“Se eles não abrem as portas das mansões você tem que construir a sua”
As novas narrativas do Teatro Infantil Carioca
Por: Cleyton Santanna, roteirista, Youtuber e jornalista em formação
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Era uma tarde nublada de novembro de 2018 e eu aproveitava a minha companhia solo para assistir a peça “O Pequeno Príncipe Preto”, o espetáculo conta a história de um príncipe que percorre diferentes planetas em uma jornada de entendimento sobre a importância da auto-valorização da sua cultura e descobre o quanto é bonita a diversidade de cada povo, idealizado por Rodrigo França e Junior Dantas. Nunca me senti tão fortalecido com um espetáculo de linguagem infantil com o falar fácil, mas o pensar difícil, a peça dialoga com todos os meninos e meninas acima dos 20, 30 e 40 anos que ficam calados e com os olhos esbugalhados cheios de lágrimas, enquanto os meninos de 5, 6, 7… conversam com o Príncipe Preto e apesar de tudo que o racismo gerou de dívidas para os seus pais e familiares, eles já sabem quem são e para que estão nesse mundo.
“ — eu tô aqui sozinho!” diz o Pequeno Príncipe Preto em um determinado momento do
espetáculo.
“ — Não tá não Pequeno Príncipe Preto eu tô aqui com você!”, respondia um menininho
sentado no colo de sua mãe.
A resposta desse menininho de aproximadamente uns 6 anos na sala do Teatro Glauce Rocha no centro do Rio, é muito parecido com o menino indagador Gil, personagem idealizado no espetáculo Nanã, que nos levam para uma viagem a uma cidade do interior junto com a sua Irmã Nanã, onde na viagem junto com a sua tia eles deparam com o mundo do Orixás de uma maneira única sendo um grande convite a ancestralidade, respeito e a tolerância ao diferente.
A diretora e atriz do espetáculo Nanã, Gabriela Reis sente-se honrada em contribuir e consolidar ainda mais para o Teatro Negro Carioca com novas narrativas: “Contribuir de uma forma concreta e de engradecimento para esse movimento que cresce todos os dias, além de encher meu coração de alegria é uma honra.” Quando pensamos no Teatro Negro é um lugar que parte do incômodo e chega na representatividade, assim como aconteceu no Rio de Janeiro em 1944, com o Teatro Experimental do Negro (TEN) um projeto idealizado por Abdias Nascimento (1914–2011) que delineava um novo estilo dramatúrgico, de roupagem única e para além dos moldes já apresentados em outros países. Certamente, Abdias Nascimentos e diversos outros intelectuais das artes negras teriam orgulho da perpetuação dessa narrativa teatral sendo repassada em momento tão importantes quanto esse período em que estamos vivenciando agora, onde a Cultura tem sido tratada pelos governantes como um não lugar pensante. O ator Junior Dantas acredita que é importante na linguagem infantil reforçar imagens de maneira lúdica de empoderamento, pois dessa forma as crianças conseguem enxergar a empatia e o amor que tem se esfriados no mundo adulto, permitindo a construção do dialogo partindo dos filhos para os pais muitas das vezes.
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“O teatro tem o poder da fala, as pessoas estão paradas ouvindo o que você tem, é
muito responsabilidade o que a gente está falando!” afirma Junior.
Junior Dantas após a negação ainda na infância de interpretar um príncipe em uma peça
na escola, sendo atropelado pela fala da professora que afirmava com todas as letras que
só existiam príncipes brancos e loiros, utilizou dessas chaves negativas e ressignificou na montagem do processo de construção do personagem e alimentou o ensejo do peso da falta de diversidade na dramaturgia como um todo. Sendo assim, a peça fundamental de Junior Dantas é a valorização da cultura afro-brasileira, assim como a carioca Gabriela Reis, a atriz que está preste a estreia no Teatro Gonzaguinha com sua peça, alimentou a frase que sua mãe falava na infância e que marcou a trajetória da jovem no mundo das artes: “Se eles não abrem as portas das mansões você tem que construir a sua” e foi assim que ela junto com o coletivo que faz parte conseguiu movimentar uma campanha de Crowndfunding, as famosas Vaquinhas Digitais para produzir a sua peça e conseguiu arrecadar um valor importante para a cobrir despesas importantes com produção e desenvolvimento do espetáculo Nanã que acompanha a história de Nanã, seu irmão irmão Gil e Tia Tê em uma grande aventura por um vilarejo mágico e ancestral.
De acordo com o artigo, o “O Teatro Negro no Brasil e nos Estados Unidos” da autora Ariângela Alves de Lima, o Teatro Negro incorpora e nasce a parti de três elementos constantes: a lembrança da cultura africana, a história da escravidão e do racismo e a desconstrução de imagens perversas do negro pautados em uma teatralidade afro, hoje, Gabriela Reis, Júnior Dantas, Licínio Januário, Sol Miranda, Rodrigo França e tanto outros nomes que estão movimentando a cena do teatro carioca e lotando as salas de teatro com boas histórias, histórias essas que ainda não foram contadas em sua totalidade.
O Teatro Negro Carioca tem segurado nossa mão e tem unido o os nossos corações, e eles juntos tem sido capaz de fazer o que a gente não é capaz de fazer sozinho, ARTE. Parafraseando essa poesia que toda artista pronuncia antes de subir aos palcos com se fosse um oração, o teatro negro tem feito essa oração de forma empírica com a plateia em todas as apresentações.
ESPETÁCULO NANÃ
Dias 16 e 17 de março às 17h
Dias 23 e 24 de março às 14h
— No Teatro Gonzaguinha.
Ingressos à R$ 20,00 (Inteira)
R$ 15,00 (Lista amiga)
R$ 10,00 (meia)
Classificação LIVRE
mais informações: https://www.facebook.com/events/284584222168364/
O PEQUENO PRÍNCIPE PRETO
Teatro Dulcina
De 16 a 24 de Março. Sábados e Domingos às 16h
Onde: Teatro Dulcina (R. Alcindo Guanabara, 17 — Centro, Rio de Janeiro — RJ,
20031–130 — Perto do Metrô da Cinelândia!)
Ingressos: R$15,00 (Meia-Entrada) / R$30,00 (Inteira)
Venda online: bit.ly/pppdulcina
mais informações: https://www.facebook.com/opequenoprincipepreto/
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