Ser negro no Brasil é mais, muito mais do que ser uma pessoa que sofre racismo e discriminação cotidianamente. Nós somos pais, mães, filhos, filhas, namorados e namoradas, estudantes, profissionais e consumidores. E se a publicidade quer mostrar que somos todos iguais, deveria então mostrar narrativas que comprovem isso, documentando em suas campanhas, que nosso dia-a-dia, não é repletos de batalhas e lástimas, apesar de todo o racismo real que vivemos. Não é preciso problematizar o tempo todo só por que decidiram incluir negros no job. E essa naturalidade (que por sinal Apple já faz muito bem, como comento nesse artigo) seria minha sugestão, como um primeiro passo para um publicidade realista e sincera. Veja alguns exemplos.
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Primeiro passo: Naturalidade nas campanhas
No comercial abaixo, um homem negro está com sede e bebe água. Simples assim.
Deixe de lado o que não é mais necessário e continue avançando.
Deixe de lado o que não é mais necessário e continue avançando. Chegou a hora do detox para encarar novos desafios. #VivaLeve #VivaDetox
Posted by Bonafont Brasil on Friday, March 31, 2017
Nesse a mãe de derrete com o beijo do filho, assim como as brancas, asiáticas também fazem.
Essa campanha da Nescau, com um forte apelo para o empoderamento da mulher por meio do esporte, mostra também a mulher negra de uma maneira que a gente não costuma ver em grandes campanhas.
https://www.facebook.com/NESCAU/videos/1322348734491563/
Um casee muito especial é essa campanha da Julia Plus, que é, sem dúvida uma das mais representativas para mulheres negras e para mulheres gordas.
Com modelos lindas,e a bela canção Córrego Rico, cedida por Ellen Oléria, o vídeo da campanha mostra como mulheres grandes, são doces, delicadas, amorosas e sensuais.
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FASHION FILM OUTONO INVERNO 2017 JULIA PLUSMergulhe em um universo cheio de representatividade, tendências e referenciais de moda que irão inspirar o seu estilo para uma estação muito mais fashion e empoderada!O que vocês sentiram ao assistir nosso fashion film? #contapragente
Posted by Julia Plus on Tuesday, March 21, 2017
Elas representam o grupo de mulheres mais rejeitadas, depois das mulheres trans e nessa campanha cada movimento do cabelo, o andar, o sorriso das modelos, mostram que elas amam a si mesmas , umas as outras e portanto, merecem também ser amadas e desejadas por outros.
Tudo isso, sem nenhum milímetro de apelo para questões de diversidade diretamente, nem para a da representatividade. O corpo gordo e negro está lá, porque ele está em todos os lugares.
“A escolha da casa também tem seu fundamento, ela foi construída em 1872 num período escravocrata, inclusive descobri que nesse ano foi divulgado o único censo no país que registrou a escravidão. Hoje essas mulheres voltaram livres e usufruindo de todo o espaço dessa casa que já foi um cenário de sofrimento”, explica o diretor criativo da campanha Mauro Miglioli Junior.
Segundo passo: Diversidade também na criação
O publicitário Fernando Montenegro, da ETNUS | Afroconsumo em seu artigo, publicado aqui no Mundo Negro, sobre publicidade e consumo, aponta que a falta de negros nos processos criativos das campanhas também é um grande problema. “Os responsáveis pela comunicação/produção industrial são pessoas não negras, que têm, como repertório, um imaginário bem descolado da realidade do público com quem querem se comunicar e ainda se alimentam dos estereótipos ultrapassados acerca dos afrodescendentes”, explica o pesquisador.
E não é exagero. A falta de negros no processo criativo criam coisas assim:
O publicitário negro vai ser aquele pessoa estratégica e fundamental em uma campanha sem estereótipos e equívocos. As mulheres negras são as que menos se casam, portanto uma campanha com casais, deveriam poderiam, sempre ter uma mulher negra. E esse é um exemplo de dados, que provavelmente publicitários brancos não saibam.
E não adiante ter o publicitário negro para agradar a opinião pública. Dê a ela ou a ele, poder de decisão, escute o que ela tem dizer.
Terceiro passo: Anuncie em mídias negras
Inclua no seu planejamento, mídias negras para a exibição das suas campanhas. Dentro de um projeto de inclusão digital que sou fundadora, os Negros Digitais, temos grupos de discussão e a falta de anunciantes e patrocinadores é assunto frequente. Veículos incríveis não prosseguem por falta de anúncios.
As agências parecem não ter mapeado a rica mídia online da comunidade negra, além de vários projetos sócio-culturais que poderiam carregar as marcas de seus clientes. E todos estão perdendo com isso. Há quem diga que influenciadores negros, também ganham bem menos que brancos para as mesmas funções, isso quando são pagos.
Então do que adianta fazer campanha com a comunidade negra se não se anuncia em veículos produzidos por ela?
A diversidade na mídia, nada mais é, do que ampliar a visibilidade da pluralidade humana. Felizmente a presença negra tem aumentação nas campanhas, mas até que ponto a comunidade negra está envolvida no processo ou é ouvida após o lançamento. Vamos dialogar e fazer melhor.
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