
“Em Cabral eu aprendi uma porção de coisas, digo em Cabral significando também com Cabral, que aprendi um bando de coisas, eu confirmei outras coisas de que eu suspeitava, mas eu aprendi, por exemplo, uma coisa que é a necessidade que têm o educador progressista e o educador revolucionário?” – Paulo Freire
Não se sinta solitário caso desconheça esse fato. Estamos no Brasil! Um país que sempre escondeu e distorceu a nossa história. O continente africano, berço da civilização, é o nascedouro de grandes heróis que enfrentaram as potências colonialistas, além de grandes cientistas e intelectuais. Absurdamente, essas informações não chegam à população brasileira por conta do racismo presente nas instituições escolares. E olha que somos mais da metade da população cuja ancestralidade está ligada àquele continente.
Notícias Relacionadas



A educação brasileira preocupa-se em ensinar sobre os personagens brancos, criminosos e controversos da história, mesmo existindo leis que determinam a abordagem histórica da cultura africana e afro-brasileira. O Brasil adora exaltar estátuas, viadutos, ruas e avenidas, entre outros espaços públicos, com nome de pessoas ligadas à ditadura. Isso nos oferece uma pista sobre qual o viés ideológico reinante nas classes dominantes, responsáveis pelas abjetas homenagens.
Amílcar Cabral era um homem brilhante. Nasceu em solo guineense no dia 12 de setembro de 1924. Ele foi um revolucionário e arquiteto da independência de Guiné-Bissau e Cabo Verde. Poeta, engenheiro-agrônomo e pan-africanista, participou da fundação do Partido Africano Para a Independência da Guiné-Bissau e Cabo Verde — PAIGC, em 1956. Esses países eram colônias de Portugal, que na época estava sob o regime sangrento de António de Oliveira Salazar. A destruição daquele fio que os amarrava ao colonialismo precisava ser desatada não somente legalmente. Cabral incluía nesse processo a abolição consciente dos valores incutidos no interior de cada africano. Arrancar todos os germes da submissão colocados em solo africano.
Para Cabral, não adiantaria a libertação objetiva sem que a subjetiva fizesse parte. Ele conceituou a “reafricanização dos espíritos” como o instrumento para esse processo, ou seja, o resgate da cultura africana por meio de atividades artísticas. Ademais, acreditava na educação como método inegociável para lograr sucesso, pois a mesma teve papel fulcral para ampliar valores estranhos aos africanos. “Toda a educação portuguesa deprecia a cultura e a civilização do africano. As línguas africanas estão proibidas nas escolas. O homem branco é sempre apresentado como um ser superior e o africano como um ser inferior. Os conquistadores coloniais são descritos como santos e heróis. As crianças adquirem um complexo de inferioridade ao entrarem na escola primária. Aprendem a temer o homem branco e a ter vergonha de serem africanos (…)”
Muitos estudiosos chamam Amílcar Cabral de “Pedagogo da Revolução” devido às formulações de postulados e construção de conhecimento com os guerrilheiros do PAIGC. A sua estatura na educação conquistou até o educador Paulo Freire, Patrono da Educação Brasileira, e confesso admirador do revolucionário africano. Amílcar Cabral foi assassinado em 20 de janeiro de 1973, antes de ver o sonho da independência concretizado. Mas os caminhos construídos foram aproveitados. Em setembro desse mesmo ano a Guiné-Bissau proclamou a independência. Dois anos depois, Cabo Verde também se tornou independente.
Cabral continua a inspirar diretamente através da sua própria história, e indiretamente nas obras de Paulo Freire, um dos educadores mais lidos do mundo. Portanto, a pedagogia freiriana tem uma parte do nosso herói negro.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CABRAL, Amílcar . Guiné-Bissau – nação africana forjada na luta. Lisboa. Nova Aurora, 1974.
CABRAL, Amílcar. Unidade e Luta I. A Arma da Teoria. Textos coordenados por Mário Pinto de Andrade, Lisboa: Seara Nova, 1978.
FREIRE, P. Sobre Africanidade: Amílcar Cabral, pedagogo da revolução. In: FREIRE, P; ARAÚJO, A. M. (org.). Pedagogia da tolerância. 5. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2016. p. 115-155.
ROMÃO, José Eustáquio; GADOTTI, Moacir. Paulo Freire e Amílcar Cabral: a descolonização das mentes. São Paulo: Editora e livraria Instituto Paulo Freire, 2012.
Notícias Recentes


