Setembro chegou com as melhores expectativas para os fãs da Tássia Reis! No próximo dia 9, segunda-feira, a rapper lançará ‘Topo da Minha Cabeça’, seu quinto álbum de estúdio, um disco com inspirações que vão Banda Black Rio aos Originais do Samba, mesclando Samba Groove com Rap, Neo Soul, Funk Ijexá, R&B e uma pitadinha de Rock.
“Não, não vou calar, não vou correr, nem me sujeitar pra te obedecer”. Esse é trecho do single ‘Asfalto Selvagem’, lançado recentemente pela artista em todas as plataformas de streaming, para abrir caminhos do novo álbum que está por vir. A faixa narra a relação de Tássia Reis com a periferia de Jacareí, interior de São Paulo, onde nasceu e cresceu, e o impacto do samba nas ramificações de quem se é.
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“Eu tô muito feliz de poder estar em contato com essas influências e perceber que faz tão parte de mim. Acho que foi uma coisa que eu demorei um pouco pra me apoderar, que é dessa minha vivência no samba também, da vivência da minha família, dos meus pais”, diz em entrevista ao Mundo Negro.
Além do novo disco, a cantora chega ao Rock in Rio 2024 no dia 20, com um show super especial no palco Sunset, dedicado apenas às mulheres negras: Luedji Luna convida Tássia Reis e Xênia França.
“São artistas, cada uma com a sua construção, com a sua identidade. Mas a gente faz parte de uma cena que vem crescendo a cada dia e que é muito relevante. Acho que a gente representa muita coisa, separadas, juntas, imagina juntas, né? Imagina juntas mesmo. Uma potência muito grande”, conta empolgada.
Leia a entrevista completa abaixo:
Eu queria que você contasse um pouco sobre o seu novo single ‘Asfalto Selvagem’ e as influências que esse novo projeto ‘Topo da Minha Cabeça’.
‘Asfalto Selvagem’ tem uma forte influência do samba, um samba groove. Uma pitadinha ali da malandragem do rap, da rua, que o samba também traz. Eu tô muito feliz de poder estar em contato com essas influências e perceber que faz tão parte de mim. Acho que foi uma coisa que eu demorei um pouco pra me apoderar, que é dessa minha vivência no samba também, da vivência da minha família, dos meus pais.
Meus pais se conheceram em um ensaio de escola de samba lá na minha cidade, de Jacareí. Então, eu falo que é uma história meio de Shakespeare, porque cada um era de uma escola, eles eram de escolas rivais. E eu sou a princesinha deles, né? Então, muito shakesperiana. E também, quando eu era adolescente, eles nem estavam mais, porque estavam cansados de escola de samba.
Eu fui com as minhas próprias pernas pra escola de samba com uns 13 anos de idade, assim. Eu queria sair na comissão de frente. Fui lá toda ‘topetuda’ e falei: ‘então, quero sair na comissão de frente’. E a galera assim: ‘a comissão de frente não tem [como?], mas tá precisando de gente na bateria’. E aí eu fui pra bateria com 13 anos, levei uma renca de gente, minhas amigas tudo, saí no chocalho e fiquei apaixonada por aquele universo. E aí, depois disso, eu saí seis anos seguidos.
O mais engraçado é que eu entrei na escolinha de bateria para poder aprender a tocar um instrumento ou outro como ritmista. E ali eu conheci alguém, um amigo meu, o Diogo, que me levou para uma aula de dança, foi onde eu conheci o hip hop. Então as coisas estão entrelaçadas. O samba, a escola de samba e o hip hop aconteceram num momento meio próximo um do outro pra mim.
Eu demorei pra entender que aquilo era samba, que eu via como escola de samba, eu via como comunidade, eu via como uma coisa que a gente fazia em conjunto. Eu não pensava tanto na música em si, eu pensava mais na vivência. E aí no hip hop eu também não pensava tanto na música, eu pensava na dança, que foi a minha primeira expressão artística dentro do hip hop.
Então, depois que eu cresci, que quando eu comecei a compor, que aí as minhas primeiras coisas foram funk soul, samba, e aí virou rap, eu demorei para entender que o samba estava antes de tudo. Então, por isso que a ‘Asfalto Selvagem’ veio abrir os caminhos agora para o novo disco e onde eu consigo assumir com tranquilidade essa influência e me sentir confortável em poder cantar a minha vivência com segurança e com confiança e com muito amor também e responsabilidade.
É uma música que realmente fala sobre as suas vivências, e a partir disso, qual a mensagem você gostaria de passar para o público através dessa canção, que foi escolhida justamente para abrir os caminhos do seu novo disco e eu imagino que vai dar o tom desse novo trabalho?
Só do ‘Selvagem’, acho que a mensagem é para quem cresceu ali nos anos 90, começo dos 2000, numa quebrada, numa periferia, que vai se identificar, tem uma vivência parecida, acho que assistiu e vivenciou alguns tipos de violência. E que é muito doido, existem tantas coisas que já aconteceram, principalmente nesse período, e algumas que acontecem até hoje também. Mas que, ao mesmo tempo, também acho que é sobre o povo brasileiro, e como a gente, apesar de tudo, resiste, não desiste, vai pra cima e usa essa armadura, né?
Eu tenho falado isso, essa armadura que às vezes pesa, atrasa um pouco o nosso lado, mas também a gente tá pronto pra guerra, então a gente vai pra cima. Então acho que ‘Asfalto Selvagem’ é isso, entender que estamos, que vivenciamos no asfalto selvagem, mas não estamos só sobrevivendo, nós estamos crescendo, estamos prosperando, estamos indo à luta. Próspera!
E vamos ter ‘Asfalto Selvagem’ no Rock in Rio 2024. Me conta um pouco sobre a sua preparação?
Tá todo mundo falando ‘Asfalto Selvagem’ no Rock in Rio. Mas até então, acho que não, mas vamos ver, né. Quem sabe… Pode ser que aconteça, vamos entender.
O que a gente pode esperar desse espetáculo seu no festival, né? Como surgiu essa possibilidade de cantar junto com a Luedji Luna e Xênia França?
Olha, eu fiquei muito feliz quando recebi a ligação do Zé Ricardo [vice-presidente artístico do Rock in Rio] perguntando se eu queria. ‘Como assim que eu queria?’ Eu acho incrível, eu sou muito fã da Luedji Luna, sou muito fã da Xênia, há muito tempo. Eu acho que esse encontro é um encontro muito potente.
São artistas, cada uma com a sua construção, com a sua identidade. Mas a gente faz parte de uma cena que vem crescendo a cada dia e que é muito relevante. Acho que a gente representa muita coisa, separadas, juntas, imagina juntas, né? Imagina juntas mesmo. Uma potência muito grande.
Eu estou muito ansiosa para a gente somar nesse palco, no palco Sunset, e mostrar nossas músicas e compartilhar desse momento tão importante, que eu acredito que é tão importante para a música brasileira, para a música independente e, sobretudo, para mulheres negras.
Trazendo um pouco sobre a inspiração para outras mulheres negras, qual a mensagem que você deixa para outras artistas e outras milhões de pessoas nesse Brasil que se inspiram em você e na sua trajetória e que vão te ver ali representada de uma forma tão incrível nesse que é um dos maiores festivais do mundo?
Uau! Eu estou muito feliz, e eu estou muito sensível também. Eu me sinto honradíssima de estar nesse palco, e eu acho que a mensagem que eu posso deixar para a galera é que nem sempre é fácil construir a carreira que a gente sonha, a carreira que a gente acredita. Acho que para além dos ‘sims’ que a gente tem que receber para poder estar nos lugares, eu acho que poder direcionar também, escolher os ‘nãos’ que a gente quer dizer, para a gente poder ser quem a gente é, para a gente poder valorizar a nossa identidade, o nosso eu artístico, acho que isso é muito relevante dentro da construção, que é possível ser você com a sua identidade e ainda assim chegar no Rock in Rio e ainda assim subir num palco tão importante como o Palco Sunset, no Brasil e no mundo.
Então, acho que essa é a mensagem, sem querer pagar de meritocracia, porque a gente sabe que não é simples e não é fácil, mas alguém precisa acreditar, e esse alguém é você!
Entrevista: Arthur Antunes
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