Um vendedor ambulante de balas chamado Matheus Almeida foi agredido após ser confundido com um suposto ladrão, na última quarta-feira (6), no bairro de Copacabana, na Zona Sul do Rio de Janeiro. O caso aconteceu um dia depois que vídeos de homens que se denominam ‘justiceiros’ afirmando que iriam revidar com violência à onda de assaltos na região serem compartilhados na internet.
A agressão ocorreu em um restaurante de Copacabana, onde Matheus fazia a venda de balas para um cliente no local quando o garçom do estabelecimento o atacou com socos sem qualquer justificativa.
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“Sou pai de família, trabalho honestamente. Sou trabalhador, todo mundo sabe. Olha como eu me visto, não sou mendigo, não sou crakudo. Eu saí lá de Santa Cruz, tenho uma filha, uma esposa e preciso levar alimentação para casa. Não preciso roubar nada de ninguém. Meu negócio é trabalhar”, desabafou Matheus em entrevista para o RJTV.
Nos últimos dias, uma onda de crimes assombrou Copacabana, após uma série de assaltos e agressões na região. Câmeras de segurança registraram ataques a mulheres e a agressão a um homem que ficou desacordado após o ataque.
Essa escalada de violência recente despertou o ressurgimento de grupos autointitulados “justiceiros” na localidade, uma prática já observada em 2015. Esses grupos usam as redes sociais para se organizar e praticar justiça com as próprias mãos, o que é crime, conforme o artigo 345 do Código Penal Brasileiro.
Nos vídeos dos chamados ‘justiceiros’ que circulam na internet, os membros de um grupo tentam ocultar seus rostos enquanto gritam que “na zona sul só há playboy”. Em outra filmagem, um jovem negro é mostrado ensanguentado.
“Eu vou partir assim [com soco-inglês], quebrar osso da cara. Deixar eles [sic] pior do que eles deixaram a coroa”, declarou um membro de um grupo identificado como União dos Crias.
Em resposta a esses acontecimentos, a Polícia Civil anunciou ter ciência da situação e afirmou estar em diligência para identificar os envolvidos e esclarecer os fatos. Delegados das 12ªDP (Copacabana) e 13ªDP (Ipanema) estão empenhados nas investigações, analisando vídeos das redes sociais para identificar os suspeitos. O secretário de Segurança do Rio de Janeiro, Victor Santos, comparou a atuação dos ‘justiceiros’ às milícias e grupos de extermínio, reforçando a ilegalidade dessa prática.
Pele alva x Pele Alvo
Em um artigo publicado no Mundo Negro na última quarta-feira (6), o colunista Mauro Baracho já havia alertado sobre o risco que esses grupos de ‘justiceiros’ representam para pessoas negras, que em uma sociedade estruturalmente racistas, são vistas como um risco, como inimigos.
“O que quero dizer é que qualquer formação de instituição por membros de uma sociedade estruturalmente racista vai dar em mais reprodução de racismo. Neste caso, falamos da instituição do linchamento, do justiçamento que, alias, é ilegal. O nome disso é grupo paramilitar, ou milícia. A branquitude acrítica, aquela que negligencia o racismo, tende a se orientar por repelir e punir o diferente. Afinal, Narciso acha feio o que não é espelho. Qualquer pessoa negra, principalmente homens negros, que vá caminhar por Copacabana será entendida como uma possível suspeita.”, escreveu ele.
Mauro também afirmou que o cenário não é bom, comparando o nível de violência institucional contra o corpo negro, sobretudo homens negros no caso da polícia e a violência desses grupos paramilitares: “Parece clichê, mas, provavelmente, estamos diante de mais um caso de pele alva caçando pele alvo. O cenário não é nada bom. Se a polícia militar, que é uma das forças de segurança legalizada, comete diversos erros contra nosso povo, imagine do que serão capazes os grupos militares que agem à margem da lei.”
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