Vem aí mais um Carnaval e com ele um fenômeno: as várias musas e rainhas de bateria brancas das tradicionais escolas de samba. Por motivos pouco conhecidos, as escolas têm recrutado mulheres famosas e anônimas brancas para estarem à frente do seu desfile de Carnaval.
Na verdade, o Carnaval tem se tornado um reflexo das nossas desigualdades raciais com seus camarotes privados e festas elitizadas, o que pega mal para uma festa que sempre se propôs ser democrática e popular. No que tange às mulheres brancas à frente das tradicionais escolas de samba, podemos constatar, com muita facilidade, que o talento para o samba inexiste. O que assistimos, nos ensaios, são mulheres que encontram sérias dificuldades para executar passos de samba. A exemplo daquela música que dizia que “garotos inventam um novo inglês”, as novas musas do Carnaval inventam um novo samba, o “samba abstrato”.
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O problema não para por aí à medida em que percebemos que algumas delas escurecem a pele e encrespam os cabelos para se passarem por negras. No meio disso tudo, pergunto-me se toda a discussão sobre a sexualização das mulheres negras no período carnavalesco serviu apenas para que mulheres brancas pudessem ocupar estes lugares sem serem vistas única e exclusivamente de forma sexualizada. Lembram da Priolli? Aquela que disse que seria musa do camarote na Sapucaí, mas sem esquecer seus diplomas. “Afinal, por que a musa não pode ser uma intelectual?”, perguntou a apresentadora da CNN Brasil.
Não se trata de expulsar os brancos das escolas de samba, mas sim de questionar se tudo isso não se deve ao famoso privilégio branco. O privilégio de não saber sambar e ser destaque de uma escola de samba, agremiação tipicamente “afrobrasileira”. Outro questionamento que se pode levantar é se estas mulheres têm alguma ligação com a comunidade das escolas que representam. Sinto que muitas caem de paraquedas, convidadas somente por serem brancas. Espanta-me a confiança de assumir tamanha responsabilidade sem ter a competência necessária. Talvez esta seja uma das principais características da branquitude: a confiança incompetente. Diante disso, resta saber o que mais falta embranquecer na cultura afrobrasileira que cada dia vai tendo menos afro e mais “Brazil”.
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