Mundo Negro

Saudade do tempo em que a TV era branca? Um chamado à diversidade e inclusão na teledramaturgia brasileira

A história da TV brasileira foi construída por muitas pessoas e é reconhecida mundialmente pela riqueza dos conteúdos nacionalmente produzidos, mas com uma escassez significativa quando o assunto é a diversidade. Nos últimos anos, tivemos transformações de grande valia para os telespectadores que passaram não apenas a assistir, mas a terem o desejo de representação nos produtos televisivos. A arte tem como principal papel comunicar e provocar reflexão e, consequentemente, a partir disso, o movimento que tem acontecido há algum tempo é a promoção de diversidade nas produções brasileiras, tanto à frente, quanto por trás das câmeras. 

Em meados de 2020, a indústria viveu uma grande mudança e atraiu novos olhares para as pautas raciais após o triste assassinato de George Floyd. A população negra sentiu um ar de esperança, mesmo após o luto, com o rumo do mercado corporativo, principalmente audiovisual e publicitário, mudasse a partir desse marco. As denúncias começaram a surtir efeito e as empresas precisaram refletir a equidade em suas produções. Medidas foram tomadas com a tentativa de redução dos impactos do racismo estrutural na sociedade e, consequentemente, a inserção de pessoas negras em cargos escalonados e de maior prestígio. 

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No entanto, essa caminhada ainda enfrenta resistências. Vivemos hoje uma era pós “Black Lives Matter” (Vidas Negras Importam), que é como chamamos o movimento. Socialmente, o povo negro está longe de poder viver seu protagonismo com tranquilidade. Recentemente, uma agência de talentos que se denomina uma das maiores do país, com cerca de 300 artistas em seu casting, fez um post nas redes sociais utilizando um print de uma matéria da coluna F5 da Folha de S. Paulo, como justificativa para o seu texto preconceituoso, validando críticas racistas direcionadas a protagonista GABZ e a responsabiliza pela baixa audiência de “Mania de Você”, atual novela das 21h do folhetim da TV Globo. 

Na seção “quem somos”, a agência se diz comprometida com o desenvolvimento ético e responsável de talentos, mas sua visão estreita e racista na publicação revela o oposto. Ao invés de fomentar a diversidade no audiovisual, eles reforçam um discurso que retrocede nas conquistas da população negra. 

“Fato anunciado! A mudança drástica no equilíbrio das escalações entre as gerações nos elencos das novelas brasileiras, vem provocando, há muito tempo, uma mudança de hábito no público. Sem os GIGANTES VETERANOS o público não se identifica com a obra. Simples assim! Foram eles que construíram a televisão brasileira e fizeram o país e o mundo se apaixonarem pelas novelas. Será que um dia algum executivo poderoso vai entender isso e mudar novamente a nossa história?” 

O texto em questão não só responsabiliza uma mulher negra pelo desempenho de uma produção inteira, como também evidencia a obsoleta maneira de pensar de quem compõe a indústria. Há questões mais contemporâneas como: novos hábitos de consumo do mercado audiovisual proporcionado pelas plataformas de streaming e redes sociais. O público mais jovem não consome os produtos como as gerações anteriores, que eram apenas através da televisão, e sim através de outras mídias digitais. 

A Globo está passando por uma grande transformação e sendo desafiada por essa nova realidade em que se propõe diversidade e representatividade. Percebe-se um resultado efetivo e prático da emissora, quando uma agência de valores conservadores de talentos questiona a falta dos “gigantes veteranos” predominantemente brancos. 

Em vez de nostalgia por uma época em que a televisão era predominantemente branca, é fundamental apoiar a diversidade de vozes e narrativas. A arte precisa ser acessível a todos, refletindo a riqueza das diversas idades, etnias e origens que compõem o Brasil. Que possamos celebrar uma televisão cada vez mais colorida e inclusiva, onde todos tenham a chance de brilhar. 

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