
Por: Rachel Maia
O Brasil é o país com a maior população negra fora do continente africano. Segundo o Censo Demográfico de 2022, mais de 56% da população brasileira se declara preta ou parda, o que corresponde a mais de 112 milhões de pessoas. Apesar disso, a presença negra nas esferas de poder político ainda não acompanha a força demográfica.
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Esse cenário cria a expectativa de que a composição política reflita de forma mais fiel a realidade racial brasileira. No entanto, a comparação entre a população e a representatividade política expõe um déficit estrutural que precisa — e pode — ser transformado.
As eleições de 2026 serão um marco para avaliar se o país está disposto a avançar em direção a uma sociedade mais justa, capaz de alinhar desenvolvimento econômico, inclusão social e preservação ambiental. Não se trata de erguer muros ou reforçar separações, mas de construir pontes de união pelo Brasil, pelas futuras gerações e pelo planeta que habitamos — razões maiores da nossa existência e pertencimento.
Assim como tenho reforçado a importância da diversidade nas empresas, esse princípio é ainda mais urgente na política, de onde partem todas as decisões que afetam diretamente nossas vidas. É justamente o impacto que sofremos que deve orientar a luta por mais representatividade, garantindo que as vozes da maioria estejam no centro das escolhas que moldam o futuro do país.
Representatividade no Legislativo
Nas eleições de 2022, de acordo com dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), houve recorde de candidaturas de pessoas negras: 14.712, o que representa 50,27% dos inscritos — um aumento significativo em comparação a 2018, quando o índice foi de 46,4%. Também houve crescimento de 11,4% no número de candidatos eleitos em relação ao mesmo período, um marco transformador para a população brasileira. Na Câmara dos Deputados, entre 2023 e 2026, somam-se 135 parlamentares autodeclarados pretos ou pardos, de um total de 513, representando 26,3%.
Embora esse índice represente um avanço em relação a 2018, ainda está muito aquém dos 56% da população brasileira que se declara negra. O recorte de gênero e raça torna a desigualdade ainda mais evidente: em 2018, apenas 13 mulheres negras foram eleitas deputadas federais; em 2022, esse número subiu para 29. Um crescimento relevante, mas ainda pequeno diante da participação social e econômica que as mulheres negras efetivamente representam no país.
Desafios Estruturais
Nas eleições municipais de 2024, candidatos pretos e pardos representaram 52,7% das candidaturas para cargos de prefeito, vice e vereador. Apesar disso, a vitória nas urnas não acompanhou a proporção das candidaturas, revelando impedimentos estruturais de acesso a financiamento, redes de apoio e tempo de propaganda.
A desigualdade se explica por múltiplos fatores, desde a sub-representação persistente até a invisibilidade gerada pelo racismo estrutural. E é aqui que precisamos atuar insistentemente. É necessário que todos se conscientizem de que a união será a nossa maior ferramenta. Promover educação, saúde, empregabilidade e acesso a bens culturais e materiais para todos os brasileiros é um desejo que precisa ser compartilhado e praticado simultaneamente.
Fortalecer políticas afirmativas, garantir financiamento proporcional, ampliar espaços de formação política e combater o racismo institucional são caminhos para reduzir esse déficit democrático. O futuro da política brasileira depende da construção de um modelo em que negros e negras possam não apenas ocupar cadeiras, mas também influenciar agendas, decisões e políticas públicas que impactam a vida da
população.
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