A verdade é que falaremos por muito tempo ainda sobre os problemas resultantes do preconceito e da discriminação racial, sobretudo nas datas que marcaram historicamente a vida do negro brasileiro e no mundo todo.
A ideia para o texto de hoje era outra. Queria trazer um pouco das minhas lembranças de criança como ajudante de cozinha da minha mãe, e como hoje estes temperos e sabores do interior paulista se refletem e compactuam na cultura da afetividade entre minhas filhas e eu.
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No entanto, enquanto escrevia, me atentei ao calendário e vi, com uma surpresa inevitável (os dias estão voando!) a data que se aproximava.
O Dia 21 de Março – Dia Internacional contra a Discriminação Racial foi criado pela ONU – Organização das Nações Unidas, – com o objetivo de associá-lo à lembrança do Massacre de Shaperville. Na data, tropas do exército de Joanesburgo, capital da Africa do Sul, atirou sobre uma multidão de manifestantes matando 69 pessoas e ferindo outras 186.
A manifestação contava com cerca de 20 mil negros que protestavam contra a lei do passe, que lhes impunha trazer cartões de identificação que especificassem as áreas por onde eles deviam transitar.
Qualquer pessoa que viva na realidade sabe o quanto o racismo ainda se faz presente todos os dias, e de forma velada ou não contra a população negra. Sobretudo neste contexto em tempos de pandemia.
Sendo assim, eu decidi trazer a reflexão de que num momento em que grande parte da população mundial está doente em casa ou nos hospitais, o preconceito e a discriminação racial resultam em problemas que vão além da cor da pele: a nossa saúde mental.
É pensar a todo o momento, e mesmo em meio a esse caos, criar mecanismos para que a nossa autoestima não seja diminuída e, assim, conseguir controlar nossas emoções mantendo a nossa estabilidade mental.
Na falta de certezas e inundados diariamente com notícias alarmantes que nos fazem sentir vontade de gritar de desespero e impotência, não nos esqueçamos jamais de olhar para a história dos nossos antepassados e concluirmos que, apesar de tudo, estamos aqui e o plano é seguir avançando.
Esse pensamento é de grande valor e nos serve de força para o enfrentamento do dia a dia, como uma memória que tenho da minha avó que se chamava Maria Isabel. Ela nasceu em 1902.
Alguém que nasceu naquele ano e negra certamente teve muitas histórias para contar. Uma vez me contou que, quando ainda era menina, trabalhava numa casa onde não lhe davam comida e a proibiam de trazer de casa por não gostarem dos “cheiros” da comida dos pretos.
Ela, para aliviar a fome quando o estômago doía, trazia nos bolsos do vestido pequenos palitos de cana-de-açucar. “Era assim que eu adoçava aqueles dias amargos”, lembrava ela.
Esse depoimento da minha avó nunca saiu da minha cabeça e sempre que me vem essa lembrança eu lacrimejo e tento trazer esse exemplo de valentia para a vida.
Com o tempo, podemos encarar a mudança de rotina imposta pela quarentena, como mais uma entre as situações difíceis que já enfrentamos.
E neste dia 21 de março, ainda que estejamos confinados e sem saber quando isto acaba, guardemos no coração a força e a coragem dos que já passaram por aqui antes e lutaram por nós.
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