Uma artista versátil, que canta e atua com a mesma intensidade, Zezé Motta celebra suas mais de cinco décadas de carreira no episódio da série documental ‘Tributo’ que vai ao ar nesta sexta-feira (10), na TV Globo, após o Globo Repórter. O programa retrata o legado de grandes artistas que marcaram a dramaturgia.
Eternizada como Xica da Silva, a protagonista do filme homônimo de Cacá Diegues lançado em 1976, ela reconhece que o longa é um divisor de águas em sua carreira, projetando o seu nome em todo o mundo. “Sempre falo que chegar aos 79 anos tem essa vantagem: há muita história para contar”, comenta Zezé, cuja vocação artística se manifestou ainda na pré-adolescência. Na sua festa de formatura, o acaso foi providencial, já que uma pessoa da plateia, encantada por seu desempenho, lhe presenteou com uma bolsa para o Tablado, tradicional curso de teatro.
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No programa, Zezé relembra com carinho pessoas que foram cruciais para a sua trajetória, como a comadre Marília Pêra, que foi quem sugeriu seu nome artístico. Já Moraes Moreira, Rita Lee e Roberto de Carvalho foram alguns dos nomes que contribuíram para impulsionar a sua carreira de cantora. Junto com o marido, a rainha do rock assinou “Muito Prazer, Zezé”, canção que faz parte de seu álbum de estreia.
Até conquistar destaque, porém, Zezé precisou contornar uma série de adversidades. Da fiscalização dos censores da ditadura às críticas pela falta de pudor ao mostrar seu corpo. Mas o que mais a incomodou, ao longo de várias décadas, foi o pouco espaço para artistas negros.
“Quando as coisas deram certo para mim, eu comecei a olhar em volta e falei: ‘cadê todo mundo?’ Éramos realmente meia dúzia de atores negros em cena e havia um revezamento. Quando a Neusa Borges estava em cena, não tinha lugar para mim, pois éramos contemporâneas. Quando a Chica Xavier estava em cena, não tinha lugar para a Ruth de Souza”, lamenta Zezé, que criou um banco de dados para atores negros CIDAN – Centro Brasileiro de Informação e Documentação do Artista Negro, em 1984.
A atuação dela em prol do protagonismo negro é destacada por colegas como Antonio Pitanga, Camila Pitanga, Sheron Menezzes, Luís Miranda, Elisa Lucinda, Rita Batista, Léa Garcia, entre outros, além do diretor Cacá Diegues.
Confira abaixo a entrevista com Zezé Motta para a Globo:
Como se sentiu ao receber o convite para o projeto ‘Tributo’?
Assim que o convite chegou, eu confesso que fiquei meio sem entender. Depois, parei para pensar, eu sou da década de 1940. São 55 anos de carreira, estreei na ditadura, outro dia meu empresário fez as contas: tenho mais de 70 filmes no currículo. As pessoas na rua me tratam, às vezes, igual a uma entidade. Aí cheguei à conclusão de que talvez, realmente, minha vida seja interessante para ser contada. Eu me senti feliz, honrada, respeitada.
Qual o momento mais emocionante das gravações?
O momento mais emocionante foi quando eu revi, na minha casa, o vídeo onde eu me apresentava pela primeira vez em Nova York.
Qual a sensação ao rever imagens que marcaram a sua história?
Pude perceber que o tempo passa e tudo valeu a pena.
Como espera ser lembrada pelas futuras gerações?
Na verdade, não é que eu espere, já sinto isso: as pessoas me param na rua e me agradecem, contam-me que, graças ao meu trabalho, acreditaram nelas mesmas e se sentiram representadas em um espaço onde existiam poucos negros.
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