A prefeitura de Porto Alegre criou um lixão a céu aberto ao lado da moradia temporária das vítimas das enchentes, na zona norte da cidade. A denúncia foi feita por moradores locais que se indignaram com o descaso e falta de cuidado com a população local, majoritariamente negra e periférica.
O Sambódromo foi transformado em moradia temporária para os afetados pelas enchentes. No entanto, as vítimas ficaram chocadas ao descobrir que os entulhos retirados das enchentes e dos bairros mais ricos da cidade estavam sendo despejados a poucos metros de distância. “Um governo que coloca o povo e o lixo no mesmo lugar. Isso é absurdo e um grande descaso com a população“, declarou a influenciadora Hallana Vitoria ao compartilhar imagens do espaço tomado por entulhos.
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No vídeo, Maria Heloísa, liderança comunitária na Vila Santa Rosa, que perdeu a casa com as enchentes, aparece relatando preocupação e indignação com o entulho. “Qual a saúde que as pessoas vão ter? Já são vários casos de leptospirose, vários casos de dengue, vários casos de doenças que isso não estão mostrando mas a gente sabe”, diz ela.
A pesquisadora e nutricionista ecológica Bruna Crioula classificou a ação da prefeitura de Porto Alegre como um exemplo de ‘racismo ambiental’, conceito que se refere à injustiça ambiental que afeta desproporcionalmente comunidades racialmente marginalizadas. “Tanto no que diz respeito à escolha do lugar onde acumularam entulho quanto a escolha do sambódromo para transferir pessoas desabrigadas já são exemplos de racismo ambiental”, diz ela. “A escolha do prefeito Sebastião Melo de colocar o lixo nessa região mostra a forma como se é pensado sobre o lugar do lixo. Eu vou colocar pessoas que estão vulnerabilizadas, que tiveram perdas ao lado do lugar onde estou colocando o lixo da enchente, o resto”.
Bruna também destaca a forma como o racismo ambiental está fortemente ligado às desigualdades socioambientais considerando a raça/cor de uma pessoa. “O que temos é uma região marginalizada que vai receber famílias pobres e desabrigadas que perderam tudo. Quanto mais à margem essas famílias estiverem menos aos olhos do poder elas estarão. Quando é que Porto Alegre vai se reconstruir para essas famílias?“, destacou. “Esse vídeo é uma denúncia sobre como o governo de Porto Alegre quer gerir a crise das enchentes: colocando pessoas que perderam tudo ao lado do lixo”.
A prefeitura de Porto Alegre, até o momento dessa publicação, não se manifestou sobre o caso.
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