Texto do Griottes.Narrativas – Coletivo de mulheres negras roteiristas – @griottes.narrativas
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A matéria publicada na revista “Marie Claire” no dia 1º de Maio, Dia do Trabalhador, traz entrevista com oito diretoras que ocupam as disputadas cadeiras de direção artística na Rede Globo de televisão. Entre falas sobre feminismo e enfrentamento ao machismo, conquistas individuais são celebradas como coletivas. Mas a foto que ilustra a matéria coloca essa celebração em alerta.
Quando o título da matéria destaca “Mulheres no comando” e não “Mulheres BRANCAS no comando”, cria-se uma falsa sensação de igualdade. O título dá a entender que uma grande conquista foi feita por todas mulheres – quando, na verdade, é uma conquista única e exclusiva de mulheres BRANCAS, com sobrenome herdeiros de capital financeiro e artístico . Onde estão as mulheres negras? Onde estão as mulheres periféricas?
Está mais do que na hora de mulheres brancas questionarem-se sobre a conveniência do seu feminismo.
O feminismo que nos apaga e exclui não nos serve. Falar sobre a conquista de mulheres apenas com mulheres brancas não nos serve. É preciso enegrecer essa discussão. É preciso entender como o privilégio racial e, muitas vezes de classe, exclui mulheres.
Esse pacto velado e silencioso acordado entre pessoas brancas que afasta mulheres racializadas da possibilidade de ascensão e, consequentemente, dos espaços de poder, precisa ser questionado sempre. Afinal, antirracismo não é um mero discurso, é uma prática diária. Essa fala precisa tomar corpo e se transformar em ação e questionamento dos pares.
Nós, roteiristas negras, vemos com grande preocupação a ausência de diversidade racial entre aquelas que, em última instância, dão forma a nossa atividade de criar e contar histórias. Para além de contar as histórias produzidas pela emissora, os profissionais criativos neste processo são responsáveis pela memória audiovisual de nosso país e é assombroso que em 2020 o grupo de maior grupo de comunicação da América Latina siga contribuindo com o projeto de branqueamento do nosso imaginário.
Não à toa, o nome de Cleissa Martins, mulher negra, autora do especial de Natal “Juntos a Magia acontece” (foto de destaque) , foi apagado da matéria ao mesmo tempo em que o nome das autoras, Carla Faour e Julia Spadaccini, de “Segunda chamada”, mulheres brancas, foram exaltados.
Esse apagamento sistemático não se encontra apenas nas dependências da Rede Globo, mas em todas as demais emissoras e Players. Se fizessem uma foto com as mulheres no comando no SBT, Record, Band, Rede TV, HBO, Netflix, seria diferente?
Estamos enfrentando hoje uma das maiores crises humanitárias dos últimos anos. É um momento para reflexão sobre o mundo que queremos quando tudo isso passar. Começar a pautar questões raciais e fazer um compromisso com a diversidade (e por que não dizer proporcionalidade, já que somos 55,8% da população brasileira?) de fato pode ser um bom caminho para repararmos algumas das feridas deixadas pela escravidão e pela colonização, um processo que beneficiou e ainda beneficia a branquitude e seus herdeiros independente do gênero.
Griottes.Narrativas – Coletivo de mulheres negras roteiristas – @griottes.narrativas
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