“A minha base vem muito forte, as mulheres da minha família falam de afeto por décadas, cresci em um lar sendo representada por elas”, relata a psicóloga e ex-BBB Sarah Aline, 25, em entrevista ao site Mundo Negro, no especial de Julho das Pretas, valorizando a importância dos afetos para a sua trajetória de vida.

Para Sarah, tem sido a realização de um sonho se juntar com tantas mulheres negras e se tornar uma referência para milhares, que sempre lhe mandam mensagens. “A gente sabe o quanto o lugar da identificação e da representatividade é importante para nós, hoje eu quero e desejo que a visibilidade do BBB não seja só minha, continue sendo cada vez mais nossa”.

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Na entrevista, a psicóloga também falou sobre as mulheres negras são suas referências na vida, planos de carreira, a amizade com o Ricardo Alface no pós-BBB, e a relação com parte da família que não sabia que ela é bissexual até participar do reality show.

Sarah Aline (Foto: Crispo)

Leia a entrevista completa abaixo:

Sendo uma mulher negra retinta, desde a sua trajetória no BBB 23, você inspira muitas outras mulheres negras a terem confiança e liberdade de afetos. Você sempre foi assim ou em que momento começou a se reafirmar de forma tão brilhante?

Sempre é muita coisa, mas já existia essa constante em mim. A minha base vem muito forte, as mulheres da minha família falam de afeto por décadas, cresci em um lar sendo representada por elas. Conforme me tornei uma mulher adulta tive a oportunidade de receber afetos que me ensinaram mais sobre o meu auto afeto. Fico tão feliz com as milhares de mensagens de pessoas pretas que se identificaram com algo, que sinto que isso me devolveu o sentido da vida, que é me apropriar dos meus sentimentos para entender a minha importância e imprimir meus sonhos. A gente sabe o quanto o lugar da identificação e da representatividade é importante para nós, hoje eu quero e desejo que a visibilidade do BBB não seja só minha, continue sendo cada vez mais nossa.

Sarah Aline e a mãe Kátia (Foto: Juliana Hippertt/gshow)

Antes de você sair do BBB, já havia muitas expectativas de você formar um casal com o Ricardo Alface ou com o Gabriel Santana. Você teve receio de decepcionar os fãs ao decidir que não se envolveria em uma relação neste momento? Como foi esse processo para explicar a sua vontade ao público?

Antes de sair do BBB, minha cabeça não tinha entendido que eu tinha fãs, então foi simples tomar essa decisão pensando em mim. O Gabriel é meu amigo, então nunca passou pela minha cabeça viver algo a mais do que vivemos. O Ricardo a gente se apaixonou, eu me apaixonei, e vivemos o que o nosso amor nos proporcionou durante o programa. Aqui fora, o que me alegrou foi ver pessoas que se identificaram com a gente individualmente e como um casal, isso foi lindo. Celebraram o que a gente tem de melhor, que é o amor. A partir disso, foi simples do pessoal entender a nossa decisão, de nos respeitarmos separadamente. Eu demorei um tempo para encarar que não ficaríamos juntos, não foi fácil, porque o programa te envolve demais a uma realidade que aqui fora não se sustenta, mas hoje entendo completamente que foi o melhor a se fazer. Somos bons amigos e os nossos fãs amam isso.

Sarah e Alface (Foto: Reprodução/Twitter)

No BBB, você chegou a dizer que não é “tão monogâmica”. Você já chegou a vivenciar um relacionamento aberto ou pretende? Como você se enxerga em uma relação, caso pretenda dar o passo de namorar alguém?

Disse isso dentro da casa brincando. Eu sou monogâmica, já tentei não ser, mas não sei é para mim, não funciona. Acho linda, inteligente e profunda a teoria da não monogâmica, mas para mim no momento não é uma opção. Até porque estou solteira!
Caso aconteça, acho que vou entender a fase da relação para ver se meu coração se tranquiliza, por que não, né?! De qualquer forma, acho difícil, sou monogâmica até com ficante.

Foto: Reprodução/Instagram

A bissexualidade foi um assunto ainda pouco abordado no reality show, mas você falou sobre uma parte da família que ainda não sabia da sua orientação sexual. Você se sentiu mais leve com essa revelação? Como foi pra família essa descoberta?

Uma parte grande da minha família não sabia, mas para mim não foi libertador falar no programa, porque eu não tinha nem a intenção de contar para eles. Eu acho que a minha sexualidade não precisava ser explicada para ninguém, então viveria como alguém que só quer amar. Foi bonito, a minha família é incrível demais, quem não sabia entendeu e respeitou, e hoje a gente ri um pouco dos sustos. Algumas pessoas ficaram chateadas de não saberem antes, mas não pela bissexualidade, mas por querer saber antes do Brasil. Hoje vivo isso em um lugar de muita segurança, é um privilégio.

Sarah e irmã Nathalia (Foto: Divulgação)

Sarah, você é uma mulher negra, retinta, cria de Osasco (SP), tão jovem e referencial não apenas para o mundo do entretenimento, mas também do corporativo. Nessas diversas camadas, como se sente sendo uma referência para outras mulheres negras e quais são as suas referências?

Eu fico extremamente feliz. Sobre o mundo corporativo, eu plantei tudo que colho dentro desse espaço, foram noites e noites estudando, planejando, projetando, apresentando as minhas ideias, tendo dúvidas, chorando, me decepcionando e encontrando o meu espaço dentro desse ambiente que hoje eu sinto muita saudade. Uma saudade temporária, pois em breve estarei de volta com projetos novos.

Poder expandir os meus sonhos e representar várias outras mulheres junto comigo é a realização de um sonho, parece que eu ainda nem acordei. Eu me admiro a cada mensagem que recebo, a cada projeto que chega. Dentro da casa eu tive a oportunidade de me apresentar como eu sou, de mostrar meus valores e meus ideais de uma forma naturalizada, afinal está dentro do meu caráter, e ver pessoas se identificando me faz automaticamente me conectar com elas.

Sarah e Marvvila (Foto: Leo Franco/AgNews)

Isso tudo só é possível porque tantas outras vieram primeiro e eu sou muito grata, minhas referências começam dentro de casa, Dona Katia, Dona Neta e Conceição, Nathalia, Fernanda, Valéria, Tânia, Gabriela, Ana, Nara e Isabela. Minhas tias, avós, primas, mãe e irmã. Sem elas eu não seria absolutamente nada.

Minhas referências no mundo são Viviane Moreira, Mafoane Odara, Vivi Duarte, Sônia Lesse, Djamila Ribeiro, Paula Sales, Ludmilla, Tais Araújo, Liniker, Samantha Almeida, Angela Davis, Maju Coutinho, Glória Maria, Marvvila, Neusa Santos, Elza Soares, Iza e muitas outras.

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