
Carnaval brasileiro de 2025 ficará marcado pelo esforço da branquitude em demonizar religiões de matriz africana e por tentativas de desassociar a festa, que no país possui profunda influência africana, dos temas afro, abordados nos sambas-enredos. A Unidos de Padre Miguel, escola de samba que retornou ao Grupo Especial do Carnaval do Rio após 52 anos, anunciou nesta sexta-feira (7) que entrará com recurso para contestar o rebaixamento sofrido durante a apuração do Carnaval deste ano. A agremiação, que levou para a Sapucaí um enredo sobre Iyá Nassô e o Axé da Casa Branca do Engenho Velho — considerado o mais antigo templo afro-brasileiro em funcionamento —, terminou em último lugar e foi rebaixada para a Série Ouro.
Um dos pontos de controvérsia foi a penalização de 0,1 ponto aplicada por um dos jurados, que justificou a decisão pelo “excesso de termos iorubás” no enredo. A crítica gerou reação imediata da escola, que respondeu em sua conta no X (antigo Twitter): “Esquecer nossa oralidade para atender a um acadêmico não negro não está nos planos da nossa escola”. Em nota oficial, a diretoria da Unidos de Padre Miguel afirmou que o resultado da apuração foi “inaceitável” e não refletiu o desfile apresentado na avenida. “Identificamos inconsistências graves, incluindo penalizações relacionadas a um problema técnico no caminhão de som, o que foge da responsabilidade da escola”, destacou o comunicado.
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Outro jurado também descontou um décimo da pontuação, argumentando: “Em uma letra que exerce tamanha função na comunicação de palavras de matriz africana, a comunicação de palavras em língua portuguesa é decisiva para efeitos descritivos e/ou interpretativos do enredo”.
A agremiação ressaltou que o desfile foi “digno, vibrante e emocionante”, reconhecido pelo público e por entusiastas do Carnaval, mas que os jurados “não enxergaram da mesma forma”. A escola também afirmou que está reunindo documentos e evidências para embasar a contestação, com o objetivo de garantir uma apuração “justa e imparcial”.
“Nossa luta é por justiça e pelo reconhecimento do esforço incansável de nossa comunidade. Seguimos confiantes de que a verdade prevalecerá”, concluiu a nota.
O rebaixamento da Unidos de Padre Miguel ocorreu em um ano marcante para a escola, que celebrou a história e a resistência do terreiro de candomblé mais antigo do Brasil. Apesar do revés, a agremiação promete se reerguer. “O amor pelo samba e a garra de nossa comunidade são maiores do que qualquer resultado. Vamos voltar ainda mais fortes, porque o nosso lugar é no Grupo Especial”, afirmou a escola.
O caso reacendeu debates sobre a representatividade cultural e a valorização das raízes afro-brasileiras no Carnaval, além de questionamentos sobre os critérios de julgamento utilizados pelos avaliadores. Enquanto aguarda o desfecho do recurso, a Unidos de Padre Miguel mantém sua tradição viva e reafirma o compromisso com suas origens.
(Com informações do Portal LeoDias)
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