Histórias Cruzadas retrata racismo no sul dos EUA

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Histórias Cruzadas retrata racismo no sul dos EUA

A luta pelos direitos civis dos negros dos anos 1960 nos EUA ganha um viés intimista e predominantemente feminino em Histórias Cruzadas, drama do diretor Tate Taylor que adapta o best-seller A Resposta, de Kathryn Stockett.

A produção recebeu quatro indicações ao Oscar: Melhor Filme, Atriz (Viola Davis), Atriz Coadjuvante (para Octavia Spencer e Jessica Chastain). O filme pode ser visto nos cinemas brasileiros desde a última sexta-feira (3).

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Ator de filmes como Inverno da Alma, e com pouca experiência na direção – este é seu segundo longa -, Tate Taylor teve a sorte de ser amigo de infância da autora do livro para comandar o projeto, do qual também assina o roteiro.

Mas seu maior trunfo é contar com um elenco afinado de atrizes de várias gerações, incluindo veteranas como Sissy Spaceck e Cicely Tyson e jovens como Emma Stone – o que valeu as premiações de Melhor Elenco, Melhor Atriz (Viola Davis) e Atriz Coadjuvante (Octavia Spencer) obtidas do Sindicato dos Atores da América (SGA).

Emma Stone (Amor a Toda Prova) interpreta a jovem Skeeter Phelan, que volta para casa, em Jackson, Mississippi, depois de cursar a universidade. Disposta a reverter a tradição sulista que destina às mulheres não mais do que o casamento e uma porção de filhos, Skeeter quer tornar-se jornalista. No jornal local, porém, não encontra mais o que fazer do que uma coluna de dicas sobre limpeza doméstica.

Por ironia, Skeeter encontra justamente neste trabalho o grande projeto que mudará sua vida e a de algumas empregadas negras da cidade, oprimidas por relações de trabalho, dominadas por leis segregacionistas que não se distanciam tanto assim da escravidão. Conversando com elas para a sua coluna, Skeeter decide revelar a história dessas mulheres – o que pode garantir-lhe um emprego em Nova York, onde tem contato com uma editora (Mary Steenburgen).

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Aibeleen (Viola Davis), a primeira empregada que fala com Skeeter, torna-se a real protagonista da história, como símbolo da opressão que a história procura resgatar. Mãe de um filho que morreu jovem, Aibeleen é o modelo de muitas dessas empregadas, criando os filhos das patroas, arcando com todo o trabalho de limpeza e cozinha e nem por isso podendo usar sequer os mesmos pratos, talheres muito menos o mesmo banheiro da família. Sua patroa, Elizabeth Leefolt (Ahna O’Reilly), chegou a construir um tosco toalete de madeira exclusivo para ela.

Nenhuma patroa encarna melhor a sordidez destas relações como Hilly Holbrook (Bryce Dallas Howard). Amiga de Elizabeth e Skeeter, ela é a líder dessa comunidade de donas-de-casa, no fundo submissas aos maridos, que descontam suas frustrações nesse exército de servidoras negras, tidas até legalmente como cidadãs de segunda classe.

Vilã contra a própria mãe ligeiramente esclerosada (Sissy Spaceck), Hilly será objeto de uma vingança por parte da empregada Missy (Octavia Spencer), mais rebelde do que Aibeleen. Apesar de suas diferenças, serão estas duas as maiores aliadas para o êxito do livro secreto de Skeeter.

Fica muito claro desde a primeira cena que o diretor optou por não levar o confronto da história até as últimas consequências. Deste modo, embora se mencione o risco real que correm as empregadas somente por falarem às escondidas com Skeeter, de modo nenhum isto se materializa na tela.

Tate Taylor flagra o racismo no cotidiano, na cozinha e na sala de jantar, mas não deixa entrar o clamor que naquele momento dominava as ruas. Assim, assassinatos como de um militante negro, Medgar Wiley Evers, em Jackson, e do próprio presidente John F. Kennedy, são mostrados de forma indireta, pela TV.

Nitidamente, o diretor sustenta um viés menos político, mais personalista e também mais superficial da questão racial norte-americana, que vem do livro original, de fundo autobiográfico. Neste sentido, Histórias Cruzadas soa um tanto artificial, no sentido de que retira energia daquilo mesmo que tenta construir. Salva-se, no entanto, por conta do trabalho magistral de suas atrizes, particularmente Viola Davis, descontando-se alguns excessos de Octavia Spencer, sem dúvida muito talentosa e lembrando às vezes Hattie McDaniel, a inesquecível Mammy de E o Vento Levou.

Também indicada ao Oscar, Jessica Chastain (A Árvore da Vida) carrega com segurança o papel de Celia Foote, uma forasteira rejeitada pelas mulheres locais e seguramente a personagem branca mais matizada e interessante, contribuindo com uma nota frágil e cômica.

(Por Neusa Barbosa, do Cineweb)

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