
A diretora e roteirista Sabrina Fidalgo publicou nas redes sociais um texto contundente sobre como personagens negros seguem sendo representados no audiovisual brasileiro. Em sua análise, ela denuncia o que chama de “roubo de narrativas”, dispositivo que mantém a hegemonia da branquitude mesmo em projetos que se apresentam como “antirracistas” ou comprometidos com diversidade.
Como exemplo, Sabrina estampou duas produções em altas neste momento: a novela remake de Vale Tudo, escrito por Manuela Dias, que tem sido duramente criticada pelos rumos que levou a Raquel, personagem de Taís Araujo, após perder o restaurante e voltar a vender sanduíche na praia; e o filme ‘A Melhor Mãe do Mundo’, dirigido por Anna Muylaert, em cartaz nos cinemas, que retrata a história de uma catadora de materiais recicláveis, interpretada por Shirley Cruz, que luta pra reconstruir a vida ao lados dos filhos, após sofrer violência doméstica.
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Segundo Sabrina, a lógica do mercado audiovisual ainda centraliza pessoas brancas nas posições de poder — decidindo quem conta as histórias, quem deve ser ouvido e, principalmente, quem é mais bem remunerado. A participação de profissionais negros, quando acontece, muitas vezes é reduzida a papéis de “consultoria” ou “colaboração”, sem garantir autoria plena.
“Ao enfatizar um imaginário involucrado com a estética da miséria, pobreza, desgraça, fraqueza, submissão, co-adjuvantismos, luta, feiúra, sujeira, solidões, infortúnios e dissabores ESSES autores brancos de classe média alta, – que certamente jamais conviveram com uma pessoa não branca em seus círculos sociais que não fosse em situação de subserviência – estão, na verdade, dando uma ré em velocidade 5 no que tange qualquer tipo de avanço das questões raciais e por um imaginário justo e democrático.”, escreveu.
A cineasta afirma que a insistência na “pornografia da miséria” como forma de representar personagens negros reforça estigmas e limita a imaginação coletiva sobre outras existências possíveis. Para ela, autoria é poder e, enquanto a criação e o controle das narrativas continuarem majoritariamente nas mãos de grupos hegemônicos, não haverá mudança real na forma como corpos negros são vistos e retratados.
Sabrina também chama atenção para a responsabilidade sistêmica, que, segundo ela, subestima a inteligência de 56,9% da população brasileira, formada por pessoas negras. “Enquanto os donos das narrativas continuarem a pertencer a grupos hegemônicos nenhuma história colonial será mudada, mesmo se valendo de um pseudo protagonismo fetichizado na frente das câmeras”, finalizou.
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