Sabemos que homens e mulheres pretas são marcados pelos esteriótipos impostos pela sociedade. Seja por nossos aspectos físicos, seja por nosso modo de pensar, por nossas atitudes ou pela nossa fé, infelizmente, ainda há um grande apontamento e uma síndrome, por parte de pessoas brancas, de nos dizer ou não o que devemos fazer, mesmo após 130 anos de uma Lei que, teoricamente, libertou nosso povo. Na prática, vemos por uma ótica diferente.
E, justamente com o intuito de mostrar seu olhar, o comunicador, fotografo e agora youtuber, Roger Cipó, acaba de criar um Canal para dialogar e apresentar suas perspectivas em relação aos mais variados temas que envolve o povo preto, como masculinidade e afetividade preta, saúde emocional, entre outros.
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Na descrição de um dos vídeos, “Masculinidades”, ele comenta: “Eu não sou um homem. Eu sou um homem preto e, por isso é importante dizer: Não peça para um homem preto chorar! Não me diga para quem conhece dor há 400 anos que chorar é importante”.
Nós conversamos com Roger sobre a proposta do Canal, o que ele pretende abordar nos próximos vídeos e como será distribuído este conteúdo. Confira!
Por que decidiu criar o canal?
– Eu sempre considero a minha necessidade de comunicar, seja para contar algo, discutir, concordar e até debater as coisas que penso e prático, e talvez por isso, decidi que esse ano, levaria essas minhas questões também para o YouTube, que é uma das plataformas mais acessadas e consumidas na internet, mas que ainda não faz, ou faz pouco, o debate sobre questões relacionadas à masculinidades pretas. A decisão pelo canal, nesse momento, também foi impulsionada pelas trocas com Ana Paula Xongani, quem carinhosamente atribuo uma mentoria do processo e me provocou com uma série de questões, entre elas, a ausência de homens Pretos cis héteros discutindo as coisas que atravessam as relações sociais. Meu objeto na plataforma é colaborar com as discussões em torno de pautas relacionadas a esse universo, a partir do meu lugar no mundo. Tem uma vontade de falar para todos os públicos, porque a ideia é discutir junto como alguns temas definem, limites e influenciam nossa coexistência, ou a negação dela.
O que pretende abordar nos seus vídeos?
– Tudo o que falo e quero falar no canal é reverberação das coisas que tenho pensado individualmente, nesse processo de autoconhecimento e, coletivamente, no sentido de entender que, para nós, pessoas pretas, união, entendimento e fortalecimento da base é o caminho para enfrentar o racismo. Assim, Masculinidades, Afetividades, Questões de Gênero, Saúde emocional, Machismo, Sexualidade, Bem viver, Violências, Religiosidade e Espiritualidade, Intelectualidade, Política, Relacionamentos, e todas as questões da vida, suas potências e conflitos, tendo o racismo e outras questões de raça como um marcador do papo, afinal raça é o define as relações, no Brasil e ser homem preto, em idade alvo da violência, me faz falar sempre a partir dessas provocações que a vida faz.
Acredita que através do canal irá alcançar pessoas pretas e aproximá-las ainda mais para diálogo?
– É uma tentativa de construir pontes e de disputar, sim, narrativas. Pessoas pretas representam a maioria da população brasileira e é sempre bom lembrar que grande parte da população pobre – que é preta – ainda não possui acesso à internet. A gente vive aqui no nosso mundo e não se dá conta do tamanho do nosso país e muito menos da dimensão do problema que é a falta de informação. Por outro lado, há muita gente preta consumindo conteúdo na internet, tentando se entender e entender a forma que vivemos. Quero alcançar essas pessoas. Disputar a atenção de pessoas iguais a mim, para temas que estamos discutindo em diferentes espaços. Alguns de nós já compreenderam melhor como o racismo tem definido nossas experiências, outros, ainda não. No meu caso, por exemplo, tenho também vivido um processo de todos os dias lidar com o machismo, rompendo com essa cultura que provoca a dominação e não cooperação, em diversos níveis. É algo a pensar junto. Eu não quero e não levarei verdades sobre nada, não há espaços para verdades absolutas quando a gente está tentando se entender para viver melhor, mas me sinto provocado a apontar alguns caminhos, frutos de algumas práticas, vivências e reflexão sobre os temas, e abro o debate. É para que a gente converse, sempre.
Atualmente você também usa o Instagram e Facebook para distribuição de conteúdo, como é a resposta do público nessas plataformas? Qual delas funciona melhor para você?
– O Facebook eu uso há alguns anos para, além do uso pessoal, publicar sobre minha pesquisa sobre religiosidade preta e Fotografia, além dos mesmos temas que estou falando no canal. Eu sou alguém da comunicação, com necessidade de comunicar. Logo, textão, reflexão, tretas e afins fazem parte da minha estadia no Facebook, que também é uma possibilidade importante de redes e trocas! Há algum tempo utilizo para falar da @olhardeumcipo e candomblé, principalmente. O Instagram foi se tornando um espaço de diálogo mesmo, acho até que foi incubadora para o canal. Foi onde tive importantes respostas sobre como lidar, pensar e falar sobre temas tão caros como masculinidade para homens Pretos, seus afetos e como o racismo definiu nossas vidas.
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