Em meio a tensões diplomáticas, o presidente colombiano, Gustavo Petro, respondeu com veemência às sanções impostas pelo governo dos Estados Unidos sob a liderança de Donald Trump. A medida foi anunciada após a Colômbia inicialmente se recusar a aceitar deportados colombianos, apontando críticas ao tratamento dado aos imigrantes durante o processo de deportação feito pelos Estados Unidos.
Trump ameaçou taxar em até 50% os produtos colombianos exportados para os EUA, suspender a emissão de vistos para cidadãos colombianos e revogar permissões já concedidas. Em comunicado, a Casa Branca afirmou que as tarifas só serão aplicadas caso Bogotá descumpra o novo acordo firmado entre os países, que prevê a aceitação irrestrita de cidadãos deportados, inclusive em aeronaves militares americanas. O governo colombiano disponibilizou um avião oficial para buscar os imigrantes ‘sob condições dignas’, anunciou.
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Em resposta, Petro publicou um texto contundente em que abordou o histórico de exploração colonial, a resistência de povos indígenas e africanos e fez duras críticas à postura do presidente norte-americano. “A Colômbia agora deixa de olhar para o norte, olha para o mundo, o nosso sangue vem do sangue do Califado de Córdoba, da civilização daquela época, dos romanos latinos do Mediterrâneo, da civilização daquela época, que fundou a república, democracia em Atenas; Nosso sangue tem os negros resistentes transformados em escravos por você. Na Colômbia é o primeiro território livre da América, antes de Washington, em toda a América, lá me refugio nas suas canções africanas”, escreveu Petro.
O presidente colombiano destacou a relevância da Colômbia como “coração do mundo” e fez um apelo à valorização das contribuições culturais e históricas de seu país, citando figuras como Simón Bolívar e a riqueza da tradição indígena e africana. Em uma clara resposta à ameaça tarifária de Trump, Petro afirmou: “Se você impõe uma tarifa de 50% sobre o fruto do nosso trabalho humano, eu faço o mesmo. Que nosso povo plante o milho que foi descoberto na Colômbia e alimente o mundo”.
“Não posso permitir que migrantes permaneçam em um país que não os quer; mas se esse país os enviar de volta, deve ser com dignidade e respeito por eles e pelo nosso país”, escreveu. “Com a sua força econômica e arrogância, pode tentar levar a cabo um golpe de Estado como fizeram com Allende. Mas eu morro na minha lei, resisti à tortura e resisto a você. Não quero traficantes de escravos perto da Colômbia, já tínhamos muitos e nos libertamos. O que quero ao lado da Colômbia são os amantes da liberdade. Se você não puder me acompanhar, irei para outro lugar. A Colômbia é o coração do mundo e vocês não entenderam, esta é a terra das borboletas amarelas, da beleza dos Remedios, mas também dos coronéis Aurelianos Buendía, dos quais sou um deles, talvez o último”.
Deportações e reações
Após dias de intensas negociações, a Colômbia deve receber o primeiro grupo, composto por 160 pessoas sob condições dignas, segundo o chanceler colombiano. Um avião oficial foi disponibilizado para evitar o transporte nas condições consideradas degradantes utilizadas pelos EUA: “O governo colombiano garantirá que os cidadãos retornem como sujeitos de direitos”, declarou o chanceler em coletiva. Apesar disso, a retaliação americana sobre vistos permanece em vigor até a efetiva chegada dos deportados.
Petro também mencionou os mais de 15 mil americanos que vivem irregularmente na Colômbia, insinuando possíveis medidas contra eles. “Nosso povo saberá conquistar sua dignidade sem abrir mão da liberdade”, afirmou.
No último sábado (25), o Ministério das Relações Exteriores do Brasil classificou como “degradante” o tratamento recebido pelos brasileiros deportados dos Estados Unidos que chegaram a Manaus. Eles foram algemados em um voo comercial de deportação e denunciaram terem sofridos maus-tratos durante o voo, além disso, o avião, com os 88 passageiros brasileiros e mais 16 agentes de segurança norte-americanos, além de oito tripulantes teve que pousar em Manaus, capital do Amazonas, depois de sofrer com problemas técnicos.
Autoridades brasileiras ordenaram a retirada das algemas e o presidente da república, Luiz Inácio Lula da Silva ordenou que um voo da Força Aérea Brasileira (FAB) completasse a viagem. A ministra dos Direitos Humanos e Cidadania do Brasil, Macaé Evaristo, classificou como “graves” as denúncias feitas pelos migrantes brasileiros. À imprensa ela afirmou que as políticas imigratórias dos países não podem violar os direitos humanos.
Confira a declaração completa escrita por Petro após Trump anunciar a sanção:
“Trump, não gosto muito de viajar para os EUA, é meio chato, mas confesso que tem coisas que valem a pena, gosto de ir aos bairros negros de Washington, lá vi toda uma briga na capital dos EUA entre negros e latinos com barricadas, o que me pareceu estúpido, porque deveriam se unir.
Confesso que gosto de Walt Withman e Paul Simon e Noam Chomsky e Miller
Confesso que Sacco e Vanzetti, que têm o meu sangue, na história dos Estados Unidos, são memoráveis e os sigo. Eles foram assassinados por líderes operários com a cadeira elétrica, pelos fascistas que estão dentro dos EUA e também dentro do meu país
Não gosto do seu petróleo, Trump, vai destruir a espécie humana por causa da ganância. Talvez um dia, tomando um whisky, que aceito, apesar da minha gastrite, possamos conversar francamente sobre isso, mas é difícil porque vocês me consideram uma raça inferior e eu não sou, nem nenhum colombiano é.
Então, se você conhece alguém que é teimoso, sou eu, ponto final. Com a sua força econômica e arrogância, pode tentar levar a cabo um golpe de Estado como fizeram com Allende. Mas eu morro na minha lei, resisti à tortura e resisto a você. Não quero traficantes de escravos perto da Colômbia, já tínhamos muitos e nos libertamos. O que quero ao lado da Colômbia são os amantes da liberdade. Se você não puder me acompanhar, irei para outro lugar. A Colômbia é o coração do mundo e vocês não entenderam, esta é a terra das borboletas amarelas, da beleza dos Remedios, mas também dos coronéis Aurelianos Buendía, dos quais sou um deles, talvez o último
Você vai me matar, mas eu sobreviverei na minha cidade que é anterior à sua, nas Américas. Somos pessoas dos ventos, das montanhas, do Mar do Caribe e da liberdade
Você não gosta da nossa liberdade, ok. Eu não aperto a mão de traficantes de escravos brancos. Aperto a mão dos herdeiros libertários brancos de Lincoln e dos meninos camponeses negros e brancos dos Estados Unidos, em cujos túmulos chorei e rezei num campo de batalha, ao qual cheguei, depois de caminhar pelas montanhas da Toscana italiana e depois de salvar eu mesmo de cobiça.
Eles são os Estados Unidos e diante deles eu me ajoelho, diante de mais ninguém.
Faça-me presidente e as Américas e a humanidade responderão.
A Colômbia agora deixa de olhar para o norte, olha para o mundo, o nosso sangue vem do sangue do Califado de Córdoba, da civilização daquela época, dos romanos latinos do Mediterrâneo, da civilização daquela época, que fundou a república, democracia em Atenas; Nosso sangue tem os negros resistentes transformados em escravos por você. Na Colômbia é o primeiro território livre da América, antes de Washington, em toda a América, lá me refugio nas suas canções africanas.
A minha terra é da ourivesaria existente na época dos faraós egípcios, e dos primeiros artistas do mundo em Chiribiquete.
Você nunca nos dominará. O guerreiro que cavalgou nossas terras, gritando liberdade e cujo nome é Bolívar, se opõe
Nosso povo é um tanto medroso, um tanto tímido, é ingênuo e gentil, amoroso, mas saberá conquistar o Canal do Panamá, que você nos tirou com violência. Duzentos heróis de toda a América Latina jazem em Bocas del Toro, atual Panamá, antiga Colômbia, que você assassinou.
Eu levanto uma bandeira e como disse Gaitán, mesmo que fique sozinho, ela continuará a ser hasteada com a dignidade latino-americana que é a dignidade da América, que o seu bisavô não conhecia, e o meu sim, Senhor Presidente , um imigrante nos Estados Unidos,
Seu bloqueio não me assusta; porque a Colômbia, além de ser o país da beleza, é o coração do mundo. Eu sei que você ama a beleza como eu, não a desrespeite e ela lhe dará sua doçura.
A COLÔMBIA ESTÁ ABERTA AO MUNDO TODO A PARTIR DE HOJE, DE BRAÇOS ABERTOS, SOMOS CONSTRUTORES DE LIBERDADE, VIDA E HUMANIDADE.
Eles me informaram que vocês colocaram uma tarifa de 50% sobre o fruto do nosso trabalho humano para entrar nos EUA, eu faço o mesmo.
Que nosso povo plante o milho que foi descoberto na Colômbia e alimente o mundo”
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