo trazia novamente afirmações feministas explícitas na faixa “***Flawless” que conta com o texto “We Should All Be Feminists” da escritora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie.
Em 2016, o mundo recebia “Lemonade”, sexto álbum da cantora que contou com o lead single “Formation”, uma denúncia a violência policial com direito a uma performance no show do intervalo do 50º SuperBowl com figurinos inspirados no grupo antirracista Panteras Negras. O álbum também trata da superação de um relacionamento conturbado. O posicionamento de Beyoncé como uma mulher negra incomodou conservadores que tentaram boicota-la de diversas maneiras. O programa televisivo de comédia SNL chegou até fazer uma sátira intitulada “O dia em que os brancos descobriram que Beyoncé era negra”
Os trabalhos seguintes da cantora mostram que os boicotes não surtiram efeito e ela continua abordando o “empoderamento” de mulheres e negros em seus trabalhos.
O “empoderamento” não é uma pauta novo para Beyoncé, apesar dos apelidos e protestos acontecerem agora, faz mais de duas décadas que Beyoncé interpreta músicas com temáticas e estruturas semelhantes às que ela interpreta hoje.
O primeiro single número um da carreira de Beyoncé foi quando ela ainda fazia parte do grupo Destiny’s Child. “Bills, Bills, Bills”, lead single do álbum “The Writing’s on the Wall” de 1999 já trazia a narrativa de que ela pagava as próprias contas e que não bancária homem nenhum.
Em 2000 a faixa “Independent Women” surgiu como trilha sonora do filme “As Panteras”. O título da faixa já é auto explicativo, traduzido como “Mulheres Independentes”. A faixa mais tarde foi incorporada no terceiro álbum do grupo intitulado “Survivor” (2001). A faixa “Independent Women” permaneceu no topo da Hot 100 durante 11 semanas seguidas e depois de ser incorporada no álbum ganhou uma continuação intitulada “Independent Women part II” mais uma vez reforçando a ideia de que mulheres são independentes. Ainda no mesmo ano a canção que dava o nome ao álbum, “Survivor”, abre um leque de interpretações, uma delas em especial é a superação de um relacionamento.
Sua carreira solo se deu a partir de 2003 com o álbum “Dangerously in Love”. Aqui destaca-se a canção “Baby Boy” que se encaixa no gênero jamaicano dancehall. No mesmo álbum Beyoncé e Jay-Z, o novo casal da época, estourava com a canção “Crazy in Love” união que já havia ocorrido um pouco antes no álbum The Blueprint 2 (2002) de Jay-Z. “’03 Bonnie & Clyde” a primeira canção em parceria com o rapper trazia produção de Kanye West e elementos de “Me and My Girlfriend” do rapper 2Pac e de “If I Was Your Girlfriend” do cantor Prince, ícones da música negra.
Em B’day de 2006 a música negra grita em “Suga Mama” que possui samples de “Searching for Soul”, gravada pelo grupo de funk americano Jake Wade and the Soul Searchers. Este mesmo álbum rendeu a primeira turnê mundial da cantora intitulada “The Beyoncé Experience” em 2007. Nesta turnê Beyonce apresentou ao mundo a Suga Mama, sua banda formada totalmente por mulheres que possui o mesmo nome de sua música.
“I Am… Sasha Fierce” chega em 2008 como o terceiro álbum solo da cantora. O álbum conta com as conhecidas “Diva”, “If I Were a Boy”, “Single Ladies” e entre outros hits que explicitam a força feminina. Para além das músicas lançadas em álbuns alguns vazamentos, como “Black Culture” de 2009, mostra que Beyoncé, sempre foi Beyoncé. Devemos notar que para além da sonoridade, às vezes pop, mas nunca deixando de flertar com a música negra.
A cantora traz suas raízes e seus ideais durante toda a sua carreira, seja em passos de dança, vestimentas, penteados, produções ou em visuais. Dizer que Beyoncé é “ativista de telão” e mudou seu estilo para lucrar em cima de causas sociais é no mínimo mau-caratismo. Para além de vender o seu trabalho Beyoncé distribui autoestima e representatividade para a população preta. Mulher preta nenhuma precisa pedir autorização para falar sobre negritude e causas femininas que viveram e vivem em suas vidas.
*Nascido e criado no litoral do Estado de São Paulo. Remanescente Quilombola, Arte-educador e Jornalista em formação. Já foi colaborador em Epilogo.art, portal online sobre cultura independente brasileira. Buscando se especializar em Cultura, navega também nas águas da Arte e da Moda.
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