‘Se ponha no seu lugar’: Ministras negras enfrentam machismo e racismo no exercício do poder

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‘Se ponha no seu lugar’: Ministras negras enfrentam machismo e racismo no exercício do poder

As ministras Marina Silva (Meio Ambiente) e Macaé Evaristo (Direitos Humanos e Cidadania), duas mulheres negras em posições de destaque no governo Lula, são alvos de ataques machistas e racistas sofridos durante exercício de suas funções. Nesta terça-feira (27), Marina reagiu a ofensas em audiência no Senado, enquanto Macaé contou em um evento que sofre ataques cotidianos nas redes sociais. Os casos, que não são uma novidade na política, mostram o desrespeito das instituições e do público com as mulheres e, sobretudo, com mulheres negras que estão na luta por causas fundamentais para a vida em sociedade.

“Se ponha no seu lugar”, disse o senador Marcos Rogério (PL-RO), à Marina Silva enquanto a ministra tentava defender seu ponto de vista durante a discussão na Comissão de Infraestrutura do Senado sobre pavimentação na Amazônia. Alvo de provocações e interrupções, ela também teve o microfone desligado pelo senador, que também era presidente do colegiado. Já Macaé Evaristo falou sobre violência online no Power Trip Summit, em Salvador: “Recebo xingamentos todos os dias, desde ‘é terrível olhar para mim’ até ofensas ao meu corpo, cabelo e sorriso”, disse.

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Os recentes acontecimentos, que não são casos isolados, trazem de volta às reflexões de Lélia Gonzalez sobre como a mulher negra é vista na sociedade brasileira. No livro Por um Feminismo Afro-Latino-Americano, que reúne diálogos e reflexões da intelectual, ela lembra como a opressão racista confina mulheres negras a estereótipos degradantes, mostrando que o racismo e o sexismo as colocam no “nível mais alto de opressão”. À exemplo das violências que sofrem nossas ministras, quando são silenciadas e subestimadas, não por sua trajetória política, mas porque há um incômodo em ver suas imagens negras, politizadas e insubordinadas ocupando lugares de autoridade.

“A dimensão racial nos impõe uma inferiorização ainda maior”, diz Lélia no livro, mas aqui sabemos que é necessário resistir, como sempre resistimos em nome de nossa existência. Marina incomodou ao resistir: “Eles gostariam que eu fosse uma mulher submissa. E eu não sou”, disse ela em entrevista após o episódio da última terça-feira.

Enquanto Macaé Evaristo destacou a resistência de mulheres negras no poder: “Nosso país é racista, machista e patriarcal. Precisamos construir uma irmandade para nos proteger”.

No livro “Discursos de ódio contra negros nas redes sociais”, escrito pela jornalista Luciana Barreto, ela mostra que mulheres negras são as maiores vítimas dos discursos de ódio na internet. “Uso no livro uma pesquisa do professor Luiz Valério Trindade que mostra que 81% dos discursos de ódio racistas são direcionados às mulheres negras com características semelhantes a minha: profissional com curso superior, cabelo crespo etc”, afirmou em entrevista ao Mundo Negro. Ela ainda completa:” Tem uma intencionalidade muito evidente quando analisamos estes casos: o hater quer minar o emocional, quer atingir e distrair a vítima. De certa maneira, o hater quer “eliminar” a vítima daquele espaço, daquele local que ele julga não pertencer a ela. Brinco quando falo sobre isso: “não vou dar este gostinho ao hater”.

Nós sabemos que resistir pode ser muito difícil, mas isso para nós, mulheres negras é a garantia da nossa sobrevivência.

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