8 de Março, Dia Internacional da Mulher: Mas qual mulher?

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8 de Março, Dia Internacional da Mulher: Mas qual mulher?
A ativista e intelectual Lélia Gonzalez. Foto: Reprodução.

Este não é um texto ou uma espécie de manifesto contra as comemorações pelo Dia Internacional da Mulher. Reconheço o valor histórico da data como um marco de luta contra desigualdade de gênero. Uma luta que ainda não acabou. O que eu desejo é colocar questões para pensarmos juntas e juntos: existe um modelo de mulher? Podemos idealizar um movimento político que abarque as mulheres negras, indígenas, quilombolas, trans, lésbicas, camponesas e faveladas? Antes de continuarmos essa reflexão, vou apresentar um breve histórico da criação do Dia Internacional da Mulher. 

O processo de consagração do dia 8 de março como o Dia Internacional da Mulher tem sua origem no movimento sindicalista e socialista nos Estados Unidos e na Europa, nos primeiros anos do século XX. As principais pautas reivindicatórias eram: melhores condições de trabalho, redução de horas trabalhadas, equidade salarial e sufrágio universal. No decorrer dos anos, o movimento político e de crítica social que conhecemos como feminismo passou a incluir outras pautas, como liberdade sexual e reprodutiva. 

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Eva Alterman Blay, no ensaio 8 de Março: conquistas e controvérsias, apresenta uma suposta relação da data com dois incêndios em fábricas que ocasionaram a morte de centenas de mulheres em Nova Iorque em 1857 e 1911. Clara Zetkin, alemã e integrante do Partido Comunista, propôs um dia (sem definir qual) que marcasse internacionalmente os protestos e passeatas das trabalhadoras. Isso ocorreu em Copenhague, em 1910 no II Congresso Internacional de Mulheres Socialistas. 

Coloco mais uma reflexão: será que um movimento político e social que tem origem na Europa e nos Estados Unidos pode dar conta das lutas enfrentadas em outras partes do mundo? Por considerarem que de fato o feminismo europeu e norte-americano não daria conta disso, intelectuais como Lélia Gonzalez construíram, em rede, o feminismo afro-latino-americano. É incontestável que o feminismo teve um papel essencial para as lutas e conquistas das mulheres negras, pois, ao apresentar novas questões, incentivou a formação de grupos e estimulou a busca por uma nova maneira, ou maneiras, de ser mulher. O feminismo mudou o mundo. Ele deu um caráter político ao universo do privado, da casa e das relações entre homens e mulheres. 

Mas nós mulheres negras precisamos, com urgência, de um movimento para enfrentarmos as desigualdades raciais e de gênero de frente: o feminismo negro. Vou pedir ajuda de Lélia Gonzalez para, enfim, terminar este texto. No artigo Por um feminismo afro-latino-americano, Lélia nos convida a um exercício. Ao apresentar uma definição do feminismo, ela pede que troquemos a as palavras “homens e mulheres” por “brancos e negros”. O feminismo se baseia “na resistência das mulheres [dos negros] em aceitar papéis, situações sociais, econômicas, políticas, ideológicas e características psicológicas baseadas na existência de uma hierarquia entre homens e mulheres [brancos e negros], a partir da qual a mulher [o negro] é discriminada [o]”. Nós não tínhamos uma participação plena num movimento criado por mulheres brancas. Por isso, foi necessário criar um espaço onde o grito em combate à opressão da raça e de gênero ecoasse bem alto.  

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