Sete gerações: Mulheres negras podem levar até 184 anos para comprar casa própria, aponta estudo

0
Sete gerações: Mulheres negras podem levar até 184 anos para comprar casa própria, aponta estudo
Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

Um estudo inédito da ONG Habitat para a Humanidade Brasil revela que mulheres negras podem demorar até 184 anos — o equivalente a sete gerações — para conseguir comprar uma casa própria no país, mesmo em favelas. O dado integra a campanha “Sem moradia digna, não há futuro”, que denuncia como a falta de acesso à habitação adequada reforça desigualdades de gênero e raça, mantendo ciclos de pobreza e violência.

O levantamento “Sem moradia digna, não há justiça de gênero”, baseado em dados coletados ao longo de cinco anos, mostra que 62,6% dos lares em situação de déficit habitacional — que chega a 6,2 milhões de domicílios — são chefiados por mulheres. Outros 26,5 milhões enfrentam inadequações, como falta de infraestrutura ou insegurança fundiária, segundo a Fundação João Pinheiro.

Notícias Relacionadas


Com salários menores e jornadas sobrecarregadas por trabalhos mal remunerados e cuidados não pagos, as mulheres destinam, em média, 30% da renda ao aluguel. Em um cenário considerado “favorável” pelo estudo — sem imprevistos, lazer ou gastos extras —, uma mulher negra com renda média de R$ 2.745,76 (RAIS 2023) teria apenas R$ 31,62 mensais para economizar. Nesse ritmo, levaria 184 anos para adquirir um imóvel de R$ 69.828,57 (valor médio em favelas).

Mesmo com o auxílio do Bolsa Família (R$ 750), o tempo cairia para 28 anos — ainda uma realidade distante para mães solo, que representam grande parte dessa população. “Sem moradia digna, as mulheres pagam um preço alto: saúde, tempo de vida e a chance de sonhar”, afirma Raquel Ludermir, gerente de Incidência Política da Habitat Brasil.

Racismo estrutural e falta de saneamento
O relatório destaca que a população negra é a mais afetada pela precariedade habitacional:

  • Pessoas negras sem banheiro em casa são 5 vezes mais numerosas que as brancas;
  • Nas regiões Norte e Nordeste, a falta de água, esgoto e coleta de lixo atinge principalmente mulheres negras, maioria nessas áreas;
  • Apenas metade dos brasileiros com três ou mais banheiros em casa são negros.

“O direito à moradia é historicamente negado à população negra, e as ocupações são fruto do racismo estrutural”, diz o texto.

Conexão com violência e saúde
A pesquisa também relaciona a falta de moradia digna a riscos como violência doméstica, problemas de saúde mental e física — especialmente em crianças — e dificuldade de acesso a serviços básicos. A ONG alerta que propostas de corte de benefícios sociais agravam a feminização da pobreza e defende políticas públicas intersetoriais. “Ter o básico precisa ser um direito desta geração — não da oitava. Não há futuro sem dignidade no presente”, conclui Ludermir.

Notícias Recentes

Participe de nosso grupo no Telegram

Receba notícias quentinhas do site pelo nosso Telegram, clique no
botão abaixo para acessar as novidades.

Comments

No posts to display