A mágica do teatro está presente no lindo espetáculo de Quilombo MemORÍa que está sendo apresentado no Teatro Arthur Azevedo, na cidade de São Paulo.

Dois atores em cena: André Santos e Miriam Limma, que traduzem com leveza e alegria temas como ancestralidade, saúde da população negra, respeito entre gerações, aquilombamento e amor pela cultura negra.

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O texto de André Santos aborda com delicadeza e um bom ritmo de palco, que nos prende a atenção desde os primeiros gestos. Estamos diante de um jovem dramaturgo que promete bons criativos espetáculos para as próximas gerações.

A relação de intimidade, destreza e empatia entre dois atores André e Miriam é para se destacar. Que atores! Ficaria horas os vendo atuar.

A nova dramaturgia negra que tem se apresentado em São Paulo foge dos estereótipos de violência, dureza e sofrimento. Os temas são sérios, mas tratados com muita leveza, humor e inteligência.

André Santos e Miriam Limma (Foto: João Caldas)

O espetáculo trata da convivência entre a avó e seu neto durante a epidemia da COVID. O neto, num ato de coragem, sequestra a avó de um asilo e a leva para um quilombo, onde os dois passam o tempo a conversar e recuperar a memória.

Se “cada cabeça é um quilombo”, como diz Abdias do Nascimento, “aquilombar-se é o movimento de buscar o quilombo, formar o quilombo, viver em quilombo, sonhar em quilombo, tornar-se quilombo”. Ou seja, aquilombar-se é o ato de assumir uma posição de resistência de uma atitude política e rebelde.

ORÍ é um termo Yorubá que significa: a mente, a cabeça, a inteligência, a alma orgânica, a essência real do ser, uma intuição espiritual e destino.

A memória não é só o armazenamento de informações e fatos obtidos, mas principalmente experiências ouvidas ou vividas. O exercício de resgata-la é um ato de coragem e de resistência.

Com a idade avançada da avó, que começa a perder a memória, o neto a estimula para que ela conte histórias, fábulas africanas e depoimentos sobre sua vida pessoal.

A música do espetáculo com temas africanos, complementa a bela atuação dos dois atores. Músicas que nos levam a imaginação do ambiente de um recolhimento acolhedor, religioso e que nos leva a pensar na ancestralidade africana.

A direção do espetáculo é do ator, dramaturgo Eduardo Silva, mas a produção, figurino, coreografia, som, iluminação é uma criação coletiva negra. Quando você assiste você reconhece e identifica nos detalhes o esforço do conjunto de pessoas em apresentar um espetáculo, que pela complexidade dos temas, consegue entregar um belo resultado.

Eu sempre reverencio o esforço de apresentar um espetáculo teatral, quando é levado por um grupo de profissionais negros me encho de alegria e orgulho. Não deve ter sido fácil montar essa peça de teatro. O número de pessoas envolvidas, a sintonia na escolha dos atores, a juventude de um novo autor. Tudo isso e ainda conseguir espaço na concorrida cidade de São Paulo.

Gostei de ver a pujança e a criatividade do Devo assistir outras vezes, para manter vivo os belos detalhes do texto que recorrem a clássicos da literatura oral africana.

Fico sempre imaginando se as pessoas de ouras cidades terão a chance de ver esse espetáculo. Fico na torcida para que muita gente tenha o mesmo prazer que tive em conhecer essa bela obra.

Serviço: 

Temporada Teatro Arthur Azevedo – Sala Multiuso

Av. Paes de Barros, 955 – Alto da Mooca

Até 29/10

Apresentações com interpretação em libras: dias 15 e 27/10.

Quintas, sextas e sábados, às 20h, e domingos, às 18h

Ingressos gratuitos – Retirada uma hora antes do início do espetáculo na bilheteria

Estacionamento no local (sujeito à lotação) 

Duração: 70 minutos

Classificação indicativa: 10 anos

Informações: atendimento@kavantan.com.br

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