Entrevista: Silvia Nascimento

Texto: Halitane Rocha

Notícias Relacionadas


Quem come repete, Tapioca da Pauleteh. O famoso bordão na Praia de Juquehy, em São Sebastião, litoral norte de São Paulo, continua forte, mesmo com a empreendedora Pauleteh Araújo trabalhando como assessora da deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP), em Brasília. 

Há oito anos vendendo as famosas tapiocas com carrinho na praia, Pauleteh revela como tem sido essa dupla jornada. “Às vezes é difícil conciliar o meu trabalho político com a Tapioca da Pauleteh. Mas agora estou conseguindo administrar melhor. Com esse emprego agora, me dá uma garantia de um salário no final do mês, eu tenho condições de atuar politicamente, ser remunerada e não ficar tão preocupada em ficar apenas ali na tapioca”, diz a assessora em entrevista ao Mundo Negro. 

E completa: “Antigamente eu não poderia, por exemplo, estar aqui, em Brasília, acompanhando a votação do Marco temporal, ou estar na Câmara dos Deputados acompanhando essa votação absurda que quer retirar o direito das pessoas homoafetivas de se casarem, porque eu precisava estar ali na praia trabalhando, pagar o meu aluguel”.

Pauleteh também revela seus sabores favoritos, que lhe dão mais sustança para tanto trabalho: “carne seca com queijo e banana da terra, porque essa não tem para ninguém. Porque eu, uma pessoa de quase dois metros de altura, preciso saciar a minha fome e só essa bem recheada que consegue me fortalecer”.

Foto: Divulgação

Leia abaixo a entrevista completa: 

Desde quando você tem o seu quiosque e dá um balanço sobre o movimento antes e pós pandemia.

1 – Eu tenho esse quiosque na praia, que é a tapioca da Pauleteh, já há oito anos. Esse ano tá fazendo oito anos. E a primeira vez que eu desci ele na praia foi no dia 20 de novembro. Sim, bem no dia da consciência negra. 20 de novembro de 2015. Desde a pandemia, o movimento na verdade aumentou. Aumentou bastante na praia. Porque durante a quarentena, ao invés das pessoas ficarem em casa, elas iam todas para praia. E lotavam as praias. Mas nesse período da pandemia, pelo menos aquele mais crítico que estava sendo incentivado o Fique em casa, eu não desci carrinho, eu não desci o quiosque pra praia, até porque no início a gente não tinha muita informação sobre o que era a Covid-19 e o que eu acompanhava através da mídia, era algo extremamente destrutivo, violento, então eu não poderia estar naquele espaço, me colocando em risco, colocando em risco as pessoas da comunidade que eu vivo. Inclusive fui muito contra a ida dos turistas, fiz diversas manifestações, fechei a rodovia, fechei a entrada da praia, foi um caos. Fui muito criticada por isso, mas não me arrependo nem um pouco, até porque a gente sabe da gravidade que foi e é o Covid, mas infelizmente nem todo mundo tem essa consciência.

Foto: Jorge Pereira

Você sempre foi uma pessoa política, mas agora com suas novas funções, como tem sido conciliar tudo? Você tem pessoas que tocam seu negócio quando você está fora?

Eu sempre fui uma pessoa política, desde muito novinha. Sempre achei muito importante, muito necessário, eu me posicionar politicamente, principalmente para viver em uma cidade tão pequena e por eu ter uma visibilidade, uma grande visibilidade nas redes sociais e conseguir alcançar parte dessas pessoas. Então eu sempre achei muito importante o meu posicionamento. Ao passar do tempo essa visibilidade tem crescido muito e tem saído da cidade de Sebastião e alcançado outros locais, alcançado outros estados e até mesmo países, eu achei isso chiquérrimo, é uma responsabilidade muito grande. Então às vezes é difícil conciliar o meu trabalho político com a tapioca da Pauleteh. Mas agora, graças ao pai e a mãe, estou conseguindo administrar melhor isso. Com esse emprego, agora como assessora da deputada federal Erika Hilton, me dá uma garantia de um salário no final do mês, eu tenho condições de atuar politicamente, ser remunerada e não ficar tão preocupada em ficar apenas ali na tapioca da Pauleteh. Antigamente eu não poderia, por exemplo, estar aqui em Brasília acompanhando a votação do Marco temporal, ou estar na Câmara dos Deputados acompanhando essa votação absurda que quer retirar o direito das pessoas homoafetivas de se casarem, porque eu precisava estar ali na praia trabalhando,  pagar o meu aluguel. Não que agora não continuo precisando,  só que agora eu tenho essa possibilidade, com esse emprego que eu consegui junto com a deputado federal Erika Hilton, e isso me dá também a oportunidade de me organizar e colocar outra pessoa ali na tapioca da Pauleteh, para tocar o meu trabalho, na praia, nos quiosques, só que agora sem aquele peso tão grande da responsabilidade de precisar estar presente, por mais que os clientes peçam muito que eu esteja na praia, que eu faça o atendimento, mas é complicado conciliar os dois ao mesmo tempo. Mas agora com a chegada do verão já estou chamando novas pessoas. É importante ressaltar que eu trabalho com pessoas LGBTs e o foco são meninas trans e travestis. Já estou começando a selecionar essas pessoas que vão tocar junto comigo, porque “quem come repete, tapioca da Pauleteh” (brinca com o bordão). O verão tá chegando, vai bombar, estou ansiosíssima.

Foto: Reprodução/Instagram

Quais os sabores de tapiocas mais populares da sua marca e qual o seu sabor favorito?

Os sabores mais populares da tapioca da Pauleteh com certeza é a marguerita que é: queijo, tomate, manjericão fresco e orégano. Carne seca com queijo e banana da terra também é muito pedida, eu sou apaixonada também por esse sabor. Frango com catupiry. E tem uma nova de shimeji com cream cheese de castanha de caju, essa tapioca é divina. O cliente pode adicionar outros ingredientes também, no caso, pode colocar o brócolis, a rúcula, fica a critério do cliente, para qualquer sabor. Mas a minha favorita é a carne seca com queijo e banana da terra, porque essa não tem para ninguém. Porque eu, uma pessoa de quase dois metros de altura, preciso saciar a minha fome e só essa bem recheada que consegue me fortalecer e me deixar pronta pra correr aquela praia inteira vendendo tapioca.

Foto: Jorge Pereira

Dá uma dica de chef para quem gosta de fazer tapioca em casa? (calor do fogo, hidratação da farinha ou coisas assim). 

Uma dica que eu posso dar para as pessoas que gostam de uma tapioca, é que infelizmente eu sei que nem todo mundo tem o acesso à massa artesanal de tapioca, uma massa feita na hora. A minha massa é feita na hora, que ela se modeste a parte, mas para quem usa a tapioca de embalagem de mercado, normalmente ela fica muito seca, fica quebradiça, então adicionar uma pequena quantidade de água, duas tampinhas, só para dar uma molhadinha ou umidificada mais na massa, e depois peneira de novo, que ela fica maravilhosa, fica muito melhor do que quando ela chegou do mercado, por exemplo.

Notícias Recentes

Participe de nosso grupo no Telegram

Receba notícias quentinhas do site pelo nosso Telegram, clique no
botão abaixo para acessar as novidades.

Comments