“Obviamente a  questão financeira é importante, mas para mim a forma de servir a comida é o que me realiza como Chef”. Pedro Barbosa, mineiro de Paracatu, se destacou no cenário gastronômico brasileiro ao construir uma sólida carreira no renomado Grupo Maní em São Paulo. Após oito anos de uma trajetória ascendente que culminou na posição de subchefe, e uma participação memorável na 3ª edição do reality show “Mestre do Sabor”, onde foi vice-campeão, Pedro decidiu retornar às suas raízes em Minas Gerais. De volta à sua terra natal, ele fundou a sorveteria Uaiê, em Belo Horizonte, que se tornou um símbolo de brasilidade e inovação na gastronomia.

A Uaiê diferencia-se pelo uso de produtos sazonais e pela valorização dos sabores brasileiros. “Eu usar uma mexerica agora é totalmente diferente de usar no final do ano. Agora é a época da mexerica e fica tudo mais gostoso”, explica Pedro. A sorveteria não possui um cardápio fixo, o que permite uma constante renovação de sabores, adaptando-se às frutas da estação e aos produtos de pequenos produtores locais. “Gosto de brincar com o produto sazonal, chamando o fornecedor para saber o que ele tem de melhor no momento”, diz ele, reforçando o compromisso com a qualidade e a autenticidade de seus sorvetes.

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Pedro Barbosa também se destaca pelo papel de Diretor Criativo na Uaiê, uma posição que vai além do tradicional sócio-proprietário. “Ser Diretor Criativo é buscar novas soluções, ideias e conceitos para o produto e a marca. É como ser um food designer”, afirma. Para ele, a criatividade e a inovação são fundamentais, e isso se reflete em cada detalhe da sorveteria, desde os sabores dos sorvetes até a apresentação das sobremesas. Pedro ressalta a importância de um estudo aprofundado e constante: “Estudar bastante, buscar ideias e referências, e usar tudo a seu favor”, são, segundo ele, os pilares para o sucesso em sua área.

Apesar dos desafios, como conciliar a operação diária da sorveteria com outros projetos gastronômicos, Pedro mantém uma visão clara e focada no crescimento do Uaiê. “Ainda preciso fechar a sorveteria quando tenho algum evento gastronômico, mas estou focado no Uaiê e planejando projetos futuros”, revela. A dedicação integral ao negócio, onde ele mesmo executa todas as tarefas, desde lavar o banheiro até preparar os sorvetes, é um dos diferenciais que mantém a Uaiê autêntica e próxima de seus clientes.

Com um currículo robusto e uma paixão inabalável pela gastronomia, Pedro Barbosa transforma cada sorvete da Uaiê em uma experiência única, carregada de brasilidade e inovação. Para ele, a jornada no mundo dos sabores não é apenas uma questão de negócio, mas uma missão de vida que alimenta sua alma e enche seus olhos de brilho.

1. Minas Gerais é seu estado natal. Quanto tempo você ficou em São Paulo, o que destacaria em sua carreira na cidade e o que te levou a voltar para MG?

Pedro: Sim, Minas é meu estado natal, estou muito feliz de ter voltado para cá. O que me motivou a voltar para Minas é justamente a regionalidade, sabe? Eu acho que represento muito meu estado em essência, até no jeito de viver e de se comportar. Eu sentia falta disso em São Paulo, né? Vivi maravilhosos 8 anos em São Paulo, comecei como estagiário no Maní e continuei até sair de lá como Chef.  Fui Chef da Casa Manioca, que era o espaço de eventos do Maní, mas durante esse período eu fui auxiliar, cozinheiro, chefe de praça, subchefe do Maní. Foi uma carreira construída com muito trabalho, foi maravilhoso ter vivido essa experiência em São Paulo. Fiz muitos amigos, me conectei, fiquei muito contente mesmo. Essa volta para casa se deu por essa vontade de representar minhas raízes aqui. Eu ainda precisava ter uma vivência porque saí muito novo, terminei a faculdade e fui direto para São Paulo. Então, não vivi a grande alavancada que a gastronomia brasileira teve nos últimos anos e precisava voltar. Estou muito feliz de ter voltado para Belo Horizonte e já estar construindo uma carreira aqui.

2. O Uaiê Sorvetes entrou na sua vida de que forma e, para você, quais são os maiores desafios que os chefs enfrentam ao empreender?

A Uaiê surgiu na minha vida muito pela vontade e necessidade de criar algo novo. Aqui em Belo Horizonte, ainda não havia uma sorveteria que apresentasse uma sobremesa na casquinha com uma estética diferenciada. Em uma viagem para a Itália, fiquei muito apaixonado por sorvete. Sempre gostei muito, tanto que participei do programa culinário “Mestre do Sabor” com sorvetes. Vi nisso uma oportunidade de empreender, mas de uma forma diferente, não queria criar apenas mais uma sorveteria. Queria fazer sobremesas na casquinha. É algo novo, e as pessoas estão amando essa novidade, está sendo muito legal. Todos os meus sorvetes têm complementos que os completam em verdadeiras sobremesas, extremamente bem apresentadas, visualmente bonitas e muito gostosas. Quando você come tudo junto, a experiência te leva a uma sobremesa de restaurante. 

Eu acho que o maior desafio que os chefs enfrentam hoje em dia para abrir um restaurante é a criação de uma identidade nova, sabe? É levar um produto novo e também ganhar a confiança do mercado. Eu me considero privilegiado de ter participado de um programa de televisão que me deu uma visibilidade muito boa, mas muitas pessoas que estão começando, que não tiveram essa visibilidade, enfrentam um período de descoberta para que as pessoas entendam o que é o produto e qual a diferença dele no mercado. É um ponto complicado para quem está começando do zero e quer entrar em um mercado competitivo. Muitas vezes, vemos pessoas fazendo uma comida incrível e ganhando pouco dinheiro, enquanto outras fazem uma comida não tão boa e ganham muito. Isso acontece porque o que vende é o conjunto de elementos: como você se apresenta, onde está localizado, como trabalha com redes sociais. Hoje em dia, tudo é muito digital. As pessoas precisam entender essa dinâmica e administrar bem tudo isso para conseguir aparecer no mercado.

3. Estamos em uma estação mais fria. Como manter o negócio relevante durante o inverno?

Sim, estamos numa estação fria, e a Uaiê está conseguindo se manter justamente pela criatividade de criar sobremesas na casquinha. É curioso isso, e me possibilita trabalhar nas festanças que acontecem pelo Brasil afora. Nossa gelateria é bem brasileira, então não podia deixar de fora as festas juninas. Trouxemos um cardápio todo junino, trabalhando com amendoim, milho, coco, canjica, e isso atrai as pessoas mesmo no frio. Uma sobremesa bem elaborada e pensada faz com que as pessoas procurem o seu produto. Coloquei toda a criatividade no cardápio festivo, e isso tem trazido resultados positivos. Hoje consigo vender até mais do que quando comecei, no final do verão. Quero continuar com as datas comemorativas e a sazonalidade. Eu usar uma mexerica agora é totalmente diferente de eu usar no final do ano. Agora é a época da mexerica e fica tudo mais gostoso. Eu nunca paguei por uma publicidade da Uaiê, todo nosso alcance está sendo através do boca a boca. 

4. Quantos sabores você oferece na sorveteria e qual foi o critério para a escolha desses sabores?

Hoje acredito que estou com 12 sabores fixos, mas eles mudam a cada uma ou duas semanas, no máximo. Estou sempre trocando um ou outro. Temos os clássicos, como requeijão moreno, canudinho de doce de leite, frutas vermelhas e maracujá com coco, que estão desde a primeira semana do Uaiê. Todos os demais são sazonais,  festivos, feitos com frutas da estação e de pequenos produtores locais. Tomo cuidado para mudar o cardápio frequentemente, tanto que não tenho um cardápio fixo, ele é impresso a cada dois dias. Gosto de brincar com o produto sazonal, chamando o fornecedor para saber o que ele tem de melhor no momento. Não trabalho com saborizantes, pistache ou Nutella. Quero que o Uaiê seja brasileira. Estou tentando trazer várias regiões, com frutos do Nordeste, do Norte, e estou imerso em uma pesquisa sobre os frutos da Mata Atlântica e da Floresta Amazônica. Acho isso maravilhoso. Estou buscando produtores que possam me fornecer esses produtos em Belo Horizonte.

5. Você sente falta do dia a dia na cozinha de restaurantes? Como concilia a sorveteria com outras atividades na gastronomia? Sinto muita falta da dinâmica e do serviço de restaurante. Cresci e amadureci trabalhando dessa forma, mas tento colocar um pouco disso no Uaiê. Nossas sobremesas são empanadas e finalizadas dentro da casquinha, e a dinâmica de fazer o serviço é parecida, soltando comandas para os clientes. Atualmente, ainda não tenho funcionários. Sou eu quem lavo o banheiro, faço sorvetes, faço a faxina, lavo a louça, vou ao mercado e pago os fornecedores. Comecei sozinho, sem sócios e sem muito dinheiro para contratar. Dei a cara a tapa e comecei do zero. Tenho ajuda nos finais de semana, que são os dias de maior movimento. Isso tem crescido cada vez mais e me deixa muito contente. Ainda preciso fechar a sorveteria quando tenho algum evento gastronômico, mas estou focado no Uaiê e planejando projetos futuros. Quero ter um restaurante para 20 pessoas, com a mesma estética de brasilidade do Uaiê, trabalhando com pequenos agricultores e tendo um menu degustação farm-to-table. Acho isso muito interessante e quero fazer algo que alimente a minha alma. Para mim, servir comida dessa forma é o que faz meus olhos brilhar. Obviamente a  questão financeira é importante, mas para mim a forma de servir a comida é o que me realiza como Chef. 

6. O que é ser um Diretor Criativo em um empreendimento gastronômico, é uma área que poderíamos sugerir para nossos leitores do Guia?

Sou eu quem cria todos os sabores, combinações e emprato todos os sorvetes que saem do Uaiê. Não são as pessoas que pegam e se servem. Isso é um diferencial da nossa sorveteria.  Ser Diretor Criativo é buscar novas soluções, ideias e conceitos para o produto e a marca. É como ser um food designer. Essa área já virou uma pós-graduação em gastronomia, e acredito muito nessa questão. As pessoas às vezes se surpreendem ao saber que sou eu quem faz os sorvetes todos os dias, com frutas de verdade e um trabalho de pesquisa. Ser Diretor Criativo envolve criatividade, leituras, referências, e estar conectado com música e arte. Sou apaixonado pelo trabalho da Beyoncé, por exemplo, e vejo como ela faz uma pesquisa profunda antes de lançar um álbum. Acho que o mesmo vale para um Diretor Criativo: estudar bastante, buscar ideias e referências, e usar tudo a seu favor.

UAIÊ
Rua Padre Odorico, 78, São Pedro – BH
Instagram: @uaiesorvetes

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