
Em um setor historicamente masculino, a marceneira Luana Hazine construiu uma carreira marcada por superação e identidade. Sua trajetória começou após um episódio de burnout em 2017, quando buscou recomeçar longe do ambiente corporativo. Oito anos depois, ela se dedica integralmente à marcenaria, unindo funcionalidade, design autoral e ancestralidade em suas peças.
Natural de São Paulo, Luana descobriu o ofício ao revisitar memórias da infância, como a construção de um carrinho de rolimã. “Esse momento me fez recordar o quanto eu gostava de mexer com madeira e a alegria de usar uma peça feita por mim. A partir daí, busquei escolas e cursos e comecei na marcenaria com madeira maciça. Desde então, já são oito anos aprendendo e ensinado todos os dias”, conta. Formada no Atelier da Madeira, escola tradicional na capital paulista, ela enfrentou resistência por ser mulher em um ambiente predominantemente masculino.
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Além do preconceito de gênero, Luana destaca a falta de referências de mulheres negras na área. “O desafios são vários. Tanto de ter jogo de cintura com pessoas que ainda desconfiam do trabalho por eu ser mulher, quanto o desafio de representatividade que é ainda maior. É difícil encontrar outras marceneiras negras por aí. Elas existem, eu conheço algumas, mas ainda temos poucas referências. Isso aumenta a responsabilidade de abrir portas”, afirma. Entre suas inspirações estão a britânica Helen Welch, uma das poucas marceneiras negras em destaque no exterior, e o mestre japonês Morito Ebine, especialista em técnicas tradicionais.
A reação dos clientes, segundo ela, ainda é de surpresa, mas evoluiu para admiração. “As reações são sempre de surpresa e num geral, atualmente, mais de admiração do que de desconfiança. Especialmente porque eu trabalho com peças autorais na maioria dos casos, então as pessoas já me contratam [me] conhecendo. Mas há sempre uma curiosidade sobre como me tornei marceneira, o porque e enfim”, relata. Sua criação mais famosa, a bandeja Date — que acomoda taças de vinho sem tombar —, virou carro-chefe e símbolo de sua identidade como artesã.
Marcenaria com raízes afrocentradas

Além da funcionalidade, Luana incorpora elementos de sua ancestralidade em peças que mesclam técnicas tradicionais e design contemporâneo. “Quero trazer uma luz sobre esse fato. Minhas peças carregam não apenas funcionalidade, mas também uma conexão profunda com minha identidade e minhas raízes”, explica. Desde 2022, ela oferece mentorias para mulheres interessadas em marcenaria, incentivando a ocupação de espaços não tradicionais.
Após anos conciliando a profissão com o marketing, decidiu se dedicar exclusivamente à madeira em 2025 e oferece mentoria para outras mulheres que querem desbravar o trabalho na marcenaria. Seu conselho para outras mulheres é direto: “O grande desafio é começar, porque depois que começa a gente não para mais. Então meu conselho é, comece! O primeiro passo é o essencial para essa nova porta de possibilidades”.
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