Uma nova série original Netflix, com produção brasileira, foi apresentada ao público: “Samantha!”. Com data de estreia para 2018, a série é uma comédia ou, como chamam os americanos, um “sitcom”.
Quando vi esta foto de divulgação, fiquei empolgada demais! Só pude pensar: QUE TIRO! Uma família feliz, não é? Um pai negro, retinto, uma menina negra, uma família estruturada, um pai presente… “Nossa, vai ser ótimo, vai ser divertido, vai quebrar padrões!”. Foi o quê eu imaginei, até ler a sinopse de “Samantha!”.
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A série contará a história de uma ex-celebridade infantil da década de 1980, a Samantha. Decadente, ela tenta de tudo para voltar ao estrelato. Bem, agora se atentem para o personagem do homem negro: Dodói é um ex-jogador que acabou de passar 10 anos na prisão.
É isso! O cara negro é um ex JOGADOR DE FUTEBOL, que passou 10 anos na CADEIA! Muito revolucionário, não é? Quantas vezes homens negros foram vistos como bons só para os esportes ou como criminosos? Agora a Netflix fará o desfavor de juntar as duas coisas em um personagem só! E todo meu entusiasmo foi para o ralo, junto com a oportunidade desperdiçada de construir um homem negro além dos estereótipos racistas.
Fico me perguntando se esse personagem fosse um pai amoroso, se a série fosse construída, por exemplo, para a Samantha (a mãe), ser a “louca”, a desesperada pela fama, e o pai ser o que cuida dos filhos, o centrado, o responsável, será que teríamos o Douglas Silva ou qualquer outro ator negro no papel?
A Netflix tem “Greenleaf”, “Cara Gente Branca” e “The Get Down” entre suas séries originais. Ainda tem no catálogo produções como “Scandal” e “How to Get Away With Murderer”; séries pretas, com protagonismo negro, que quebram as expectativas, que subvertem o “óbvio”, que dão um tapa na cara dos racistas! Porém, nenhuma dessas é brasileira.
O quê eu me pergunto é: quando chegará a nossa vez? Quando poderemos ver uma família rica negra, brasileira, como em “Eu a Patroa e as Crianças” ou em “Um maluco no pedaço”, onde o patriarca negro é advogado, médico, empresário, juiz, cientistas ou qualquer outra coisa? Quando poderei consumir uma produção nacional onde o papel do preto não vai ser de entretenimento ou crime? E quando a mulher negra será valorizada? Quando elas estarão no centro das produções brasileiras?
Fugimos para as produções americanas, fazendo relações com o a nossa realidade brasileira, simplesmente porque não podemos contar com as produções nacionais (as voltadas para o grande público), não podemos contar que seremos representados além dos estereótipos, que a mulher negra terá um papel real de destaque, que o racismo será tratado de forma real, aberta e concreta.
A produção executiva de “Samantha!” é de Felipe Braga (criador da série) e Alice Braga. Não há, até onde fomos informados sobre a série, nenhuma pessoa negra envolvida na criação e/ou desenvolvimento da mesma. Isso faz toda diferença! Quando falamos em “Scandal” e “How to Get Away With Murderer”, por exemplo, que têm mulheres negras no centro da ação, quebrando expectativas, falamos da produção e roteiro de Shonda Rhimes, uma mulher negra.
É o que nos falta, é o que falta ao nosso mercado: espaço para produções negras, de verdade! Produtores negros, diretores negros, roteiristas negros. Já passou da hora de esses terem espaço para contar nossas histórias!
Não sei o que vai ser de “Samantha!”, a série pode ser um grande sucesso, pode ser engraçada, bem feita; ainda sim estará perpetuando o mesmo papel de sempre destinado aos homens negros e a mesma invisibilidade a mulheres negras. Então eu pergunto, de novo: Quando chegará a vez do Brasil preto?
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Advogado…médico….hum…a questão é: os jovens negros querem REALMENTE ser isso? Vejo uma juventude negra com acesso a Universidade (via cota) que simplesmente não pensa em ir para a Universidade. Aliás, acham a escola um saco. É duro dizer isso, mas paciência e foco são a chave para o sucesso. Abrir mão da roupa da moda, de horas de sono, do baile de sábado…Sinto muito, mas até brancos de classe média tem que fazer isso para obter sucesso. Tem coisa que só a gente pode fazer e isso não depende do ‘branco deixar’. Quando falo com jovens de Nova Iguaçu( bairro pobre do RJ), não vejo nenhum jovem negro com ‘sangue nos olhos’ para cursar uma universidade. O fim da vida escolar é o segundo grau e tá muito bom. São poucos o que querem ficar mais 4 anos estudando para conseguir um diploma universitário. Resumindo: o site mundo negro tem que sair um pouco desse discurso de ‘ELES blablabla’ e tentar descobrir pq nós não conseguimos ocupar o espaço na sociedade que nos é merecido. Acreditar que é só pq ELES não querem/gostam é simplificar o problema.
Adriana, o seu comentário reproduz TODO o racismo da nossa sociedade. Não existe “o interesse do jovem negro”, os jovens negros, assim como os jovens brancos, são DIVERSOS, e existem os que querem apenas curtir, existem os que querem estudar, existem os que querem e não podem, existem os que querem ser médicos, sim, juízes, cientistas… O fato de você nãos os conhecer, não significa que eles não existam, eu mesma conheço vários, eu mesma sou uma dessas pessoas. Então repense o que você diz e repense a sociedade em que a gente vive.
Greenleaf não é produção da Netflix, ela compra pronta do canal da Oprah, compra os direitos de retransmissão e daí diz que é dela. Acho que não seria tão boa se fosse da Netflix. Não tinha visto a sinopse de Samantha, e no Séries Por Elas também havíamos ficado empolgadas com a imagem de divulgação… =(
Fernanda, Greenleaf é produção Netflix sim porque esse é o esquema que eles usam para as séries originais. Uma produtora apresenta a eles o roteiro e, caso achem interessante, investem nele e o colocam como série original. A maioria das séries originais é assim.
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