Quando a Netflix lançou o trailer do filme ‘Shirley Para Presidente’, logo me empolguei com o que estaria por vir. Um longa-metragem que acompanha a história real de Shirley Chisholm (1924 – 2005), a primeira congressista negra eleita, que também ousou se tornar a primeira mulher negra a se candidatar para a presidência dos Estados Unidos pelo partido dos Democratas, na década de 70.
A vencedora do Oscar, Regina King, é quem dá vida à personagem e também é uma das produtoras. Sempre com uma atuação impecável, trouxe desde o início do filme, a seriedade da Shirley para garantir que fosse levada a sério com o seu trabalho e lutava por uma sociedade justa, defendendo as pautas raciais e feministas. A fé e a confiança da candidata é muito encorajadora para nós, mulheres negras.
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Assim como no Brasil, os Estados Unidos, até hoje, também nunca elegeu uma mulher negra para a presidência. Com o longa, nós podemos acompanhar apenas o que já sabíamos ou imaginávamos, com um enredo ainda tão atual: os democratas, pessoas brancas e a própria comunidade negra, ainda não confiam na competência de uma mulher negra para este cargo ou temem dar tanto poder para tal.
Apesar da árdua luta, mulheres negras continuam resistindo para ocupar a política. Prova disso, é a própria Barbara Lee (Christina Jackson), que está em seu 12º mandato como congressista nos EUA. Jackson nos mostra no longa, uma Barbara que muitas de nós já nos identificamos um dia, desacreditada da política, mas que ao trabalhar com Shirley, mudou a sua vida completamente e também deseja fazer a diferença.
Dirigido por John Ridley, o longa também traz outras pessoas que foram importantes para sua campanha, como Robert Gottlieb. Interpretado por outro vencedor do Oscar, Lucas Hedges, Gottlieb, um homem branco, foi o braço direito de Shirley desde o início e também vivencia situações conflituosas por conta do racismo e da violência política contra ela. Uma escolha até questionável para época, mas a democrata sempre mostrou a sua vontade de ver pessoas negras e brancas lutando juntos por um mesmo propósito.
Dentre os diferentes obstáculos que a candidata terá de enfrentar pelo caminho, uma das mais tocantes ainda é sua relação com a família, que tem muita dificuldade para aceitar que ela é uma mulher congressista e posteriormente candidata à presidência.
Muriel (Reina King), irmã de Shirley, chama atenção para o nosso interior, de quando, em algum momento, tivemos medo ou receio de estar em um lugar onde seríamos apenas julgadas e desvalorizadas. Na década de 70, uma mulher negra que tentava ser eleita em um cargo dominado apenas por homens brancos, ela facilmente seria tratada como louca. Mas apesar disso, conseguiu abrir caminho para inspirar as pessoas ao seu redor e em como fazer política.
Hoje, mais de 50 anos depois desse ocorrido, o filme nos deixa uma reflexão: países como os Estados Unidos e o Brasil estão prontos para eleger uma mulher negra para presidência? Para mim, todos os personagens e situações apresentadas, poderiam facilmente ser comparadas com outras pessoas e situações de hoje, em 2024. O racismo e a misoginia também continuam fortes, então esse sonho precisa ser sonhado por mais mulheres negras para que se torna realidade.
‘Shirley Para Presidente’ estreia na Netflix dia 22 de março. Veja o trailer abaixo!